A entrada de Cícero foi quase um ato de desespero de Renato. Jailson, já punido com cartão amarelo, havia corrido risco de expulsão ao cometer falta forte em Martínez. Percebendo que poderia ficar com um jogador a menos, o treinador gremista acionou um de seus homens de confiança, aos 26 minutos. Ao perceber que o habilidoso e versátil meia, fundamental em sua campanha de vice-campeão da América com o Fluminense em 2008, estava em litígio com o São Paulo, o técnico pediu sua contratação. Mesmo que só pudesse jogar quatro ou seis partidas, as da Libertadores e, se tudo continuar dando certo, as do Mundial.
Um minuto depois de entrar para substituir um volante pendurado, Cícero levou cartão amarelo.
Um minuto depois de Cícero levar o cartão amarelo, Renato chamou seu outro homem de confiança. Jael é alvo de ira de parte da torcida, é raro passar um jogo sem ser vaiado, cada lance se transforma em um meme e viraliza. No ano inteiro (ainda que tenha perdido quase metade por causa de uma lesão), não fez gol. O técnico não quis saber: tirou o badalado Barrios, uma das maiores estrelas do Grêmio, completamente inoperante em campo, e colocou seu atacante.
Oito minutos depois das duas substituições, Edilson ergueu a bola na direção da área. Foi a única vez que a defesa do Lanús estava desarrumada. Jael saltou meio corpo a mais do que os dois jogadores argentinos que saíram para atacá-lo e desviou. Cícero entrou na área, como costumava fazer nos tempos de Fluminense, e desviou. A bola ainda tocou no sovaco do goleiro Andrada, quicou, quicou e entrou.
Foi a senha para o urro da arquibancada. O grito era um misto de comemoração e alívio. Comemoração, claro, pela vantagem na partida de ida da final da Libertadores, que dá ao Grêmio a chance de ser tricampeão com um empate na Argentina. Alívio porque o jogo foi complicado, encardido, nervoso e quaisquer outros adjetivos que completem um cenário de muita tensão.
— Espero ter seis jogos no Grêmio, sou feliz aqui. Quero jogar o Mundial. Sabemos que eles são muito fortes na casa deles, mas nossa equipe é copeira fora. Espero que a gente encaixe nosso estilo de jogo lá para conseguir o título — comentou o autor do gol.
Mas é preciso fazer justiça: esse gol de Cícero com assistência de Jael só foi o da vitória porque no primeiro tempo, outra estrela brilhou. Ainda que esta já esteja bem clara há bastante tempo. Mais uma vez Marcelo Grohe fez um milagre.
Na semifinal, contra o Barcelona, Grohe fez o que jornais estrangeiros chamaram de A Defesa do Século, todos lembram. Pois, na final, quando o Lanús enrolava o Grêmio, o camisa 1 emulou Gordon Banks. Um escanteio cobrado para a área encontrou a cabeça de Braghieri, de cima para baixo, com força, partindo da linha da pequena área. Apesar de o zagueiro argentino ter feito tudo certo, a bola acabou interceptada centímetros antes de cruzar a linha. Uma defesa nota 9 na escala Marcelo Grohe de defesas improváveis.
O goleiro é um dos grandes heróis da Era Renato. Da grande participação na estreia do técnico, oitavas de final da Copa do Brasil do ano passado, à decisão da Libertadores, é decisivo em toda a campanha. E, a ele, juntou-se a estrela do técnico, que escala um time e, de suas trocas, saem os autores dos gols. O sonho do tri fica mais próximo assim.