Eduardo Gabardo e Marco Souza
A goleada sobre o Barcelona-EQU começou a ser construída ainda no último domingo, na derrota para o Palmeiras. Renato observou atentamente a reação de Luan e Michel. O primeiro, apesar de não ter um jogo exuberante, deu mostras de que estava próximo do jogador que tanta falta fez nos últimos dois meses ao time. O volante teve um boa atuação, mas sua condição física poderia ser um problema frente a um adversário que faria um dos maiores jogos da sua história.
A decisão sobre a escalação foi tomada na terça-feira, após Renato definir que não arriscaria colocar dois jogadores voltando de lesão em uma partida que teria alto grau de intensidade. A estratégia do Grêmio era bem clara e foi apresentada aos jogadores: era fundamental fazer gols contra o Barcelona-EQU. Por isso, quando Luan abriu o placar aos sete minutos, o camarote que abrigava aos dirigentes comemorou como se fosse um título. Jael, Cristian, Bruno Grassi, Thyere, Kaio, Beto da Silva e Arroyo pulavam e se abraçavam.
Quando Edilson marcou o segundo gol da partida, em cobrança de falta contra o imóvel goleiro Banguera, a comemoração foi mais discreta. Quase como se os gremistas não acreditassem no rumo que a partida havia tomado. O domínio do Grêmio foi absoluto, mas o Barcelona-EQU tinha criado uma atmosfera ameaçadora com o estádio cheio e uma torcida que não parava de gritar. A pressão era tanta que alguns gremistas ilustres comentaram entre si no camarote:
— Acho que vamos levar um gol neste segundo tempo.
A previsão se mostrou errada, ainda mais depois que Marcelo Grohe fez a maior defesa da sua carreira, como ele próprio definiu. O preparador de goleiros Rogério Godoy, o Rogerião, comemorou no banco de reservas como se seu atleta tivesse feito um gol.
Na sequência, Luan aproveitou uma grande jogada de Edilson e deu a punhalada fatal nas esperanças dos equatorianos. Ariel Nahuélpan, substituído, deixou o gramado rumo ao banco de reservas. Parou no caminho e liberou sua frustração chutando uma garrafa de água.
Após o apito final do árbitro Néstor Pitana, os jogadores não conseguiam conter a felicidade com a vitória. Mas bastava aproximar um microfone, celular ou câmera, que os semblantes se fechavam, e o discurso de respeito ao rival e de que a vaga na final não estava garantida se multiplicavam. Nem mesmo Edilson, que deixou o jogo com dores, parecia preocupado. A saída do jogo foi mais uma precaução para evitar problemas maiores futuramente.
O vice de futebol Odorico Roman fez a frase que resumiu o discurso das entrevistas do pós-jogos do Grêmio:
— A soberba é a inimiga da classificação.
Luan, com o sorriso de um garoto, respondeu com toda sinceridade a uma pergunta em espanhol de um repórter equatoriano que aguardava a passagem dos jogadores do Grêmio na modesta zona mista do Estádio Monumental Romero Isidro Carbo:
— Não compreendo — disse, rindo, enquanto seguiu sua caminhada ao ônibus.
Abraçado ao troféu de melhor da partida concedido pela Conmebol, parou para atender a Zero Hora e ao repórter Fernando Becker, da RBS TV.
— A gente voltou a jogar o futebol que apresentamos na maior parte do ano. Conseguimos fazer o resultado fora de casa. Minha preocupação era pegar ritmo. Tenho a cabeça boa. Independente da decisão ou não, consigo ficar tranquilo para fazer o melhor dentro de campo.
Na chegada ao aeroporto, atrasada em 15 minutos para permitir mais tempo de descanso aos jogadores, três membros da delegação foram recebidos com aplausos pelos torcedores que esperavam a chegada do avião que retornaria o grupo a Porto Alegre.
Primeiro, foi Renato que entrou no saguão acompanhado do executivo André Zanotta. Ao ouvir o nome gritado, seguido da salva de aplausos, o técnico fez um rápido sinal com a cabeça e acelerou o passo rumo ao espaço reservado à delegação gremista.
Depois chegou Luan, que saía tranquilamente da Free Shop, antes de ser cercado por torcedores pedindo selfies, autógrafos ou um sinal de atenção do artilheiro da partida. Marcelo Grohe também recebeu o carinho da torcida ao entrar na área do portão de embarque do aeroporto de Guayaquil.
Quando comissão técnica, jogadores e direção se acomodaram no avião, instantes antes da decolagem, um torcedor gritou:
— Vamos aplaudir eles, gente. Parabéns a todos pela vitória.
O restante dos torcedores acompanhou o pedido, e com gritos de "Grêmio, Grêmio" e "Renato, Renato" para homenagear o grupo.
Ao contrário do voo de ida ao Equador, as seis horas de viagem de volta a Porto Alegre foram muito mais tranquilas. O cansaço depois de um dia tão movimentado foi percebido nas primeiras horas. Até que o lanche fosse servido, já passadas das oito horas da manhã de ontem, o silêncio era total.
Somente Cristian, Fernandinho e Everton parecem não ter aproveitado o tempo para dormir. O volante, principalmente, passou boa parte do voo em pé, conversando e rindo com os companheiros. Renato e Luan não fizeram cerimônia: entraram no avião e foram descansar até a aeronave estar próxima de Porto Alegre.
— O nosso vestiário era um clima de felicidade só. Imagina, estávamos indo lá com o plano de jogar fechadinho para tentar vencer com um gol— comentou Paulo Victor.
Já em Porto Alegre, enquanto esperava pelas bagagens, o presidente Romildo Bolzan resumiu o sentimento com a vitória sobre o Barcelona-EQU na delegação do Grêmio:
— Nosso ambiente é de missão cumprida. Mas temos que voltar com tudo ao trabalho. Temos o Avaí no domingo.