Por Adriano de Carvalho e Luís Henrique Benfica
Tão rápida quanto o reflexo do goleiro para impedir a conclusão de Ariel, a defesa de Marcelo Grohe contra o Barcelona-EQU cruzou o planeta. Em suas versões digitais, poucos minutos após a partida em Guayaquil, jornais de diversos países destacaram o feito do goleiro do Grêmio. "O goleiro brasileiro reabriu a discussão sobre a melhor defesa de todos os tempos", chamou o inglês The Sun.
Multicampeão pelo Grêmio, o atual deputado federal Danrlei havia acabado de votar a favor da continuidade da ação contra o presidente Michel Temer quando viu o lance pela televisão. Na hora, lembrou de um Gre-Nal disputado em 2003, quando foi eleito o melhor em campo e recebeu nota 10 de Zero Hora.
— Foi uma defesa extraordinária. É só uma vez na vida. Joguei 600 partidas para somente uma vez acontecer isso— comparou o ex-goleiro.— Essa mesma jogada deve ter acontecido umas cem vezes em treinos e em todas a bola entrou.
Admirador de Marcelo Grohe, que, como ele, precisou superar a barreira do jogador formado até se firmar, Danrlei espantou-se com a velocidade para executar a defesa e sua intuição para perceber o lado em que seria desferido o chute.
— Ele colocou o braço firme. Caso contrário, a bola bate e entra. Se, para quem olha, tudo transcorre em um segundo, para nós é como se tivéssemos 10 segundos para pensar de que forma vamos saltar. É um prêmio para quem treina muito, sob sol e chuva.
Tetracampeão em 1994 e atual treinador de goleiros da Seleção Brasileiro, Claudio Taffarel pretendia nesta quinta-feira (26) telefonar para Grohe e parabenizá-lo por seu feito. Ao mesmo tempo em que ressalta a coragem do goleiro do Grêmio, discorda de quem acha que a defesa foi mais bonita do que a do inglês Gordon Banks na cabeçada de Pelé em 1970.
— Aquela foi diferente, mais elástica. A de Grohe foi mais para o lado da coragem e da fé. Depois, revelou-se uma defesa técnica, porque a bola ficou perto dele. Foi impressionante o que ele fez— avalia Taffarel.
Sobram elogios do treinador de goleiros tanto para Grohe quanto para o seu preparador, Rogério Godoy. Taffarel, contudo, esquiva-se em afirmar se a defesa que encantou o planeta pode ser uma alavanca para futuras convocações:
— Tudo vai depender da sequência de jogos. Até porque o trabalho de qualquer jogador sempre é analisado a longo prazo.
Primeiro goleiro campeão da América pelo Grêmio, em 1983, Mazaropi compara a defesa histórica de Grohe com outros dois momentos marcantes que resultaram nos dois títulos de Libertadores que o clube detém. Na primeira conquista, um pênalti cobrado pelo colombiano Ortiz, defendido por ele, no triangular da semifinal contra o América de Cáli, da Colômbia, no Olímpico, garantiu a vitória por 2 a 1 e encaminhou a vaga na decisão contra o Peñarol.
Em 1995, nas quartas, após aplicar 5 a 0 em casa no endinheirado Palmeiras, à época patrocinado pela Parmalat, que contava com nomes como Mancuso, Cafu, Paulo Isidoro e Müller, o Grêmio quase foi eliminado no jogo de volta, no Parque Antarctica, ao perder por 5 a 1. Não fosse o gol de Jardel, nos primeiros minutos de jogo, o time de Felipão não teria se classificado e, posteriormente, conquistado o bicampeonato.
— É uma defesa que só os grandes fazem, quem tem competência e qualidade. É um dos lances que determinam uma conquista. Você nunca pode se entregar, tem que sempre tentar algo para fazer a defesa. É nestas horas que aparece o grande jogador — observa Mazaropi.
Contemporâneo de Grohe nas categorias de base do Grêmio, Galatto, que ficou marcado na história do clube pelo histórico pênalti defendido contra o Náutico na Batalha dos Aflitos, em 2005, que marcou o retorno da equipe à Série A do Brasileirão, diz que o amigo fez a "defesa do século" em Guayaquil. E destaca o trabalho feito pelo preparador Rogério Godoy para deixar Grohe com os reflexos apurados.
— Ele se atirou com os braços abertos e diminuiu o espaço para o Ariel fazer o gol. Este tempo rápido de reação você obtém com treinamento. Na hora do jogo, precisa estar preparado — comenta.
O ex-goleiro do Grêmio chega a comparar a técnica de Grohe na defesa com a de um goleiro de handebol, que realiza o "X" com os braços e pernas para diminuir o espaço dos atacantes na frente do gol.
— É semelhante no aspecto de ganhar amplitude para tampar a goleira. Ele viu que não ia dar tempo para uma defesa normal e se atirou. Fez uma leitura rápida e inteligente. Na hora, não tem muito como pensar. É ação e instinto — entende Galatto.
Mesmo que os gols contra o Bacelona-EQU tivessem sido marcados por Luan e Edilson, é na defesa de Grohe que ainda vai se falar por muitos dias.