É a 10ª rodada do Gauchão, os dois times estão na parte de cima e levarão vantagem para os primeiros mata-matas. É um domingo de verão, com previsão de sol e calor no litoral — e mais ainda em Porto Alegre. É o primeiro de uma temporada que certamente terá três, mas poderão ser nove.
Os times ainda estão em formação, algumas das principais contratações não chegaram ou estão lesionadas. Não faltariam argumentos para diminuir o Gre-Nal 441, marcado para 18h de domingo, no Beira-Rio. Mas só fala algo assim quem não sabe o que vale um Gre-Nal. Que pouco, ou nada, importam escalação, local e fase. Nem competição. Até porque o clássico, já diz o clichê, é um campeonato à parte. E aí, já é uma espécie de decisão.
Mas vamos desmanchar os argumentos. A 10ª rodada pode ser decisiva para o futuro do campeonato. Se o Inter vencer, terminará a primeira fase em primeiro lugar. E se for à final, só não decidirá no Beira-Rio no seguinte cenário: empatar todos os jogos até a decisão, Grêmio como oponente e com 100% de aproveitamento até a decisão. Basicamente, uma vitória no clássico pode devolver a casa colorada ao palco da finalíssima do Estadual. Do lado do Tricolor, uma vitória dará a liderança da primeira fase e a chance de depender só de si para levar uma eventual final para a Arena.
E o Gauchão cresceu em importância especialmente pela sequência do Grêmio. O hexa permite ao Tricolor sonhar em repetir o hepta, o que não ocorre desde 1968 e em buscar a marca histórica do Inter, o octa, de 1969 a 1976. Centroavante daquele Inter, Dadá brincou, em entrevista a GZH:
— Esse título marcou muito porque foi em um Gre-Nal em que a torcida do Grêmio vaiou "Rei Dadá". Vai enervar uma onça querendo dar comida para as crias? Aí fica ruim.
João Severiano, o Joãozinho, um dos heróis do hepta tricolor, diz:
— O Inter já tinha sido hexa, e isso incomodava a torcida do Grêmio. Quando empatamos, a festa foi tão grande que saímos de Pelotas umas 18h e, quando chegamos na ponte do Guaíba, por volta de 22h, estava tudo tão trancado que só fui aparecer em casa às 5h. Até hoje dou explicação em casa sobre isso. Conseguimos inverter a brincadeira no hepta. E agora estou torcendo para que o Grêmio seja octa.
O clássico mobiliza. Por mais que seja verão, calorão daqueles, as torcidas estão mobilizadas. Todos os ingressos vendidos. São esperadas 48 mil pessoas no Beira-Rio.
Outra prova de que o Gre-Nal vale muito é a postura dos dois times. Em uma semana cheia de treinos, quase nenhuma atividade foi aberta. Há mistérios do goleiro ao centroavante, em ambos os times. E esse climinha de segredo alimenta o peso do clássico.
Que já tinha esquentado com provocações entre dirigentes e que envolveu até Renato Portaluppi. Que aumenta com qualquer projeção que se faça, até mesmo brincadeiras como o mano a mano, tão popular em veículos de imprensa e torcedores.
Isso não deve afetar tanto os jogadores. Como também será visto em GZH, a dupla Gre-Nal tem 32 atletas que vestiram camisas de seleções, disputando competições importantes na base ou convocados nas equipes principais.
Mas mesmo esses atletas experientes sabem o que vem por aí. Um Gre-Nal, mesmo pela 10ª rodada, deixa alguma história. E, para finalizar com mais um clichê: arruma e desarruma a casa. Por isso, tem cara de decisão. Como sempre.