Do outro lado do Mampituba, o futebol parou três dias depois de recomeçar. A supensão do Campeonato Catarinense a mando do governo do Estado vizinho deixou com atenção redobrada todos os demais torneios em vias de recomeçar. A razão para a decisão: 14 integrantes da delegação da Chapecoense testaram positivo para covid-19.
Para aumentar o problema, os exames foram realizados antes da primeira partida diante do Avaí, pelas quartas de final do Estadual, disputada na quarta-feira passada. Os resultados só saíram na sexta-feira. Assim, se algum dos infectados entrou em campo (o clube não divulgou os nomes dos positivados), teve contato com o time adversário. Apesar disso, nenhum dos testados do Avaí teve resultado positivo.
Na Chapecoense, o único que confirmou ter a doença foi o atacante Roberto, 29 anos. Com falta de ar, precisou ser internado em um hospital da cidade do oeste catarinense, e está em observação. No Instagram, postou a frase "Maior desafio da vida". Domingo, dirigentes fizeram uma reunião virtual para anunciar, hoje, medidas a respeito do caso. Não há previsão para a retomada do Campeonato Catarinense.
O fato deixa em situação de alerta o Rio Grande do Sul, mas não muda o planejamento. A Federação Gaúcha de Futebol (FGF) mantém a data de 23 (com possibilidade de 22) de julho para a bola voltar a rolar. E conta com um trunfo importante: a diferença de seu protocolo na comparação com o catarinense.
Mesmo que em muitos aspectos os dois documentos sejam bem semelhantes, como no número de integrantes em cada delegação, necessidade de higienização constante, redução dos demais profissionais, pouca utilização de vestiários e demais ambientes comuns, existe um ponto bem diferente: o confinamento. No modelo de segurança sanitária previsto para o Gauchão, os integrantes das delegações que participarão das partidas ficarão em regime de concentração. E para poder entrar nesse isolamento, precisarão passar por testes para covid-19.
— O laboratório que fará os testes nos assegurou resultados em tempo hábil para ingressar no confinamento — explica o presidente da FGF, Luciano Hocsman.
A medida é mais severa, inclusive, do que a CBF estipula para suas competições. A Confederação prevê uma série de medidas sanitárias, principalmente no que diz respeito às testagens, mas não exige concentração antecipada ou duradoura, apenas o afastamento e o monitoramento de casos positivados.
A Federação entregou para cada clube do Interior uma carga de 100 testes. A orientação era executar em todos os envolvidos antes de recomeçar os treinos. Depois, a periodicidade de novas testagens ficou a cargo dos clubes. Alguns, como Inter e Grêmio, realizaram a cada 20 dias ou em casos excepcionais (jogadores alegando problemas, contatos externos etc.). Outros espaçaram mais ou adquiriram novos, como no caso do São Luiz. Por último, todos os times precisarão testar os atletas antes dos jogos.
Em tese, o confinamento reduzirá o contato com o mundo exterior, o que deveria facilitar o controle. O período de isolamento se dará de acordo com o andamento da competição. Para oito ou nove clubes, portanto, será de até uma semana. Depois, os semifinalistas do turno passarão por uma nova bateria de exames. Os finalistas, por mais outra. Se houver uma decisão entre o campeão do primeiro turno (Caxias) e o do segundo, mais uma rodada de testagens.
— Pautamos tudo para minimizar os riscos — finaliza Hocsman.
Em caso de resultado positivo, o atleta deverá ser afastado da delegação e permanecer em isolamento. Os profissionais que tiverem negativado poderão seguir trabalhando com os demais.
A medida é considerada adequada por especialistas. A tal "bolha epidemiológica" criada no futebol é a melhor alternativa para retomar essa "atividade econômica". O cenário atual gaúcho mostra um aumento na contaminação, então estatisticamente as pessoas estão mais suscetíveis a contraírem o vírus.
— A rigor, é um trabalho que deveria ser feito no país, como foi com Alemanha e Coreia do Sul. Testar uma parcela significativa de uma população constantemente, monitorar casos positivos e mapear suas relações (familiares e pessoas que manteve contato). O futebol, fazendo isso, no final, será um grupo bem acompanhado, que poderá servir como estudo em taxa de transmissão e outros fatores — avalia o infectologista Gabriel Narváez.
Ele alerta, porém, para a restrição do esporte. Segundo o especialista, trata-se de dar condições de trabalho a um grupo de pessoas. Isso não significa que torcedores, por exemplo, estejam envolvidos. Partidas com público são uma realidade ainda bastante distante do momento brasileiro.