A volta do Gauchão cercada de polêmicas em razão da pandemia de coronavírus teve mais um capítulo nesta terça-feira (21), véspera do Gre-Nal, quando Grêmio e Inter anunciaram casos positivos de covid-19 em seus grupos — um atleta em cada. Os jogadores, que não tiveram nomes divulgados, foram afastados dos elencos, mas a partida está confirmada para esta quarta-feira (22), às 21h30min, no estádio Centenário, em Caxias do Sul. A realização do jogo, no entanto, gera questionamentos de especialistas.
Para a confirmação do jogo, a dupla Gre-Nal seguiu o protocolo montado pela Federação Gaúcha de Futebol (FGF) e aprovado pelo governo do Estado, que determina que apenas os jogadores contaminados com covid-19 devem ser afastados. Nesta terça, a FGF anunciou que fará uma nova fase de testes em todos os elencos antes da rodada do final de semana, mas descartou o adiamento do clássico.
A medida gera questionamentos de especialistas. Há o entendimento de que mesmo atletas que testaram negativo podem ter contraído covid-19. Afinal, eles teriam tido contato com o companheiro infectado pelo novo coronavírus — o que pode gerar novas contaminações.
— Claro que o ambiente ao ar livre é diferente, diminui o risco, mas futebol é esporte de contato muito próximo. Que seja um metro de distância, com a respiração elevada, em exercício, emite-se ainda mais gotículas. Então um contaminado pode espalhar (o vírus) no próprio campo. Em situação de marcação, aglomeração de escanteio na área... existem inúmeras oportunidades para contágio na prática. As testagens rotineiras apenas permitem que você detecte mais precocemente um caso, evitando que ele transmita para um número maior de indivíduos — avaliou o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor de infectologia da UFRGS Alexandre Zavascki.
O chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz, entende que o risco de contagio no ambiente de um jogo ou treinamento é pequeno pelo fato de que os atletas infectados estavam assintomáticos e que o contato ocorre em ambiente aberto. O especialista, no entanto, ressalta que uma certeza sobre se ocorreu ou não o contágio de outros atletas só se dará com novos exames, que terão de ser realizados, pelo menos, três dias após a testagem anterior.
— O tempo de incubação tem uma média de três a cinco dias, mas pode ser de até sete dias. O ideal seria um teste em três dias. Como teve positivo, essa nova testagem deve ser realizada para excluir a eventualidade de que algum jogador possa ter sido exposto e contaminado — apontou Sprinz.
Decisão da prefeitura de Pelotas cancelou Bra-Pel
Um jogo marcado para a rodada de retomada do Gauchão não será realizado. O clássico Bra-Pel foi adiado porque um atleta do Pelotas testou positivo para o novo coronavírus. Em acordo dos clubes com a prefeitura da cidade da zona Sul do Estado estava previsto que os treinos — e, por consequência, os jogos — teriam de ser suspensos no município no caso de um atleta que realizou um trabalho coletivo testar positivo.
— Em tese, o que Pelotas fez está certo. O que está acontecendo agora é um ciclo. Se a ideia é deixar os atletas sem contato com outras pessoas, uma pessoa positiva pode ter transmitido para os demais atletas. Mesmo o assintomático pode transmitir — observa o professor de Epidemiologia da UFRGS e coordenador da Gerência de Risco do HCPA Ricardo Kuchenbecker.
O protocolo da FGF tem como base medidas adotadas por outros torneios de futebol retomados em meio à pandemia de coronavírus. No Campeonato Carioca, encerrado na última quarta-feira, os clubes também afastaram apenas jogadores contaminados sem cancelamento de treinos ou de jogos .