A vitória por 2 a 0 sobre o Novo Hamburgo, na quinta rodada, em 5 de fevereiro, representou o alívio de um time que era apontado como candidato ao rebaixamento. O clima foi de festa no vestiário do São Luiz. Cumprimentos, abraços. Um a um, os jogadores começaram a se despedir, encontrar as famílias. Era hora ir para casa. Luzes apagadas, portões fechados. Silêncio do estádio vazio. Mas Paulo Gianezini não saiu, não pegou o carro. Alguns passos escada acima, atravessou a primeira porta, a segunda, e deitou confortavelmente em sua cama, embaixo da arquibancada. O goleiro e outros oito jogadores moraram no Estádio 19 de Outubro, em Ijuí, durante todo o Gauchão 2019.
— Não vale a pena alugar um apartamento, providenciar água, luz e internet para passar apenas três ou quatro meses aqui — explica Gianezini.
São quatro quartos, cada um com três camas, armários, televisão, geladeira e ar-condicionado, que acomodam, pelos mais diversos motivos, jogadores que optaram por morar no estádio. O banheiro é um só. No corredor. Tem fila para escovar os dentes. Um espelho com uma rachadura na parede reflete a superação diária que é a vida desses caras. No fim do corredor, uma sala com mesa de sinuca é a diversão noturna.
Lá pelas tantas, uma buzina na rua chama a atenção. É o entregador de pizza. Todos têm as chaves do portão do estádio. Um desce pra buscar. Já está acostumado com a cara de espanto do motoboy ao perceber o endereço da entrega.
Além dos jogadores, um funcionário vai para o sexto ano vivendo no estádio. Helder Lopes é roupeiro do São Luiz. A esposa e a filha moram em Santo Ângelo. Ele conta que a saudade é grande, mas, sempre que tem uma folguinha, corre para vê-las. Quase sempre encara a estrada de madrugada. Nada que todo o elenco não esteja acostumado. O São Luiz, semifinalista do Gauchão, foi o clube que percorreu a maior distância: mais de 7 mil quilômetros pelo Estado.
Helder, assim como muitos jogadores e integrantes da comissão técnica, encara o Gauchão com uma preocupação na cabeça: o segundo semestre. Há anos só tem trabalho fixo nos primeiros seis meses. Depois, o futebol profissional não tem atividades e ele fica sem trabalho.
— Aí é procurar alguma coisa ou viver do seguro-desemprego — lamenta o roupeiro. — Muitas vezes, pinta até o futebol amador — completa.
Mas por que continuar nesta vida, afinal de contas?
— Porque gosto de fazer o que eu faço — responde Helder.
— Estou vivendo daquilo que eu sonhei desde pequeno — complementa Paulo Gianezini.
Neste ano, o goleiro teve sorte. Não chegou nem a jogar a segunda partida da semifinal do Gauchão. Foi contratado pelo Criciúma e vai disputar a Série B do Campeonato Brasileiro.
Já o São Luiz, em 2019, não tem mais atividades. Por causa da boa campanha neste Gauchão, o clube ganhou vaga na série D do Brasileirão 2020. Enfim, terá a chance de atuar o ano inteiro.