O muro que separa o Estádio dos Eucaliptos, em Santa Cruz do Sul, das casas vizinhas tem quase quatro metros de altura. Os chutes mais fortes no treino do Avenida fazem a bola parar do outro lado. Quando isso acontece, lá vai o Queixo. Com uma destreza impressionante, corre, toma impulso e busca a pelota.
Denis Camargo é o "faz tudo" do clube. Apareceu saltando o paredão em uma transmissão do Gauchão na RBS TV. Foi parar até no Fantástico, da Globo. Ele corre para atender jogadores e comissão técnica. Após os treinos, canta e toca violão no vestiário.
Longe do glamour dos salários milionários, a logística para organizar a temporada em um clube do interior fica a cargo de uma ou duas pessoas. No Avenida, Ramon Pedreira organiza tudo:
— Temos 18 apartamentos alugados na cidade — conta.
O atacante Flávio Torres ocupa um deles. Formado em Educação Física, começou a jogar com 22 anos. Há três, circula pelo Rio Grande do Sul. Vive sozinho aqui.
O imóvel tem um quarto. Roupas divididas entre um armário e uma cômoda. Na visita ao Flávio, pedimos pizza enquanto assistíamos ao futebol na TV. Os pratos? Pedaços de papel-toalha. Os copos? De requeijão. Por que não?
Como só no quarto tinha ar- condicionado, organizamos as camas todas ali. Flávio pediu um colchão emprestado para o clube para acomodar o cinegrafista Renato Soder e eu. Como só recebe a namorada e, de vez em quando, a mãe, que vem de Lavras-MG, não conta com muito espaço.
— Perdi meu pai cedo. Deixei a mãe e meu irmão sozinhos na minha cidade. Mas acho que tudo está valendo a pena — conta o mineiro de 34 anos, autor de um gol na Arena Corinthians, na noite mágica do Avenida, que começou com 2 a 0, mas que acabou em eliminação da Copa do Brasil por 4 a 2.
Após cair no Gauchão, o Avenida se prepara para a Série D.