Marcelo Pitol já sabe o que deseja receber de presente de 36 anos, a comemorar em 6 de abril, antevéspera da grande final do Gauchão no Bento Freitas: o título. Porque, para o camisa 1 do Brasil-Pel, vencer o campeonato sobre o Grêmio representa bem mais do que ter na parede de casa uma linda foto erguendo o troféu: representa a redenção de um goleiro.
Pitol começou na base do Grêmio aos 14 anos. Foi crescendo e ganhando status no clube. Até chegar aos profissionais, onde Danrlei já reinava absoluto. Foi então que, em 2003, o histórico goleiro gremista deixou o clube. Pitol sabia que a sua chance havia chegado. Porém, viu a direção apostar em Ricardo Tavarelli, goleiro do Olimpia e do Paraguai na Copa de 2002.
— Eu estava com 21 anos, quase 22. E a contratação do Tavarelli me magoou muito. Na época, eu e Eduardo Martini competíamos pela sucessão do Danrlei. Estávamos em pré-temporada, em Canela, quando anunciaram o Tavarelli. E eu não soube lidar com aquilo. Discuti com a direção, falei coisas que jamais deveria ter falado para eles. E deixei o clube. Me arrependo disso até hoje — conta Pitol.
Apesar do mea-culpa, Marcelo seguiu sua carreira longe de Porto Alegre. O guri de São Leopoldo acabou rodando o país por mais 17 clubes. Passou por 15 de Novembro, Juventude, Náutico, Joinville, Icasa-CE, Santa Cruz-RS, Ypiranga, São Bernardo, Itumbiara-GO, chegou a jogar em "casa", no Aimoré, rodou ainda por São José-SP, Vila Nova-GO, Novo Hamburgo, Glória, Sampaio Corrêa-MA e Caxias, até voltar a Pelotas, no ano passado. Onde se tornou o símbolo da equipe e o ídolo da torcida.
— A minha carreira seguiu longe do Grêmio. A vida é isso: um aprendizado. A gente erra na vida, na profissão, se arrepende e aprende com esses erros, mas acho que dei a volta por cima. Estou feliz no Brasil-Pel, estou feliz em estar na final, sou grato ao clube por estar nesta decisão, disputando um grande título. Hoje, sou 100% xavante. Eu quero muito dar este Gauchão para a minha torcida — afirma.
Não por acaso, o goleiro acabou sendo o herói da passagem do Brasil à final do Estadual, ao defender na decisão por pênaltis a cobrança de Porcellis. Um feito que não ocorria há 63 anos. A conquista solitária do xavante no Gauchão é quase tão antiga como a Federação Gaúcha de Desportos (atual Federação Gaúcha de Futebol), entidade que entregou ao Brasil, 99 anos atrás, a taça guardada com orgulho no museu do Estádio Bento Freitas.
— Desde o primeiro jogo do Gauchão, temos o sonho de sermos campeões. O favoritismo total é do Grêmio: tem um plantel diferenciado, jogadores de Seleção Brasileira, mas nós temos condições de vencer. Vamos respeitar sem temer — avisa Marcelo Pitol. — Somos muito, muito fortes aqui no Bento Freitas. Voltando de Porto Alegre com chances de título, daremos a vida em campo por esta conquista — completa.
Talvez tenha sido acaso do destino colocar na vida de Pitol um treinador que, como goleiro, passou a colecionar os seus grandes títulos já veterano. Clemer é uma inspiração para o arqueiro xavante:
— Ele é um craque. Clemer foi campeão em todas as situações possíveis. Conversamos muito, ele me passa orientações para seguir evoluindo. Clemer foi um mito do Inter como goleiro. Também queremos conquistar o Gauchão por ele. É um estudioso e, sendo campeão agora, certamente terá um novo impulso para a sua carreira como treinador.
Assim como Danrlei (que defendeu o Brasil-Pel em 2009) serviu de inspiração para Pitol, de certa forma o atual goleiro do Brasil-Pel foi um modelo para Grohe em seu começo de carreira. Cinco anos mais velho do que o atual camisa 1 do Grêmio, o xará Marcelo vê no adversário algumas de suas características. Grohe aprendeu a arte da catimba, algo que Pitol se tornou um especialista, desde provocar o rival em campo até parar o jogo fazendo cera.
— Ocorre que muitas vezes você precisa se impor em campo perante o outro time. É normal ver isso nas grandes equipes. Todos os times precisam ter um jogador assim, que saiba esfriar o adversário. Contra o Grêmio, o melhor time do país, precisaremos de todas as armas para chegar ao nosso sonho — avisa Marcelo Pitol.
Às portas dos 36 anos, o camisa 1 do Brasil-Pel se diz pronto até mesmo para bater pênaltis em uma possível e tensa decisão de campeonato. Após os treinos, tem estudado as recentes cobranças dos batedores de Renato Portaluppi.
— Tudo o que quero é ser campeão no Bento Freitas lotado. Essa torcida merece uma volta olímpica, essa cidade merece uma conquista dessa grandeza — sonha o ídolo xavante.