O jogador médio do Campeonato Gaúcho nasceu no Rio Grande do Sul, tem 26 anos, 1m81cm, 75kg e recebe R$ 7,8 mil por mês. O levantamento foi feito com base na lista enviada pelos clubes à Federação, que os torna aptos a disputar o Estadual e não inclui a dupla Gre-Nal – que, a rigor, não são representantes do Gauchão, mas da elite nacional.
As medidas são superiores às da média da população. Segundo levantamento da revista científica eLife, o homem brasileiro tem, em média, 1m73cm, e o peso varia de 69kg a 74kg. Os vencimentos são superiores aos de 97% da população nacional, e de 95% da população gaúcha. Claro que esses valores são ilusórios: à exceção dos atletas envolvidos em competições de segundo semestre, como as séries B, C e D, a maior parte só tem contrato até o fim do Estadual, e esse é o momento de fazer o pé de meia — as copas regionais e até a última divisão baixam consideravelmente o dinheiro investido. Outro detalhe é se tratar, justamente, de uma média, uma operação matemática: há jogadores com salários acima de R$ 25 mil e outros que recebem menos de R$ 1 mil.
— A média condiz com o campeonato. Claro que goleiros e zagueiros aumentam a altura, é fundamental. Para jogadores de meio e laterais não precisa ter essa estatura. O futebol gaúcho gosta de jogadores altos e fortes. A velocidade também importa. O que não concordo totalmente, para mim, a habilidade e a inteligência são fundamentais — analisa o ex-técnico Ernesto Guedes, um dos mais experientes técnicos da história do futebol gaúcho, com passagem por 57 times do Brasil e do Exterior.
Segundo ele, que marcou época em equipes como São Paulo-RG, Inter-SM, Grêmio Santanense, Brasil-Pel, Gaúcho, Caxias e outros — foi campeão de 1982 com o Inter —, mais importante do que criar um "jogador do Gauchão", dirigentes e treinadores devem levar em conta o perfil do clube. Para o ex-técnico, é essa identidade que marca o torcedor e garante uma trajetória mais duradoura.
— O exemplo maior disso é o Luiz Carlos Winck no Caxias. Ele entende o espírito do time e faz a torcida saber como vai jogar — explica.
A média de peso e altura também envolve um gigante e um pequeno. Para se chegar ao 1m81cm e aos 76kg do perfil médio, é preciso que haja um Talis e um Toty.
Talis é o zagueiro do Novo Hamburgo. Com 1m95cm e 92kg, é o jogador mais alto e mais pesado do campeonato. Seu biótipo ajuda a segurar os atacantes mais fortes e a aparecer na frente em faltas, escanteios e, se precisar, até em cobrança de lateral. Marcou um gol do time no Estadual, contra o Juventude.
— O campeonato é bom para um jogador como eu. É um jogo de contato, de choque, os centroavantes também são fortes — analisa.
O jogador, que é natural de Além Paraíba-MG, já esteve no Estado defendendo o União Frederiquense, subindo na Divisão de Acesso e disputando a elite. Andou fora do Brasil, disputando a Segunda Divisão de Portugal, e passou pelo futebol paulista e pelo carioca.
— O estilo de jogo gaúcho é mais aguerrido. Aqui, até os atacantes marcam, fazem pressão. Mas gosto bastante, é meu jeito também. Estou pensando em me estabelecer aqui nos próximos anos — comenta.
Toty, do Brasil-Pel, é o jogador mais baixo e mais franzino do Gauchão. Com 1m65cm e 62kg, precisa compensar a falta de força com velocidade, atenção e habilidade.
— Sou o mais baixo, é? Bom, imaginei. O Rio Grande do Sul tem fama de contratar jogadores fortes e de marcação — comenta o meia-atacante de 26 anos, natural de Recife.
Apesar da estatura e do porte pouco avantajados, garante não ter encontrado dificuldade para se adaptar. O bom início, a confiança de Clemer e o entrosamento com os novos colegas ajudaram a entender melhor a vida em Pelotas.
— O que percebi de diferente no Gauchão é a intensidade. O jogo é mais pegado, mais forte. Estamos sempre atentos para escapar da pancada, fazer a jogada. De resto, está bem tranquilo, até o calor é parecido — finaliza o jogador que teve passagens por Pernambuco, Paraíba e Paraná.
O censo do Gauchão traz outras informações relevantes. O desejo dos clubes é contar com nomes experientes, que tenham passado em clubes grandes nem que seja nas categoria de base. Como o Brasil-Pel: o clube é o recordista de jogadores com experiência em clubes grandes no cenário nacional, com 17 dos 27 atletas tendo vestido as camisas de Inter, Grêmio, Flamengo e Palmeiras. Mas a maioria dos profissionais não viveu nos principais expoentes do futebol brasileiro. São os casos de atletas que rodam o país de time pequeno em time pequeno em busca do jogo dos sonhos que garanta o contrato para salvar a vida.
Mais um dado: a presença de jogadores do Rio Grande do Sul também é alta. Muitos deles buscam um começo de carreira, outros são da própria região. Como o São Josém que tem 22 dos seus inscritos nascidos entre Chuí e Iraí. O líder Caxias vai no caminho inverso: tem os mesmos número de gaúchos e paulistas: nove.
O PEQUENO TOTY
O mais baixo é também o mais franzino jogador do Gauchão. Christofoly Acioly da Silva, o Toty, do Brasil-Pel, mede 1m65cm e pesa 62kg. Natural de Recife, o meia-atacante de 26 anos garante estar adaptado ao futebol do Rio Grande do Sul.
— Sou o mais baixo, é? Bom, imaginei. O Rio Grande do Sul tem fama de contratar jogadores fortes e de marcação. O jogo do Gauchão é mais pegado, mais forte. Estamos sempre atentos para escapar da pancada, fazer a jogada. De resto, está bem tranquilo, até o calor é parecido.
O GIGANTE TALIS
O mais alto é também o mais forte jogador do Gauchão. Talis Anacleto da Silva, 28 anos,mede 1m95cm e pesa 92kg. Natural de Além Paraíba-MG, o zagueiro encontrou mais facilidade para jogar no Rio Grande do Sul.
— O campeonato é bom para um jogador como eu. É um jogo de contato, de choque, os centroavantes também são fortes. Até os atacantes marcam, fazem pressão. Mas gosto bastante, é meu jeito também.
O censo do Gauchão
Por time
Mais alto: Caxias — 1m83cm
Mais baixo: São Paulo, Juventude, Veranópolis e Cruzeiro — 1m80cm
Mais pesado: São Luiz — 78kg
Mais leve: São Paulo-RG — 69,6kg
Maior média salarial: Juventude — R$ 12 mil
Menor média salarial: São Paulo-RG — R$ 4,6 mil
(Cálculo feito levando em consideração folha salarial e lista de inscritos)
— O Caxias tem 9 gaúchos e 9 paulistas na lista de inscritos.
— O São José é o mais gaúcho: 22 dos inscritos nasceram no RS.