Nesta sexta-feira (6), o Inter irá escrever mais um capítulo histórico em sua trajetória no futebol feminino: a primeira Copa Libertadores da América. O jogo inédito será diante do Nacional, às 17h (horário de Brasília), no Estádio Pascual Guerrero, em Cali.
Longe de casa, o clube irá repetir o mesmo pioneirismo que em 1976 foi protagonizado pelo masculino: a bandeira colorada e o futebol gaúcho sendo apresentados ao torneio continental.
A conquista desta participação é fruto de um trabalho que começou em 2017, quando o clube se antecipou à exigência da CBF, de tornar o desenvolvimento da modalidade obrigatório para os times da Série A, e reabriu o departamento feminino.
Nas últimas temporadas, o desempenho esportivo ganhou notoriedade. A presença em decisões das competições nacionais, rompendo o Mampituba, foi considerada surpresa em comparação ao desenvolvimento no centro do país.
A chegada à decisão do Brasileiro em 2022, eliminando Flamengo e São Paulo nos mata-matas, provou que os resultados não eram por acaso. O Inter deixou de ser um "intruso" para tornar-se uma afirmação no futebol feminino nacional. É bem verdade que nas finais contra o Corinthians venceu aquele já vinha trilhando este mesmo caminho há mais tempo.
O fato é que as Gurias Coloradas estão vivendo momentos inéditos, acumulando experiências e escrevendo sua própria história dentro do clube. Levando a plagas distantes, feitos relevantes.
Coincidência ou não, a linha do tempo tem aspectos semelhantes com o que já foi construído. Em 1976, o Inter foi o primeiro gaúcho a participar de uma Copa Libertadores. O feito ocorreu justamente quando o Colorado colocou seu o nome e o Estado no mapa do futebol nacional, ao levantar a taça do Brasileirão de 75 e 76.
— É o ano mais importante do clube dentro da modalidade. É um ano em que trabalhamos muito para que esse momento chegasse e chegou. A Libertadores sempre foi um sonho do Inter, e a partir do momento que essa vaga foi conquistada não se pensava em outra coisa — destacou a capitã Bruna Benites à reportagem de GZH em Cali.
Mudanças na fotografia
Depois da conquista daquele vice-campeonato, que garantiu a presença nesta Copa Libertadores, muitas coisas mudaram no vestiário. Em comparação à base daquele time finalista, oito titulares deixaram o clube.
Neste segundo semestre, mais mudanças representativas. Além da chegada de novo reforços, o clube teve mudança no comando técnico: Lucas Piccinato foi contratado para vaga de Maurício Salgado, que deixou o clube para comandar o Flamengo.
— Foram 60 dias (de trabalho). Deu para colocar um pouco do meu estilo e entender o que o grupo tem a oferecer. São seis atletas apenas que já jogaram Libertadores. Então, temos uma grande parte do grupo que está conhecendo a Libertadores agora. É uma competição difícil, tiro curto, que muda um pouco as características, mas estamos todos no mesmo clima para começar muito bem a competição — avaliou o novo comandante do Inter antes da estreia.
Na prática, das 20 atletas que integram a delegação em Cali, nove desembarcaram em Porto Alegre nesta temporada: as laterais Roberta e Lorranny, as meio-campistas Letícia Monteiro, Marzia, Analuyza e Pati Llanos, e as atacantes Belén Aquino, Fabiola Sandoval e Soll.
Entre velhas e novas conhecidas, o grupo tem três nomes em especial: Isa Haas, Belén Aquino e Priscila. Na defesa, Isa Haas se consolidou como a dupla de zaga de Bruna Benites após a saída da experiente Sorriso. Remanescente da primeira peneira em 2017, a defensora irá completar 120 jogos com a camisa colorada. Recentemente, pelo Gauchão, também mostrou sua polivalência no ataque: marcou três gols na goleada por 9 a 0 sobre o Elite.
No ataque, Aquino e Priscila são as principais referências de gol. As duas dividem a artilharia da temporada com oito e nove gols cada, respectivamente. A uruguaia chegou ao Inter nesta temporada como uma das principais revelações do seu país aos 21 anos. Tem como principais características a velocidade e o drible. Apesar da pouca estatura gera muitos problemas para a zaga adversária.
Priscila, por sua vez, chegou ao Inter em 2021. Natural do Rio Grande do Norte, a atacante foi descoberta através das avaliações de prospecção do clube. Ela estava no projeto 10 da Bola, iniciativa potiguar que atende jovens de 5 a 17 anos. Sua primeira experiência profissional de campo foi com a camisa colorada.
De lá para cá, o faro de artilheira é uma de suas principais qualidades. Não é à toa que o desempenho rendeu olhares da Seleção Brasileira. No último mês, ela foi campeã com o Brasil da Liga de Desenvolvimento da Conmebol sub-19. Além do gol na final, foi a artilheira no torneio com seis gols.
Estreante em uma chave experiente
Sorteado no Grupo D da competição, o Inter está concorrendo com clubes experientes na competição. Além de Nacional, terá América de Cali e Boca Juniors. Apenas duas vagas dão direito à fase eliminatória.
A equipe adversária na estreia pode ser considerada a de menor nível de dificuldade em comparação aos outros dois clubes. Apesar da relevância dentro do futebol uruguaio, sendo a maior representante do país com seis participações, seu melhor desempenho foi em 2021, quando chegou até a semifinal.
Na segunda rodada, o adversário será o América de Cali. Em sua quarta participação, o clube vai em busca do título inédito. Em 2020, foram vice-campeãs e ainda chegaram até as semifinais em 2019 e 2022. O seu elenco conta com uma das maiores jogadoras da Colômbia: Catalina Usme. A meia é artilheira da seleção com 52 gols marcados.
Por fim, o Boca Juniors. Vice-campeão no ano passado, na decisão contra o Palmeiras, o clube chega para a competição sob o comando de Florencia Quiñoes. A ex-jogadora do próprio clube, da seleção da Argentina e do Barcelona, assumiu o cargo em abril deste ano, depois de experiências nas categorias de base. O maior campeão argentino segue em busca do sonho da primeira taça de Libertadores.
A Libertadores Feminina
O formato da competição feminina é diferente em relação ao masculino. Realizada desde 2009, a competição é sediada em um país único. Nesta temporada, a Colômbia recebe com sedes em Cali e Bogotá. São 17 dias de competição, e a final marcada já para o dia 21 de outubro.
Na fase de grupos, são 16 equipes participantes, dividas em quatro grupos. Após três rodadas, em turno único, avançam apenas as duas melhores de cada chave. Depois, as quartas, semis e final serão jogos únicos. Em caso de empate no tempo normal, a classificação ou o título será decidido nos pênaltis, sem prorrogação.
O torneio de 2023 terá a maior premiação da história. Apenas pela participação, os times garantirão US$ 50 mil (R$ 262 mil, na cotação atual). O campeão fatura US$ 1,7 milhões (cerca de R$ 8,9 milhões), o vice levará US$ 600 mil (R$ 3,1 milhões na cotação atual) e o terceiro colocado ficará com US$ 250 mil (cerca de R$ 1,3 milhão). Um aumento total de 70% em comparação à última edição.
No histórico geral, o Brasil é o país com mais títulos. Dos 14 em disputa, 11 foram vencidos por equipes brasileiras. Palmeiras e Corinthians são os outros dois representantes do futebol nacional. O Inter, estreante, já está escrevendo sua história no torneio continental.