A Copa de 2022 ficou para trás às 11h41min de uma manhã cinzenta e fria. O clima parecia enviado especialmente para compor o cenário do adeus da Seleção Brasileira a Doha. Longe das câmeras, em uma área restrita do luxuoso Westin, o delegação embarcou no ônibus personalizado em verde e amarelo cedido pela organização e tomou o caminho do aeroporto.
Um outro ônibus de turismo e um microônibus, no qual estavam pessoas das áreas de apoio, formavam o comboio que saiu pela mesma rua lateral em que a Seleção chegou, há 21 dias, cheia de sonhos e sorrisos. Assim, silencioso e sem palavras, o Brasil encerrou de vez sua Copa e um ciclo de quatro anos que também foi a despedida de Tite, da sua comissão técnica, de dirigentes e também de muitos dos 26 jogadores que estiveram no Catar. A partir de janeiro, uma nova Seleção começará a ser construída.
A primeira informação é de que o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, anunciará somente na metade de janeiro quem será o novo técnico. Ele evitou tocar o assunto nestes dias em Doha. Disse que seria desrespeito com a comissão atual e que tiraria o foco. Ednaldo aproveitará esses dias de virada do ano para ouvir pessoas próximas, conversar e trocar ideias. Porém, a escolha será dele. A um interlocutor, disse:
— Serão duas pessoas na reunião para definir o nome: eu e Deus.
O baiano, ao contrário dos presidentes anteriores, é próximo do vestiário, gosta de participar e de estar junto dos jogadores e da comissão técnica. Foi por isso, aliás, que se designou chefe da delegação. Nos treinos, no Al-Arabi, era possível vê-lo, no meio do grupo, ouvindo as orientações de Tite antes de o trabalho se iniciar. Há quem diga, inclusive, de que o próximo diretor de Seleções será ele. Ou alguém que seja seus olhos ali e atenda a sua linha direta.
Sobre o técnico, foi possível colher algumas impressões a respeito do que pensa a nova CBF. Primeiro, Ednaldo não tem qualquer receio de entregar o cargo a um estrangeiro pela primeira vez. Segundo pessoas próximas, "ele gosta do barulho e de estar no centro dele". O nome de Abel Ferreira, por tudo que fez no Palmeiras, tem força. Porém, contra o português há uma ressalva: sua ideia de jogo. A CBF pretende buscar um técnico ofensivo, de jogo agressivo, para a frente. O Palmeiras de Abel, na versão mais atualizada, está longe de ser defensivo. Porém, estaria fora dos padrões exigidos pela CBF.
A vantagem de Abel é de que, com seu método de trabalho, manteria os processos e a rotina instaladas por Tite nos últimos seis anos. A Seleção nunca teve um técnico que dava expediente diário na CBF. Tite e sua comissão técnica criaram um modelo no qual havia comunicação direta com os clubes europeus e seus profissionais.
Cada escolha de jogador era feita em cima de índices da semana de treinos e dos últimos jogos. Quando o atleta se apresentava, sabia-se o quanto tinha corrido, o quanto de carga de trabalho havia cumprido, o que havia feito nos treinos e quantas horas havia passado na fisioterapia. O mesmo relatório, com dados da Seleção, era enviado ao clube na volta dele. E chegava antes mesmo de o jogador se reapresentar.
A manutenção desse trabalho será, claro, levada em conta antes de definir o nome do novo técnico. Porém, o que ficou claro aqui em Doha é de que, além de processos, o novo comandante precisa pensar o jogo para a frente. Como fez Tite aqui nesta Copa.