Técnico brasileiro ou técnico estrangeiro? Eis a pergunta que martela na cabeça de Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF. A eliminação nas quartas de final da Copa do Catar foi o parágrafo final de Tite no comando da Seleção Brasileira. O anúncio seu substituto deve acontecer somente em janeiro.
Até lá, a entidade que gere o futebol brasileiro vai analisar nomes, conversar com candidatos, até escolher um nome. Com o sucesso recente de técnicos nascidos fora do Brasil por aqui, como Abel Ferreira e Jorge Jesus, as chances de um nome vindo de além mar são consideráveis.
Caso a opção seja por um estrangeiro, não será a primeira vez. Até mesmo um argentino representou a Seleção no passado. Três nomes tiveram essa honra, todos em situações pontuais.
Veja quem foram os estrangeiros que já comandaram o Brasil.
Ramón Platero
Há alguns anos, quando Celso Roth treinando um clube da Dupla Gre-Nal era tão certo quando o Natal cair em 25 de dezembro, se criou a piada de que em algum momento o treinador poderia comandar Grêmio e Inter ao mesmo tempo. No Rio de Janeiro a façanha foi real. Em 1922, nos primórdios do futebol carioca, época em que o principal esporte da Cidade Maravilhosa era o remo, o uruguaio Ramón Platero treinou simultaneamente Vasco e Flamengo.
Essa não foi a única proeza desse técnico nascido em Montevidéu. Ele também foi o primeiro estrangeiro a comandar a Seleção Brasileira. Foi no Sul-Americano de 1925. A CBD, a CBF daqueles tempos, optou por Joaquim Guimarães como técnico, mas ele se tornou diretor técnico, segundo relatórios da entidade que atestam que Platero esteve no comando da equipe no torneio, disputado em um triangular em turno e returno com Paraguai e Argentina.
Na primeira perna da competição, vitória por 5 a 2 sobre o Paraguai. Na sequência, derrota por 4 a 1 para os argentinos. Uma das razões alegadas para a goleada foi a verve boêmia dos jogadores brasileiros. Na véspera da partida, eles teriam visitados diversos cabarés de Buenos Aires.
No segundo turno, com os atletas vigiados com rédea curta, o Brasil passou pelo Paraguai, agora por 3 a 1. Antes de enfrentar novamente os argentinos, um empate em 2 a 2 com o Newell´s Old Boys, em amistoso.
O duelo contra a Argentina, disputado no Natal, terminou empatado em 2 a 2. No primeiro jogo que teve pancadaria entre brasileiros e seus maiores rivais. O resultado deu o título aos adversários.
Ao todo, Platero foi o técnico da Seleção por cinco jogos, com duas vitórias, dois empates e uma derrota. Na sequência da carreira, passou por diversos clubes do eixo Rio-São Paulo.
Joreca
Por vezes basta apenas estar no lugar certo quando os dirigentes que comandam o futebol brasileiro colocam em prática alguma ideia. Foi o caso de Jorge Gomes de Lima, o popular Joreca. A Seleção estava sem treinador desde 1942. Com o mundo em guerra, a CBD não tinha perspectivas de colocar a Seleção em campo. Eis a razão para o cargo estar vago.
Com o ingresso do Brasil na Segunda Guerra, o patriotismo ficou exacerbado entre os dirigentes. Diversos jogadores se alistaram para o combate. Para homenageá-los, a entidade realizou dois amistosos festivos em 1944, dois confrontos contra o Uruguai, em São Januário.
Foram convidados para comandar o time os principais técnicos do futebol carioca e paulista. A CBD escolheu Flávio Costa, técnico do Flamengo, e o português Joreca, treinador do São Paulo. A dupla exerceu um comando técnico em conjunto. Os brasileiros sobraram em campo, com goleadas por 5 a 1 e 4 a 0.
Flávio Costa foi efetivado no cargo e comandou a equipe até a derrota no jogo decisivo da Copa de 1950, quando o mesmo Uruguai venceu o Brasil no Maracanã.
Antes de ser vítima de um ataque cardíaco fatal, em 1949, Joreca ainda treinou o Corinthians.
Filpo Nuñez
O caso mais recente tem similaridade com a situação vivida por Joreca. A CBD escolheu o Palmeiras para representar o Brasil no festival de abertura do Mineirão, em 1965. O clube paulista vivia uma das suas fases mais gloriosas. Aquela equipe foi apelidada de Academia de Futebol pela alta qualidade.
O timaço tinha jogadores do quilate de Valdir de Moraes, Djalma Santos, Ademir da Guia, Julinho Botelho, entre outros. O treinador daquele esquadrão era o argentino Filpo Nuñez, a quem coube a responsabilidade de comandar a equipe no dia em que o Verdão vestiu amarelo. Nuñez é tio de Eduardo Coudet, ex-técnico do Inter.
Em 7 de setembro, com gols de Rinaldo, Tupanzinho, Germano, o Palmeiras "fantasiado" de Seleção Brasileira venceu o Uruguai por 3 a 0. Naquele momento, o escrete brasileiro era oficialmente comandado por Vicente Feola, técnico do título na Copa de 1958.