A seleção de Marrocos é o retrato do Catar neste dia 14 de dezembro de 2022. Dentro de algumas horas, diversas pessoas que não nasceram no Marrocos defenderão como nunca o sentimento de ser marroquino. Essa será a realidade tanto na equipe do técnico Valid Regragui como nas arquibancadas do estádio Al-Bayt. Afinal, com 14 jogadores no plantel e o apoio de milhões de africanos, árabes e muçulmanos, o Marrocos reinventou o significado da palavra "nação" ao longo da saga rumo à semifinal da Copa do Mundo.
Dos 26 jogadores convocados para o Mundial, apenas 12 nasceram no Marrocos. Os demais são oriundos de países como Bélgica, Espanha, França, Holanda, Itália e Canadá. Todos têm, porém, raízes marroquinas. Essa característica cosmopolita, que já foi alvo de críticas, hoje é motivo de orgulho para jogadores, torcedores e jornalistas do país.
— Todos os jogadores da seleção são marroquinos: ou de nascimento, ou de formação ou por conta de raízes familiares. Em determinado momento, a seleção não atuava bem, e alguns colocavam à culpa nos atletas que nasceram fora das nossas fronteiras. Mas a verdade é que o Marrocos é um país de imigração e emigração. Todos nós temos pelo menos alguém da nossa família que vive no Exterior. E todos os jogadores da seleção são parte da nossa família marroquina. Isso nos dá orgulho — pondera o jornalista Amine El Amri, do diário marroquino Le Matin.
Na entrevista coletiva oficial do jogo contra a França, marcado para esta quarta-feira (14), às 16h (horário de Brasília), o técnico Walid Regragui adotou um discurso similar.
— Quando você joga pela seleção, você é marroquino. Só seleciono os jogadores que acho que podem trazer algo ao time. Muitos duvidaram desses atletas. Muitos deles podem jogar na Europa, mas, na seleção, é preciso ter o espírito desse time. E todos têm — disse Regragui
Além dos jogadores nascidos fora do território marroquino, como Mazraoui, Amrabat e Ziyech (Holanda) Hakimi (Espanha), Saiss e Boufal (França) e Bono (Canadá), a equipe também conta com uma torcida miscigenada. Afinal, por ser situado na África e ter uma população majoritariamente árabe e islâmica, o Marrocos virou o time sensação de todos os torcedores africano, árabes e muçulmanos presentes no Catar.
— É uma honra para nós representarmos todos os africanos, árabes e muçulmanos do mundo. É a prova de que isso aqui é muito mais do que um jogo de futebol. Estou muito contente e feliz. Estamos muito agradecidos a todos que torceram por nós — afirmou o meia-atacante Abde Ezzalzouli.
Desde a vitória sobre a Espanha, nas oitavas de final, a bandeira mais tremulada nas ruas de Doha é a de Marrocos. Seja por torcedores da Argélia, Tunísia, Arábia Saudita, Catar, Jordânia, Líbano, Gana, Egito ou Camarões. E a popularidade das cores marroquinas só aumentou desde a classificação para a semifinal contra a França.
Afinal, neste dia 14 de dezembro, todos os africanos, árabes e muçulmanos são marroquinos.