Este texto faz parte da cobertura da Copa do Mundo. A seção "A Copa da minha vida" é publicada diariamente no caderno digital sobre o Mundial do Catar.
A Copa de 2014, sem dúvida, foi a melhor Copa da minha vida. Não por um gol ou por ser no Brasil. Na verdade, só se tornou inesquecível pelo que aconteceu no último dia, por incrível que pareça.
O ano não estava sendo bom, meu pai passou por diversas tentativas para achar um remédio que conseguisse combater o câncer. Enfim foi selecionado para participar de um estudo promissor em Boston. O tratamento começava em junho, e ele tinha que estar lá nessa data, bem no mês da Copa!
Agora, imagine ter que fazer uma mudança para outro país e ao mesmo tempo trabalhar na cobertura de uma Copa do Mundo. Não é algo para amadores! E eu, apesar de ter só seis anos na época, sentia essas coisas que estavam acontecendo ao meu redor, especialmente ter que ficar longe do meu pai por tanto tempo.
Ele tinha acabado de se mudar para a nossa nova casa. O único problema era que eu e minha mãe ainda demoraríamos longos 40 dias para ir, e eu nunca tinha ficado tanto tempo longe dele.
Essa saudade do meu pai era tanta que uma vez eu e ele estávamos conversando por uma videochamada e estava tudo normal — lembro que ele estava caminhando pela principal rua do subúrbio onde moraríamos, a Harvard Street, e mostrando as bandeiras penduradas para o 4 de julho — quando, sem nenhum motivo aparente, comecei a me sentir triste e chorar. Depois ele me contou que também chorou depois de desligar.
Finalmente chegou o dia de ir para Boston! Eu estava muito feliz por encontrar meu pai e estar indo morar em outro país. Além disso, era o dia da final da Copa do Mundo. Durante nosso voo, lembro da conversa que eu tive com um americano simpático que sentou do meu lado, nós falamos sobre futebol, ele era um torcedor decepcionado com a seleção americana que tinha sido eliminada pela Bélgica há pouco tempo.
Ele também comentou sobre o fracasso inesquecível do 7 a 1 entre Alemanha e Brasil e, ironicamente, falou que seria uma Copa do Mundo da qual eu não iria querer me lembrar. Realmente, a melhor Copa do Mundo da minha vida foi uma das piores para a nossa Seleção.
Na verdade, eu nunca vi o Brasil jogar uma Copa brilhante, mas estou otimista para 2022. Acho que o Brasil consegue a tão sonhada sexta estrela. Acredito que um dos motivos para isso é que a Seleção não é mais dependente do Neymar, agora temos vários bons jogadores.
Finalmente, depois de muito tempo e uma longa viagem de quase 24 horas, eu estava pisando no lugar que seria minha casa pelos próximos seis anos. Naquela ensolarada manhã de verão de 13 de julho, quando vi meu pai nos esperando no aeroporto, eu senti uma alegria que eu nunca tinha sentido. Finalmente pude dar aquele abraço nele.
Fomos direto para a casa de uns amigos gaúchos que moravam em Boston ver a final, Alemanha x Argentina, duas grandes seleções. Meu pai estava melhorando visivelmente, e nós estávamos iniciando uma vida completamente nova, que certamente seria melhor do que a anterior. Esse dia, sim, foi a Copa da minha vida.