O Japão é mal-assombrado, já tinham me dito isso antes de eu sair do Brasil. Alguém aí vai reclamar: como pode um país mal-assombrado? Pode, ué. A Inglaterra e a Escócia são mal-assombradas, sabia? Talvez seja coisa de velhas ilhas.
Dramas e tragédias se sucederam através dos séculos, pessoas sofreram e choraram, e toda essa dor ainda vagueia entre os vivos. Mas havia esquecido que o Japão era mal-assombrado.
Até que um fato terrível aconteceu.
Às 2h25min da madrugada de sábado, a terra tremeu em Yokohama. Um terremoto. Nada parecido com o Tokai, o fatídico terremoto de nove graus na escala Richter que os japoneses sabem que vai acontecer, o tremor que, predizem os geólogos, partirá o Monte Fuji ao meio e destruirá Tóquio. Nada tão horrendo. Mas foi um autêntico terremo japonês.
Os jogadores da Seleção Brasileira estavam dormindo, nem perceberam. Alguns membros da comissão técnica se assustaram. Quem mais ficou com medo, por ironia, foi o coronel Castelo Branco, chefe da segurança da delegação, homem que, por mister, tem de ser bravo.
Terminado o jogo em Yokohama, voltei para o hotel de metrô. De repente, numa estação intermediária, um baixinho embarcou. Era brasileiro, tinha cara de brasileiro. Estava acompanhado da mulher e da filha, estas sim, obviamente japonesas.
Minutos mais tarde, fiquei sabendo que o baixinho vive e trabalha no Japão.
Certamente exerce uma dessas funções não tão bem remuneradas que os japoneses não aceitam exercer, as roupas do baixinho eram quase andrajos, em seu rosto estavam cavados os vincos indisfarçáveis de quem trabalha muito e trabalha duro e trabalha sem grande compensação.