Para a próxima Copa do Mundo da Fifa, não espere nada menos do que o inusitado. País-sede do Mundial de 2022, o Catar não economiza quando o assunto é impressionar. Faltam exatos três anos e sete meses, 1.310 dias para a bola rolar no Estádio de Lusail na abertura do maior torneio de futebol do planeta. E, no pequeno país árabe, não há melhor sentimento que descreva o momento dos cataris do que a ansiedade. A nação situada no Golfo Pérsico já respira intensamente a competição. Basta andar pelas ruas da capital Doha por cinco minutos, em qualquer direção, e tudo o que verá será canteiros de obras. Não há atraso, pelo contrário, tudo está bem adiantado.
O plano é ambicioso. Além de preparar todo o país, que deverá triplicar sua população durante os 28 dias de torneio, o Catar promete entregar a melhor Copa do Mundo de todos os tempos. E, ao que tudo indica, conseguirá. O "pré-Mundial" não preocupa. Das oito arenas que receberão as partidas da competição, uma já está pronta e duas serão inauguradas dentro de cinco meses (em maio e setembro de 2019). As outras cinco ficarão prontas em 2020, dois anos antes do torneio.
Em relação ao mesmo período, o Mundial no Brasil, em 2014, tinha seu cronograma atrasado. Três anos antes da competição, em 2011, 10 das 12 sedes haviam começado a construir seus estádios. Nas outras duas, Natal e São Paulo, suas praças esportivas nem tinham saído do papel.
— A gente agora vive essa transformação do país em preparação para a Copa, e eu tenho certeza absoluta que será uma das Copas que ficará marcada na história — projetou o meia-atacante Rodrigo Tabata, ex-Santos, que joga no Catar desde 2011 e foi convocado para defender o país em 2016, nas Eliminatórias.
Ansiosos, até o "pós-Copa" já tem um planejamento definido. Cientes de sua tímida cultura no futebol, um dos grandes objetivos do Catar é lutar contra os chamados elefantes brancos — construções que ficam sem uso constante depois de prontas. Esta é a principal preocupação dos organizadores do Mundial de 2022 e, para tentar driblar o problema, usam o legado como palavra-chave. A ponto de o órgão do governo responsável pela competição ter seu nome oficial de "Supremo Comitê de Entrega e Legado da Copa de 2022".
Com isso, cada praça esportiva já tem um fim estabelecido quando o Mundial deixar o país no dia 18 de dezembro de 2022. Praticamente todas terão sua capacidade reduzida e serão utilizadas como centros comunitários. Outras, serão completamente desmontadas e suas partes reutilizadas em obras de necessidade pública.
— Uma (prioridade) é o legado. É muito difícil organizar esse torneio de forma com que as instalações tenham valor para a sociedade. Não queremos ter estádios que não serão usados. Nosso desafio é que depois do torneio haja uso da sociedade. É muito importante para nos assegurar que cada passo tenha sentido depois de 2022. Dinheiro não é tudo, precisa ser bem usado. É o que fazemos com os estádios: pensamos nas comunidades, suas necessidades — revelou Khalid Al-Naama, porta-voz do Comitê.
Com a infraestrutura das gigantescas arenas bem adiantada, a organização enfrenta fãs temerários quando o assunto é o andamento de uma Copa sem percalços. A dúvida é se o país de pequena extensão territorial estará apto a receber o enorme número de turistas que são esperados no torneio. Mas, nada que a nação rica em gás natural e petróleo não resolva: mais de 50 hotéis e uma cidade para 450 mil habitantes estão sendo construídos do zero para comportar a demanda.
O projeto de mobilidade apresentado pelo Catar não fica para trás. É grandioso e, se entregue com sucesso, será histórico. A começar pelo deslocamento, as grandes distâncias que encaramos no Brasil, em 2014, por exemplo, darão lugar a trajetos bem mais curtos. A maior distância entre estádios será de 55 quilômetros, da arena de Al Wakrah até a de Al Bayt. Em solo brasileiro, 4,8 mil quilômetros separam a Arena Amazônia, em Manaus, do Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre. Já na Copa da Rússia, em 2018, o Estádio de Kaliningrado estava a mais de 3 mil quilômetros do Estádio de Ekaterinburgo.
Para facilitar ainda mais a vida do torcedor, um moderno sistema de metrô está em fase final de construção. Ele contará com três linhas, terá um alcance de 211,9 quilômetros e integrará todos os estádios da Copa. E o que já era perto, ficará ainda mais acessível. Se de carro o tempo entre o Estádio de Al Wakrah e Estádio de Al Thumama é de 16 minutos, de metrô esse número cai pela metade: oito minutos.
— É uma possibilidade ver três jogos por dia em estádios diferentes, dois com certeza os fãs verão confortavelmente. Nosso objetivo é facilitar ao máximo para que os torcedores consigam ter a melhor experiência da Copa no Catar — disse Mashal Shahbik, ministra de turismo do país.
As estimativas apontam que o custo total dos estádios, sistemas de transporte, hotéis e pelo menos uma cidade inteiramente nova atinja os US$ 200 bilhões — cerca de R$ 785 bilhões. A promessa é de entregar a melhor vivência futebolísticas aos torcedores que desembarcarão no país mais rico do mundo árabe.
Calor não será problema
As altas temperaturas que castigam o Catar nos meses de junho e julho, período do verão no Golfo Pérsico, não serão problema para o Mundial de 2022. Com a média de temperatura entre 40 e 50ºC, a Fifa não pensou duas vezes e transferiu a Copa do Mundo no país árabe para o final do ano: entre os dias 21 de novembro e 18 de dezembro. Nesta época, a temperatura é de no máximo 30ºC.
Ainda tendo o calor como ingrediente que preocupa na competição, o Comitê tratou de garantir o conforto dos jogadores e torcedores. Todos os oito estádios do Mundial contarão com um sistema mordeno de climatização. Com isso, a temperatura prometida durante os jogos será de 23ºC.
— Na inauguração do Khalifa, em maio de 2017, época de calor aqui, a gente sentiu frio lá dentro. Minha esposa estava com casaco. O calor certamente não será problema — garantiu Tabata.
Confira os detalhes dos estádios da Copa de 2022, no Catar, clicando na imagem abaixo:
*A repórter viajou a convite da Federação de Futebol do Catar