Organização europeia com recursos naturais que remetem ao Brasil. Assim pode ser resumida rapidamente Sochi, a casa da Seleção Brasileira na Copa. Aqui, neste balneário, uma rara versão russa de calção e camiseta, a Seleção ficará até as quartas de final, caso avance até lá.
O lugar foi escolhido a dedo, para proporcionar um ambiente descontraído e um relaxamento em um momento de tensão que é a Copa. Tanto é que, na última segunda-feira (11), Tite deu folga ao grupo e, em vez do treino, eles foram à praia curtir os 32ºC e a água do Mar Negro levemente aquecida, a 22ºC.
A Seleção Brasileira seguiu o modelo da Alemanha na Copa de 2014 na hora de escolher sua sede. Queria uma cidade que aproximasse os jogadores do Brasil. Conseguiu. Andar por Sochi remete muito às nossas cidades litorâneas. Há verde em excesso, bosques preservados e morros verdejantes.
A impressão de se estar em casa aumenta nestes dias de primavera, com calor e ruas lotadas de turistas. Os russos enchem aviões e desembarcam na cidade para aproveitar suas férias ao sol depois de um longo inverno. E eles se esbaldam. É comum ver homens sem camisa, exibindo suas silhuetas brancas – em alguns casos, já variando para um perigoso tom rosado.
Chamada de Riviera russa, a cidade sempre foi endereço de férias na Rússia. Na época em que comandava o país com mão de ferro e nenhuma piedade, Josef Stálin fugia do inverno rigoroso em sua "datcha", como se chama por aqui a casa de campo ou de praia. Ainda hoje, o local é um ponto turístico da cidade. O período sombrio do comunismo não é escondido. Mas Sochi parece ser um dos exemplos mais gritantes do quanto ele ficou para trás. Passou a ser vitrine para o mundo de um novo momento do país.
A cidade passou por uma transformação para a Olimpíada de Inverno de 2014. A estimativa é de que tenham sido gastos 40 bilhões de euros. Uma exorbitância, mas Vladimir Putin bancou pela primeira vez a realização de Jogos de Inverno numa praia ornada por palmeiras — importadas da Itália, é bom que se diga. Funcionava assim: muitos dos atletas competiam na neve do Cáucaso, a cerca de 40 quilômetros da cidade, e voltavam para a beira da praia no Mar Negro, onde a temperatura girava em 10°C.
Mais do que fama, Sochi ganhou calçadões e 550 quilômetros de estradas e ferrovias – o trem Latoschka sai do aeroporto e vai para a região hoteleira pela costa, em um trajeto de encher os olhos. Percebe-se isso andando das autopistas de três ou quatro faixas. E os motoristas aqui as aproveitam. A velocidade média nunca baixa dos 90, 100 Km/h – isso não vale, claro, para os poucos Ladas que ainda se vê rodando por aqui.
À beira da praia, em boa parte de sua extensão, tem calçadão e oferece ciclovias, praças e pista de corrida. Nestes dias de calor, em que a população de 500 mil habitantes quase duplica, um enorme letreiro Rússia 2018 serve de cartão postal diante do Parque Olímpico. Serve também de ponto de parada para fotos. Aliás, Sochi faz questão de mostrar em suas avenidas o passado recente. Os anéis olímpicos estão diante do aeroporto. No caminho até a região costeira, grandes anéis estão espalhados pelos canteiros, cada um homenageando um dos continentes.
O próprio Parque Olímpico é um capítulo à parte na cidade. Localizada no distrito de Adler colado a Sochi, virou uma versão russa e esportiva da Disney. No entorno do Fisht Stadium, estão os ginásios de patinação e provas de velocidade e a pista de biatlo. Mais atrás, fica a pista que recebe a F-1 todos os anos (nesta temporada, a prova será no dia 30 de setembro).
Na parte frontal do complexo, a impressão é de se estar na Disney. Restaurantes e museus em prédios estilizados e um pequeno parque de diversões compõem o cenário. Um desses museus promete levar o visitante aos tempos da União Soviética. Os locais aproveitam o espaço do parque caminhar, andar de bicicleta ou zunir em lambretas elétricas. É comum ver pais com crianças pequenas curtindo ali o dia de sol.
Mas é na região central que Sochi borbulha. Restaurantes oferecem aos turistas um cardápio variado. Desde a pizza de um estabelecimento em estilo italiano chamado Mama Mia até comida georgiana, passando pelo sushi. Depois de um dia na praia, é ali que os turistas repõem as energias.
Acabado o jantar, a noite convida para caminhadas na orla, em um calçadão colorido de flores e muito bem iluminado. A região do porto é concorrida e atrai o maior número de turistas.
Essa agitação toda faz a Seleção Brasileira ficar em segundo plano. Os russos parece ainda não estarem sintonizados com o clima da Copa. Nem mesmo o fato de Neymar, Marcelo e Phillipe Coutinho, para citar os mais badalados, estarem por perto muda a rotina da cidade.
Na frente do hotel da Seleção, o Suissôtel Resorts, um dos quatro cinco estrelas de Sochi, ninguém faz vigília no portão à espera de um autógrafo. Afinal, esperar está longe de ser um dos programas de férias na Riviera russa.