Em sua oitiva na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal que apura a manipulação de resultados e as apostas esportivas, o dono da SAF do Botafogo, John Textor, afirmou que irá apresentar, em sessão secreta com os senadores membros da comissão, a íntegra dos relatórios que trariam provas de supostas interferências indevidas e fraudulentas nos resultados de jogos das edições de 2022 e 2023 do Campeonato Brasileiro, as quais tiveram o Palmeiras como campeão.
- Reunião secreta apresentou nomes de jogadores e árbitros que podem estar envolvidos em manipulação;
- Presidente da CPI diz que há "indícios importantíssimos";
- Nova sessão será na quarta-feira (24) para debate sobre o relatório.
O presidente da CPI, o senador Jorge Kajuru (PSB-GO), disse que, após a reunião secreta — que foram apresentados nomes de jogadores e árbitros que estariam envolvidos em manipulação —, a sessão será retomada para esclarecimentos junto à imprensa.
Na primeira parte da sessão, que durou quase três horas, Textor respondeu a perguntas de senadores sobre as acusações feitas acerca de possíveis manipulações de resultados nos jogos das últimas duas edições do Campeonato Brasileiro. Em sua fala, o mandatário da SAF do Botafogo afirmou que sua intenção é pensar no futuro da competição e não necessariamente reaver prejuízos do passado.
Textor citou algumas vezes a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, mas reafirmou que não acusou o clube alviverde ou qualquer outra equipe de participação nas manipulações esportivas.
— Por sorte não falo português para entender o que ela disse sobre mim. Outros presidentes tiveram diferentes reações. Ela tomou a decisão de me atacar e me difamar. Tratei com calma do assunto, mas ela preferiu outra abordagem — disse.
O dono da SAF do Botafogo ainda afirmou que os relatórios produzidos pela Good Game! não apontam o porquê de as manipulações terem ocorrido, apenas destaca que elas aconteceram durante o jogo a partir da identificação de "movimentos anormais" de atletas e árbitros.
— As nossas evidências dizem como o jogo é manipulado, mas não dizem por que o são — explicou Textor.
Questionado pelo senador Romário (PL-RJ), relator da CPI, se teria interesse em vender a SAF do Botafogo — suposição que circulou nas últimas semanas —, Textor negou e qualificou a pergunta como "estúpida".
— Com todo o respeito, essa é a pergunta mais estúpida que poderia existir. Se eu quisesse vender a minha participação (no Botafogo), eu não estaria dizendo essas coisas ruins que estão fazendo aqui (no Brasil), não estaria falando de corrupção. Eu nunca venderia um negócio dessa forma — afirmou o norte-americano.
Por fim, Textor sugeriu aos senadores que diminuíssem o poder da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A Fifa, entidade máxima do futebol, proíbe qualquer ingerência sobre federações nacionais por parte de órgãos de Estado, sejam atrelados aos poderes Judiciário, Legislativo ou Executivo.
— Existe uma caixa preta em relação à escolha dos árbitros. Precisamos de liderança na CBF. Vocês deveriam limitar o poder da CBF. Deveriam privatizar a operação da liga (Campeonato Brasileiro). Existe uma força muito grande por trás da organização do torneio. Acabei me tornando uma pessoa polarizada. Isso se tornou a minha cruz. Vocês sabem o que estão fazendo e peço a vocês que diminuam o poder da CBF. O Brasil exporta os melhores jogadores do mundo. E eu acredito que esse jogo tem de ser jogado aqui. Então, está na hora de limpá-lo — afirmou Textor.
Senador diz que há "indícios importantíssimos" apresentados por Textor
Após a reunião privada, na qual foram apresentados nomes de jogadores e árbitros que estariam envolvidos em manipulação, o senador Jorge Kajuru (PSB-GO), presidente da CPI, deu uma forte declaração:
— Não queremos falar em provas, mas são indícios importantíssimos. Apresentou com detalhes e riqueza, mas consideramos indícios. Não se tratou apenas do CEO do Botafogo trazer fatos ou indícios do seu clube, o Botafogo. Falou de outros jogos, de outros clubes — disse.
A comissão terá nova sessão na quarta-feira (24), a partir das 14h, quando o relatório de Textor deve ser debatido com maior profundidade pelos parlamentares.
— Temos indícios suficientes para investigar profundamente, independentemente, e chegarmos às conclusões em nossas próximas reuniões. Os indícios transcenderam o comportamento dos jogadores. A questão do VAR, de analises de imagens supostamente negadas. Temos que entender porque isso aconteceu. O que a CBF tomou o não de providências em relação ao que agente viu — acrescentou Eduardo Girão (Novo-CE), vice-presidente da CPI.