O gol de mão marcado pelo centroavante Jô em uma vitória por 1 a 0 do Corinthians sobre o Vasco, em 2017, foi o sinal de alerta no futebol brasileiro de que o olho humano já não tinha mais capacidade de acompanhar a velocidade do futebol. Naquele momento, para apagar um incêndio provocado por um escândalo de arbitragem, a CBF chegou a prometer que a implementação do árbitro de vídeo ocorreria imediatamente, na rodada seguinte do Brasileirão.
Os dirigentes da entidade perceberam que a diferença entre o discurso e a prática para a utilização do recurso eletrônico estavam distantes. Prova disso é que foram necessários quase dois anos para que a principal competição nacional do país tivesse a condição de contar com o VAR desde a primeira rodada. Em mais de 840 horas de treinamentos divididas em 14 turmas, um total de 90 árbitros, 184 bandeiras e 16 instrutores foram capacitados para trabalhar com o recurso. Além disso, 20 estádios foram equipados com a tecnologia para receber os jogos.
— Que o principal resultado seja a qualidade dos árbitros dentro do campo. Essa é a nossa intenção sempre dentro do critério de imparcialidade. Que a arbitragem não seja tão foco das atenções nessa competição, por mais que seja quase impossível que o árbitro de vídeo não seja o assunto — projeta o gaúcho Leonardo Gaciba, que deixou a condição de comentarista da TV Globo para assumir o comando da Comissão de Arbitragem da CBF há duas semanas.
A partir desde sábado (27), a história de 380 jogos que marcam o primeiro Brasileirão com o uso do VAR começa a ser escrita. Os árbitros de vídeo terão entre oito e 19 câmeras à disposição na sala de operação de vídeo para cada uma das partidas. Com estas ferramentas, terão o objetivo de auxiliar o juiz principal a alcançar a melhor decisão na correção de erros claros ou incidentes graves não percebidos dentro de campo em quatro situações de jogo: gols, pênaltis, expulsões diretas ou verificação de identidade de um infrator para evitar que um cartão seja aplicado para o jogador equivocado.
— Fui árbitro de vídeo durante oito anos — brinca Leonardo Gaciba sobre o tempo em que foi comentarista de arbitragem. — É uma realidade completamente diferente. Uma coisa é exercer opinião sobre um fato. Outra é ter que buscar as imagens mais apropriadas e intervir diretamente no jogo. Este será o grande desafio. O interessante é conseguir ter o senso de justiça. Ter o mesmo peso e a mesma medida para os dois lados. Assim como o árbitro de futebol, o árbitro de vídeo também terá que aprender qual é a direção. Vamos ter que estabelecer o que é linha de intervenção para que a gente tenha o verdadeiro ganho que o árbitro de vídeo traz para o futebol — acrescenta.
Se o VAR ainda gera dúvidas nos torcedores por não ter entrado na rotina do futebol brasileiro, para os árbitros, não é diferente. Na semana que passou, toda arbitragem da primeira rodada da Série A participou de reunião na Granja Comary para a realização dos últimos ajustes antes da estreia. Eles receberam orientações de instrutores e analisaram todos os lances registrados nos jogos decisivos dos campeonatos estaduais com uso do VAR. Em meio a algumas polêmicas registradas pelo país, Leonardo Gaciba reitera que é muito importante fazer com todos tenham claramente as orientações e que uma linha de trabalho comece a ser construída. Buscar a uniformidade de critérios é o principal objetivo.
— Uma coisa é apitar campeonato estadual e outra é apitar Campeonato Brasileiro. É importante juntar todo mundo. O Brasil é um continente. São várias culturas diferentes que se juntam em um lugar só. Esse é o primeiro passo. Colocar o chip do Brasileirão na cabeça de todos esses árbitros que trabalharão conosco. Acredito que essa reunião pode dar uma uniformidade, pelo menos para a largada. Depois, quando houver a parada para a Copa América, nós vamos nos reunir novamente e fazer uma avaliação do trabalho — diz o chefe da arbitragem nacional.
Serão três árbitros de vídeo por partida, dois oriundos da função de juiz central e um será bandeira. O VAR será o responsável pela avaliação dos lances e pela comunicação com o árbitro dentro de campo. O AVAR 1 (primeiro assistente do VAR) fica com a responsabilidade de auxiliar no acompanhamento do jogo em tempo real quando alguma revisão estiver em curso. O AVAR 2 (segundo assistente do VAR) será o especialista para lances de impedimento. Além dos três árbitros de vídeo, há outros dois profissionais com funções específicas na sala em que estarão localizados os monitores. O operador de replay, que disponibiliza as imagens para o árbitro de vídeo, e o supervisor, que confere se os procedimentos estão adequados ao protocolo a ser seguido. Há ainda um assistente de revisão que ficará no campo para garantir que o vídeo à beira do gramado estará em pleno funcionamento.
— O Brasil entra com pouca experiência no cenário internacional do árbitro de vídeo. Mas, ao término da temporada, nós seremos o país com maior número de jogos. Teremos uma experiência monstruosa. No Campeonato Brasileiro, serão 380 jogos, e aí se juntam mais 24 dos estaduais. Nós teremos mais de 400 jogos com árbitro de vídeo. Acredito que, no final do ano, espero e vou trabalhar para isso, nós seremos uma referência no mundo — completa Gaciba.
Nove envolvidos por jogo
Sábado, 27/4 — 19h
Arena Condá — Chapecó (SC)
Chapecoense x Inter
Árbitro: Raphael Claus (Fifa)
Assistente 1: Marcelo Van Gasse (Fifa)
Assistente 2: Danilo Ricardo Simon (Fifa)
Quarto Árbitro: Douglas Marques (SP)
Analista de Campo: Marco Antônio Martins (CBF)
VAR: Ricardo Marques Ribeiro (Fifa)
AVAR 1: Igor Benevenuto (MG)
AVAR 2: Bruno Salgado (SP)
Supervisor de protocolo: Gilberto Corrale (CBF)
Domingo, 28/4 — 11h
Arena — Porto Alegre (RS)
Grêmio x Santos
Árbitro: Bruno de Araújo (RJ)
Assistente 1: Rodrigo Correa (FIFA)
Assistente 2: Thiago Henrique Neto (RJ)
Quarto Árbitro: Alexandre Vargas (RJ)
Analista de Campo: José Mocelin (CBF)
VAR: Rodrigo Carvalhaes de Miranda (RJ)
AVAR 1: Marcelo de Lima Henrique (RJ)
AVAR 2: Michael Correia (RJ)
Supervisor de Protocolo: Paulo Jorge Alves (CBF)