A tabela de classificação do Campeonato Brasileiro mostra, na 17ª rodada, algo raro na história do futebol gaúcho. Grêmio e Inter estão juntos no G-4 e, hoje, ambos conquistariam uma vaga direta para a Libertadores, o que só ocorreu uma vez na era dos pontos corridos, em 2006.
A Dupla esteve entre os quatro primeiros colocados na competição nacional em apenas 32 das 527 rodadas em que disputou simultaneamente a Série A desde 2003. O cenário agora se opõe à tradicional "gangorra" que historicamente caracteriza a rivalidade da aldeia.
— Concordo que excepcionalmente hoje não está havendo a gangorra. O fato de os dois estarem no G-4 se dá em função de que sempre um serviu de paradigma para o outro. O Grêmio sempre puxou o Inter, e o Inter sempre puxou o Grêmio. O Inter saiu da Segunda Divisão, tinha consciência de que teria que fazer um time e fez mais que um time, fez um grupo razoável — avalia André Krieger, ex-vice de futebol do Grêmio. Mas ainda é cedo para dizer. O Grêmio tem um acúmulo de competições, e o Inter ainda tem de mostrar muito — completa.
O quadro atual, quase ao fim do primeiro turno, apresenta semelhanças com 2006. Naquele ano, o Grêmio vinha da Série B e, em uma reação liderada pelo técnico Mano Menezes, terminou a competição em terceiro lugar, com 67 pontos, a dois do vice-líder Inter, que meses antes havia conquistado seu primeiro título da Libertadores.
Agora é o Inter que volta da Segunda Divisão e, no Brasileirão, está em terceiro lugar, com 32 pontos, dois à frente do Grêmio, que é o atual tricampeão da América e, mesmo dividindo o foco com a Libertadores e a Copa do Brasil, consegue se manter no G-4.
— Há um ano, a gangorra estava mais absurda do que nunca, com o Grêmio na Libertadores, e o Inter, na Segunda Divisão. Hoje, o momento do Grêmio é mais prolongado. Estamos falando de um trabalho de longo prazo, de dois ou três anos. Já o Inter vem muito em uma linha de recuperação. O Inter estar onde está hoje não me parece uma surpresa. Surpresa era ver a equipe colorada na Segundona — opina o comentarista do SporTV, Sérgio Xavier Filho.
O termo "gangorra" foi cunhado pelo jornalista Lauro Quadros, no final dos anos 1960.
— Foi a figura que encontrei para definir a situação do sobe-e-desce da dupla Gre-Nal. Tem essa coisa de que, quando um está em cima, o outro está embaixo. Os dois estarem bem não é tão frequente e os dois estarem mal também não é tão comum. As décadas de 1940 e 1950 foram do Internacional. A década de 1960 foi do Grêmio, já a de 1970, do Inter. Tem essa gangorra periódica — destaca Lauro.
Para o ex-vice de futebol do Inter Ibsen Pinheiro, o bom momento da Dupla no Brasileirão se deve à boa gestão dos presidentes Romildo Bolzan Júnior e Marcelo Medeiros e à organização tática dos técnicos Renato Portaluppi e Odair Hellmann.
— O Grêmio já vinha bem, desde que assumiu o Romildo Bolzan. Já a atual direção do Inter acertou, não só quando escolheu Odair Hellmann, como também pelos reforços. Não que todos sejam acertados, mas quando se tem boa média de acertos o resultado acaba vindo com uma continuidade. Prova disso é que a primeira coisa que apareceu arrumada foi a defesa do time. Não há campanha que se faça sem uma boa defesa. Um edifício, por mais lindo que seja, não existe sem alicerce. Rodrigo Dourado está em um grande momento e o camisa 5 é fundamental em uma organização defensiva. A segurança defensiva e o bom meio-campo estão levando os dois times. Essas razões são as causas principais do desempenho relativamente bom da dupla Gre-Nal — afirma.
Para Sérgio Xavier, Grêmio e Inter apresentam qualidade para manter a boa campanha até o final do campeonato, o que garantiria para o Rio Grande do Sul duas vagas na Libertadores, como ocorreu em 2006.
— O Inter vai ter dois meses de folga em relação aos outros. A dedicação exclusiva ao campeonato faz muita diferença. O Inter pode fazer uma poupança de pontos no momento em que ele mesmo precisa um pouquinho mais de confiança. Com relação ao Grêmio, é quase o contrário. Vai passar por maus bocados, porque tem muitos campeonatos para pouco elenco. Como vimos, é um time mais velho e que está tendo problemas de segundo tempo. Só que a vantagem do Grêmio é que tem um time pronto, com uma ideia e sem problemas de confiança. Além disso, é o atual campeão da América. Há uma tendência de os dois ficarem nesse grupo de cima, mas por razões diferentes — finaliza.