O vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) começa neste domingo, e esta dever ser a última vez em que a via de ingresso será 100% por meio da tradicional maratona de provas. A partir do próximo concurso, 30% das vagas serão preenchidas por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), processo seletivo desenvolvido pelo Ministério da Educação para que estudantes ingressem nas instituições públicas de Ensino Superior utilizando apenas a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
- A procura pelos cursos com maior densidade vai ser grande, e a concorrência nacional vai pesar bastante. A expectativa é termos muitos candidatos de outras regiões nesses cursos - afirma o vice-reitor da universidade, Rui Vicente Oppermann. - A adesão ainda é parcial, e o aumento desse percentual vai depender da nossa avaliação sobre os resultados desse novo processo. Mas as experiências de outras universidades mostram que, rapidamente, o Sisu tem se tornado a única forma de seleção.
Para se ter uma ideia do universo da concorrência, enquanto a UFRGS tem hoje 42 mil inscritos para 5.461 vagas, a edição do Sisu no primeiro semestre de 2013 teve mais de 1,7 milhão de inscritos em busca de uma das 129.319 vagas em 3.752 cursos de 101 instituições públicas de educação superior. Os números tendem a ser maiores neste ano, já que novas universidades aderiram ao programa, e a última edição do Enem registrou crescimento de 24% na quantidade de inscritos em relação a 2012.
Para Cida Almeida, professora de história e sociologia do Colégio Farroupilha, a mudança não terá tanto impacto no método das escolas, já que o currículo do Ensino Médio vem sendo adaptado há anos para enfatizar o conteúdo e a abordagem dos assuntos cobrados no Enem.
- Já estamos há um bom tempo trabalhando com os alunos dentro dessa perspectiva do Enem, porque é uma proposta mais inovadora e reflexiva, e não tanto de decorar conteúdo. Por isso, valorizam-se agora disciplinas como sociologia e filosofia, às quais antes não se dava tanta ênfase, mas que ajudam nesse pensamento reflexivo e contextualizado - afirma Cida.
Apesar da mudança para o vestibular 2015, os candidatos não precisam desenvolver dois métodos diferentes de estudo, um para o Enem e outro para o concurso. O importante é a dedicação aos estudos. Segundo Ênio Kaufmann, professor de física do Unificado, a alteração na forma do processo seletivo muda muito pouco em termos práticos.
- A preparação do vestibular da UFRGS continua absolutamente igual. O Enem 2013 mostrou uma clara tendência de ficar muito mais parecido com o vestibular, até para chamar as grandes universidades para aderirem ao Sisu. As questões de física na prova de 2013 do Enem caberiam perfeitamente como questão no vestibular da UFRGS.
Adesão ao sistema sofre resistência
A professora de redação e diretora do Unificado MED, Luísa Canella, afirma que a preparação específica, com professores trabalhando as questões do Enem em sala de aula, é, sim, importante, mas o fundamental para se preparar bem para esse tipo de concurso é fazer muitos simulados das provas de anos anteriores. Ela prefere a avaliação da UFRGS e critica o método de aplicação do Enem, com duas provas seguidas no fim de semana. Para Luísa, o exame poderia ser feito em quatro turnos.
- A afirmação de que o Enem é uma prova mais acessível é bastante questionável, porque é mais cansativa e parece realmente exigir mais de um aluno-leitor. E essa formação do aluno-leitor é uma construção muito a longo prazo, durante os 12 anos de estudo, e não só no Ensino Médio.
Gustavo Reis, professor de matemática e blogueiro do ClicRBS, é um dos críticos à proposta de adesão da UFRGS ao Sisu.
- A gente vai trocar um cenário de segurança, comprovado por 40 anos de concurso, por um cenário de insegurança respaldado por cinco anos de problema. Sem entrar no mérito da interdisciplinariedade e de como a nota é calculada, a gente ainda está muito longe de conseguir aplicar um Enem que garanta de ponta a ponta a segurança e a lisura do processo. A gente jamais vai confiar no Enem como a gente confia no vestibular da UFRGS - afirma Reis.
De acordo com o vice-reitor Oppermann, apesar da grande concorrência, essa mudança não irá prejudicar os estudantes, mas oferecer a eles uma segunda chance para conseguir a vaga em uma das melhores universidades do país:
- Parece pouco, mas é uma oportunidade que o candidato tem de uma nova chance. Antes, era só uma porta de entrada, agora, temos duas. E tem de se preparar bem para as duas.
Processo seletivo
Ingresso via Sisu deve preencher 30% das vagas da UFRGS a partir do próximo ano
Este é o último ano em que o ingresso será feito 100% via vestibular
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