Ingressar em uma nova etapa na escola, passar no vestibular ou concluir a graduação: mudanças tão batalhadas pelos estudantes podem trazer sentimentos mesclados de empolgação e angústia. Época de festa, a virada do ano representa uma transformação na vida para aqueles que estão concluindo uma fase para, em 2024, começar outra.
A forma de lidar com esses momentos de fins e inícios de ciclos dependerá da maneira como o sujeito se relaciona com o mundo, com os outros e com a passagem do tempo, segundo a psicóloga Laura Graña.
— As ferramentas que vamos desenvolvendo nesses momentos vão construindo como nos sentimos, ao compor com os movimentos da vida: crescimento e expansão têm como uma de suas bases a forma como conseguimos lidar com os fins das coisas. Nós somos fluxos constantes de construção de territórios existenciais, e, no momento em que construímos um novo território, já não estamos no mesmo de antes. Isso envolve lidar com términos, encerramentos, transições — observa a profissional.
Laura cita o cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler, que, em uma de suas canções, diz: “estamos vivos porque estamos em movimento”. Esse movimento sempre significa a perda de algo conhecido, que permitirá, logo em seguida, existir em novos lugares, diz a psicóloga.
Ter com quem compartilhar as dores e as delícias dessas transições ameniza a sensação de desamparo que elas podem trazer, suporte importante a ser dado, por exemplo, pelos adultos às crianças e adolescentes que enfrentam esses momentos.
— Adultos têm potencial para compreender que qualquer alteração no ambiente tem um significado grande para a criança e que nem sempre isso será vivido com tranquilidade: a perda do convívio com colegas, a troca de escola, as mudanças corporais que a puberdade traz, o fim de um período escolar, tudo é transformação, e esses eventos costumam ser vividos com grande intensidade — cita Laura.
A manifestação da profusão de sentimentos gerados nessas ocasiões pode acontecer por meio de alterações no comportamento, nem sempre compreensíveis ou administráveis, alerta a profissional – enquanto alguns ficarão mais introvertidos e distantes, outros precisarão compartilhar mais, ficarão agitados ou, aparentemente, não se afetarão. É importante que essas manifestações não sejam lidas como “birra”, algo que pode levar familiares a agirem de uma forma autoritária que reforçará a dificuldade da criança com aquela transformação, e tampouco tomar para si o protagonismo daquele momento.
— Um adulto emocionalmente disponível, com quem a criança ou o adolescente possa compartilhar as experiências que desejar, ser escutado com afeto e respeito às suas possibilidades de expressão, é certamente um alívio, diante do mundo que pode se apresentar tão encantador quanto amedrontador — pondera Laura.
Veja histórias de estudantes que estão neste período
Aos seis anos, Catarina Rosso de Barros vai encarar no ano que vem o 1º ano do Ensino Fundamental. Estudante do Colégio Marista Rosário, em Porto Alegre, a menina segue os passos do irmão mais velho. Já a estudante Sofia Ferro Wenzel, 15 anos, não só começará o Ensino Médio, como trocará de escola em 2024. A mudança tem gerado uma série de incertezas e questionamentos na adolescente que mora na Capital.
Isabela Danzmann, 18 anos, de Cachoeirinha, conseguiu uma vaga em Fonoaudiologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Para se preparar, ela prestou o Exame Nacional do Ensino Médio desde o 1º ano. A etapa do Ensino Superior está sendo vencida por Matheus Barcelos, 25 anos, mas ele já prepara o novo ciclo profissional. Foi aprovado em duas seleções de mestrado e pretende clinicar.