Cinco meses após o início do ano letivo, parte dos estudantes de ao menos dez municípios gaúchos está impossibilitada de frequentar as aulas da rede estadual por falta de transporte escolar. Os problemas envolvendo contratação de empresas que prestam o serviço se estenderam por todo o semestre, e seguem sem uma previsão para serem totalmente resolvidos.
Segundo a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) há necessidade de regularizar de forma integral o transporte escolar em Gravataí, na Região Metropolitana; Dilermando de Aguiar, Cachoeira do Sul, Cacequi, na região central; Santana do Livramento e Rosário do Sul, na Fronteira Oeste, Candiota, na Campanha; São Lourenço do Sul e Piratini, na região sul.
Ao todo, 27 municípios decidiram não integrar ao Programa Estadual de Apoio ao Transporte Escolar (Peate) em 2022. A medida permite que os próprios prefeitos façam a contratação das empresas que irão prestar o serviço. Esses prefeitos alegam que o programa não é sustentável para os cofres municipais. Dessa forma, o governo gaúcho fica responsável pelas licitações de cada linha, representada por lotes.
Algumas dessas linhas, conforme a Seduc, chegaram a ter os contratos firmados, mas acabaram sendo encerrados e não foram renovados. Em outros casos as linhas não foram regularizadas desde o início do ano.
Em Piratini, por exemplo, a maioria das rotas já está abastecida por ônibus desde maio. No entanto, uma das empresas contratadas operou por apenas dois dias, e acabou rompendo o contrato logo depois. Por conta disso, onze alunos estão sem conseguir se deslocar até a Escola Estadual Carmosina Vaz Guimarães. Um deles é Donato Guterres de Moura, 17 anos, que está no último ano do Ensino Médio e mora a cerca de 20km da instituição.
— Eu tenho que terminar o Ensino Médio, vou fazer 18 anos. Mas acho que não vou conseguir terminar, pois não sei até quando vai durar esse problema. Está muito difícil pra mim — afirma.
Elizete Marques Domingues é mãe de uma estudante de 15 anos do mesmo grupo de alunos que permanecem prejudicados pela ausência de transporte. Elizete conta que até maio foi possível acompanhar as aulas de forma online. No entanto alega que, desde o retorno da maioria dos estudantes à escola, os conteúdos não têm sido mais repassados.
— Ela não está fazendo nada. Fica falando o tempo todo: "Quero ir pra escola, quero ver meus amigos”. É desesperador — desabafa a mãe.
O diretor da escola, Gilmone Zago dos Santos, garante que os professores têm a obrigação de repassar os conteúdos de forma online para quem não está conseguindo acompanhar as aulas de forma presencial, mas reconhece que muitas delas não possuem condições de realizar esse tipo de acompanhamento.
— São pessoas que moram em uma região afastada, com pouco acesso à internet. Queremos que isso se resolva logo, estamos pedindo para a prefeitura nos ajudar, na volta do recesso, caso as coisas sigam como estão — ressalta Gilmone.
Sobre Piratini, a SES afirmou que o impasse deve ser solucionado em até 15 dias. Nas demais cidades, a pasta não informou o prazo para normalizar a situação.