Por Raquel F.A. Teixeira
Secretária da Educação do Estado do Rio Grande do Sul
O mundo que emerge e que deve se consolidar no pós-pandemia é um mundo diferente do que tínhamos em dezembro de 2019. Nossas escolas não são mais as mesmas de março de 2020, como não são as mesmas nossas relações sociais e laborais. A pandemia, no entanto, apenas acelerou mudanças que já vinham acontecendo.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que hoje orienta os currículos de todas as escolas, públicas e privadas, já é uma resposta à necessidade de mudança de uma escola que, criada há mais de 200 anos, não mais fazia sentido no mundo atual. Os sinais de exaustão do modelo mostravam-se principalmente nos resultados: altos índices de reprovação, evasão e abandono e baixos índices de aprendizagem.
Diante disso, a chegada do novo Ensino Médio (EM) às escolas gaúchas neste ano marca o início da transformação que tornará as práticas realizadas nas instituições de ensino mais atraentes aos estudantes e em conformidade com o que os jovens vivem na sociedade atual.
Os novos currículos de EM, em todo o Brasil, foram construídos para preparar o jovem para a vida, não para as provas. Toda herança de ensino enciclopédico, memorizado, está sendo substituída por uma escola que integra competências cognitivas e socioemocionais, teoria e prática. A oferta de uma jornada escolar que favorece o desenvolvimento integral do jovem, que estimula seu protagonismo e valoriza a aprendizagem ativa sugere uma arquitetura curricular nova, flexível, que tira as disciplinas das “caixinhas” e trabalha com áreas de conhecimento.
Na rede estadual de educação do Rio Grande do Sul, o processo de implementação do novo Ensino Médio ocorrerá de forma gradativa, iniciando pelo 1º ano. Isso significa que, em 2022, os alunos que entrarem no 1º ano encontrarão em suas escolas a nova arquitetura curricular, com oferta de 800 horas de Formação Geral Básica e 200 horas de Itinerários Formativos, a saber, Projeto de Vida, Mundo do Trabalho e Cultura e Tecnologias Digitais.
Os alunos que estão no 2º ano e no 3º ano continuarão no modelo antigo, ou seja, terminarão o Ensino Médio no modelo em que entraram. A implementação da nova arquitetura será escalonada, sendo concluída em 2024, quando os alunos do 1º ano de 2022 estarão no 3º ano e realizarão o novo Enem, que está sendo reformulado para atender à reforma.
Importante destacar que a carga horária dos professores não será afetada, estando presente dentro da Formação Geral Básica ou dos Itinerários Formativos, sem nenhum prejuízo aos docentes.
Uma novidade no EM é a oferta de disciplinas eletivas, para além da carga das mil horas, e o estímulo a clubes, oficinas, projetos, incubadoras, núcleos de estudo e criação artística e outros espaços que possam ampliar a prática e a cultura do esporte, das artes, da iniciação científica, de projetos criativos e inovadores e de tudo que possa proporcionar maior interesse do estudante em permanecer no ambiente escolar. Essa é a mudança mais profunda que a educação já viveu e é natural que gere incertezas e dúvidas.
A rede gaúcha já tinha familiaridade com o modelo, por meio de um piloto realizado em 264 escolas. Com o objetivo de aprofundamento no assunto, realizamos um grande Seminário Estadual de Ensino Médio, em outubro, disponível a todos no canal TV Seduc, no YouTube. Os professores estão tendo capacitações em Projeto de Vida e Mundo do Trabalho desde 2021, e os programas de formação continuarão ao longo de 2022.
O quadro do jovem no Brasil agravou-se com a pandemia. Muitos alunos do EM tiveram que trabalhar para o sustento deles e da família. A maioria que se afastou em função disso. Mesmo permanecendo no ensino remoto ou híbrido, sabe que não aprendeu o desejável e está com a autoestima baixa, desanimado com seu potencial para o futuro. O nível de ansiedade e de depressão aumentou, o consumo de drogas, de bebidas alcoólicas e de cigarro, também. No geral, os jovens ficaram descrentes, e a escola tem o desafio de trazer esperança.
O novo modelo do Ensino Médio propõe caminhos inovadores para fazer da escola um lugar de jornadas de aprendizagens criativas, colaborativas, estimulantes não só para os alunos mas também para os professores, atores essenciais e insubstituíveis nesse processo de mudança.
É uma oportunidade de virar a chave e construirmos uma escola melhor.