Atraídos pelas diversas possibilidades de atuação profissional ou por ideais como justiça e democracia, estudantes contribuem para a posição do Direito como maior curso do Brasil: a soma das matrículas nas redes pública e privada resulta em mais de 830 mil futuros bacharéis, segundo o Censo da Educação Superior 2019, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Em comparação a 2009, quando havia cerca de 650 mil matriculados, o número pode assustar, principalmente, quem está de olho na faculdade. Mas há espaço para todos no mercado de trabalho, conforme especialistas.
A própria gama tradicional de profissões para formados em Direito é ampla: advogado, professor, político, juiz, promotor, procurador, entre outras. Nesse sentido, ainda há os cargos nem tão diretamente associados a essa carreira: diplomata, que atua no campo da política externa; delegado federal, que coordena atividades policiais investigando crimes políticos, federais, contrabando e tráfico; árbitro judicial, que resolve conflitos extrajudicialmente; e auditor fiscal, que abarca diversos agentes públicos responsáveis por fiscalizar o cumprimento da legislação – direitos trabalhistas e fiscais, por exemplo.
Confira os salários médios iniciais de algumas carreiras na área do Direito
- Auditor fiscal: R$ 14 mil
- Diplomata: R$ 19 mil
- Delegado federal: R$ 25 mil
- Árbitro judicial: R$ 25 mil
Os anos passam e as transformações acontecem em diversas áreas, seja por questões sociais, políticas ou tecnológicas. No Direito, não é diferente. As profissões se adaptam às novas realidades, e estar preparado pode ser menos estressante. Mais: saber enxergar e acompanhar tais transformações tornou-se um fator diferencial, comenta o coordenador do curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Elton Somensi de Oliveira.
— É perceptível a necessidade de formação contínua, para estar à altura das constantes novidades. Novas habilidades são exigidas daqueles que atuam na área jurídica. Habilidades que envolvem saber lidar com a inovação, sendo eles mesmos agentes de inovação, ou de empreendedorismo — enfatiza.
Transformações também dizem respeito à extinção de profissões e ao surgimento de outras, como o Direito digital. Essa área cresce a cada ano, conforme novas tecnologias aparecem, assim como os problemas judiciais gerados por elas ou por quem as utiliza.
Novas habilidades são exigidas daqueles que atuam na área jurídica.”
ELTON DE OLIVEIRA
Coordenador do curso de Direito da PUCRS
De acordo com o coordenador do curso de Direito da PUCRS, o Direito digital tem crescido não só como área específica, mas também transformado as tradicionais.
— Por um lado, a tecnologia tem provocado o surgimento de novas formas de relações, de novos tipos de controvérsias e conflitos e de novas regulações. Por outro, os avanços tecnológicos têm transformado a forma como acontece a atividade jurídica em áreas do Direito que já existiam antes deles: questões familiares, contratuais, penais etc — explica.
Upgrade digital
Conhecida como “a menina do Direito que entende de tecnologia” na faculdade e nos estágios que fez, Patricia Peck está mais do que adaptada ao Direito digital: seu primeiro caso ocorreu em 1999, um ano após se formar, época em que o acesso a tecnologias era bastante restrito. Hoje, a advogada tem doutorado pela Universidade de São Paulo (USP), 32 livros publicados e é conselheira titular do Conselho Nacional de Proteção de Dados (CNPD).
Para se tornar referência na área, a paixão partiu justamente da tecnologia. Começou cedo: aos 12 anos já estudava linguagem de programação. A união com o Direito veio após conversar com uma professora de História, no Ensino Médio.
— Estávamos debatendo sobre cursos universitários e eu comentei que era muito legal escrever um código de programa de computador e a máquina seguir as regras. Com as pessoas, é mais difícil. Ela (a professora) me orientou que deveria fazer a faculdade das regras, a de Direito — conta Patricia Peck.
O Direito digital alcançou todas as disciplinas do Direito, é o próprio upgrade dele, a inovação da área, um mercado extremamente promissor. Além disso, não tem limite territorial. Então, há uma tendência grande de internacionalização.”
PATRICIA PECK
Advogada e conselheira titular do Conselho Nacional de Proteção de Dados (CNPD)
Em 1994, a advogada ingressou na Universidade de São Paulo (USP). Na época, criou o site “Urbanóide” para discutir questões que envolvem Direito e tecnologia. De lá para cá, a área se expandiu: inicialmente, havia problemas de domínio e de marca por parte de empresas que gostariam de ter site; surgiram as lojas online e questões com venda, entrega e consumidor; vieram as mídias sociais e os conflitos entre os usuários; e, então, os aplicativos, que fomentaram ainda mais a discussão sobre o uso de dados.
É um setor que, sozinho, é capaz de gerar diversas oportunidades, porque tudo está sendo virtualizado: relações, dinheiro, operações, contratações. Segundo Patricia, é uma área multidisciplinar e transversal.
— O Direito digital alcançou todas as disciplinas do Direito, é o próprio upgrade dele, a inovação da área, um mercado extremamente promissor. Além disso, não tem limite territorial. Então, há uma tendência grande de internacionalização — destaca.
Desde a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) em agosto de 2020, problemas relacionados à privacidade no meio digital ganharam bastante visibilidade. É uma possibilidade (das tantas) de especialização para advogados.
Conforme o coordenador do Direito da PUCRS, Elton Somensi de Oliveira, a segurança de dados já é uma área com grande demanda. Ele reforça a necessidade de adaptação por parte dos profissionais, isto é, por meio de cursos, grupos e linhas de pesquisa. Ao encontro disso, Patricia Peck comenta que o futuro do bacharel em Direito exige outras formações além da jurídica, porque algumas atividades exercidas por esses profissionais poderão ser feitas por robôs.
— É preciso buscar conhecimento técnico. Precisamos concentrar a atividade do operador do Direito na parte intelectual, criativa, de pesquisa, de desenvolvimento das teses e no relacionamento com clientes — diz.
Justamente pela necessidade de reinvenção, há espaço no mercado de trabalho, também, para os jovens: enquanto profissionais experientes solidificam a tradição, estudantes ou recém-formados levam inovação ao time. Ambos se complementam, portanto.
Após a formatura
O que é possível fazer: exemplos de profissões para formados em Direito.
- Advogado
- Professor
- Juiz
- Promotor
- Procurador
- Diplomata
- Delegado federal
- Árbitro judicial
- Auditor fiscal
* Igor Morandi