Não bastasse ter de estudar os conteúdos tradicionais de qualquer ano letivo, este trouxe um desafio adicional a milhões de alunos de todos os níveis de ensino: foi preciso reaprender a aprender.
O esvaziamento das salas de aula como forma de prevenir a disseminação da covid-19 obrigou professores e estudantes a reformularem um modelo milenar de transmissão do conhecimento. No Rio Grande do Sul, os colégios estaduais fecharam as portas em 19 de março. Outras redes adotaram a mesma medida, levando a uma inédita paralisação generalizada do ensino gaúcho.
Aulas presenciais chegaram a ser retomadas nos sistemas estatais e privados, mas o nível de adesão dos estudantes foi baixo pelo medo de contaminação. Na maior parte do tempo, a educação se deu por meio das telas de computadores e celulares conectados à internet. O desafio foi compensar o fosso socioeconômico que separa os alunos mais afortunados e os mais pobres, sem equipamentos ou conexões disponíveis para as lições online. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2017 sobre uso de tecnologia apurou que cerca de 23,9% dos gaúchos não tinham acesso à internet em casa.
Estudo em uma escola pública e me adaptei bem ao ensino remoto, achei mais fácil para me concentrar. Mas eu já tinha internet em casa. E sei que nem todos têm.
PALAVRA DA LEITORA ANELISE CENTENO DO AMARAL
Estudante do Ensino Médio em Porto Alegre
Para superar a desigualdade estrutural crônica da sociedade, professores e alunos precisaram redobrar esforços e se habituar a novos modelos de aprendizagem, com aulas fora do ambiente escolar, o que seguirá se mostrando útil até o coronavírus ser expulso de vez das escolas e universidades.
Recuperar o tempo perdido a partir de 2021 se impõe como desafio extra para as comunidades escolares, do Ensino Fundamental ao Superior. Outro problema: a evasão, uma chaga brasileira cujo combate concentra esforços do poder público há décadas, tende a aumentar neste ano, segundo estimativas de institutos de pesquisa e analistas da educação no país.
Todos em recuperação
"2021 não será um ano letivo comparável aos anteriores. Recuperar 2020 é um desafio. Deveremos também fazer uma avaliação sobre as ferramentas que usamos, como podemos alcançar mais alunos no sentido da inclusão digital. O modelo híbrido de ensino deverá fazer parte das nossas vidas por mais tempo do que imaginávamos."
Gregório Grisa, doutor em Educação e professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS)