Casas viraram escritórios, escritórios viraram terra de ninguém. Reuniões se converteram em teleconferências, e as barreiras entre vida pessoal e profissional se tornaram uma fronteira imaginária. O modo como se trabalha sofreu modificações tão radicais neste ano que, provavelmente, fará as vidas de muita gente jamais voltarem a ser como eram antes.
A necessidade de distanciamento social provocada pelo coronavírus estimulou a migração de atividades presenciais para o teletrabalho, o que trouxe impacto na vida das pessoas e na organização das empresas. Dois anos atrás, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 3,8 milhões de profissionais atuavam remotamente. Esse número se expandiu para 8,4 milhões ao final de 2020, conforme levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre um total de 71,7 milhões de ocupados no país.
Muitos negócios passaram a adotar um modelo híbrido, em que parte das atividades é feita de forma presencial e o restante, a distância. Pelo novo sistema laboral, os horários se tornaram mais flexíveis, mas ficou mais difícil separar o tempo pessoal das demandas profissionais. Houve até casos em que a maior liberdade permitiu a funcionários mudarem de cidade sem precisar trocar de emprego – casas de veraneio no Litoral Norte, por exemplo, serviram de refúgio durante a pandemia. Com um telefone e um computador, passou a ser possível montar o próprio escritório onde se desejar.
A presença física de clientes nas imobiliárias que trabalham apenas com vendas já era pífia. Agora, quase tudo é online. Eu já estou parte do tempo em casa. Sinto falta do cafezinho e das conversas de cantinho, que são insubstituíveis.
PALAVRA DO LEITOR GILSON GOULART
Corretor de imóveis em Porto Alegre
É claro que a situação se restringiu a certas atividades, e outras, por pura necessidade, tiveram de seguir presenciais, mesmo em meio à pandemia. O futuro, no entanto, deve ser de nova realidade geral: estudiosos do mundo do trabalho preveem o estabelecimento definitivo de modelos híbridos, afirmados de formas variadas de acordo com a natureza de cada atividade ou empreendimento.
O provisório e o definitivo
"Atualmente, há 8 milhões de teletrabalhadores no brasil. Acredito que, no curto ou no médio prazo, chegaremos a 20 milhões. A maioria das empresas não estava preparada para isso, mas a tendência é o crescimento da quantidade de colaboradores a distância. O modelo híbrido de trabalho veio para ficar."
Luis Otávio Camargo Pinto, Presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt)