A nomeação do professor Carlos Bulhões para a reitoria da UFRGS, após ele ter ficado em terceiro lugar na lista de candidatos ao cargo, começou a ganhar apoio político de setores ligados ao presidente Jair Bolsonaro logo depois de a comunidade acadêmica ir às urnas, em meados de julho. Confirmado nesta quarta-feira (16) para liderar a universidade federal gaúcha, Bulhões teve a menor quantidade de votos dentre os três concorrentes, mas o presidente da República tem a prerrogativa de optar por um dos nomes da lista tríplice.
Pelo modelo da UFRGS, primeiro é feita uma consulta entre a comunidade acadêmica. Depois de apurado o resultado, há uma eleição no Conselho Universitário (Consun), integrado por 77 representantes discentes, docentes, diretores de unidades da UFRGS e servidores técnico-administrativos. Em caráter minoritário, há assentos no órgão para organizações externas, como um representante do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, da associação de antigos alunos e de entidades culturais, empresariais e de trabalhadores. Após a eleição, o Consun envia a lista tríplice ao Ministério da Educação (MEC). Bulhões ficou em terceiro lugar em ambos colegiados e, depois, teve início uma mobilização política em torno do seu nome.
— Pessoas ligadas à universidade pediram o apoio e nós encaminhamos ao Ministério da Educação (MEC). Isso foi logo depois que saiu a escolha dos candidatos — afirma o senador Luis Carlos Heinze (PP), um dos políticos gaúchos próximos de Bolsonaro.
Parlamentares como Ubiratan Sanderson e Bibo Nunes, deputados federais, e Ruy Irigaray, deputado estadual, todos do PSL, se envolveram nas articulações em favor da condução de Bulhões. Para eles, um dos principais argumentos era retirar a UFRGS da alegada situação de "aparelhamento".
— Participei da mobilização no próprio Palácio do Planalto, diretamente com a equipe do presidente Bolsonaro, pedindo para que fosse considerado o nome do Bulhões. Foi intenso. A nossa bandeira é retirar o aparelhamento ideológico das universidades. O Bulhões se comprometeu com isso, nessa linha de ação, de escola e universidade sem partido. É a postura pública dele quanto a isso — diz Irigaray, próximo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
— Faz cerca de 60 dias que estávamos nessa luta, ventilando o nome dele em Brasília. Certeza só se tem quando sai oficialmente, mas a gente já vislumbrava a sinalização positiva devido ao alinhamento com as pautas — completou Irigaray.
Na semana passada, após uma reunião no MEC, Bibo Nunes anunciou que Bulhões seria nomeado reitor, o que veio a se confirmar nesta quarta-feira, em publicação no Diário Oficial da União.
O deputado estadual Luciano Zucco (PSL) esteve em Brasília em reuniões recentes para tratar dos projetos das escolas cívico-militares e, na ocasião, também abordou o tema da reitoria da UFRGS.
— A gente tinha recebido a visita do Bulhões, ele se apresentando como um dos nomes. Eu e o deputado Sanderson estivemos não só no MEC, mas também falamos com o ministro Ramos (general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo) para, de alguma forma, destacar a importância de uma gestão apartidária. De forma responsável, falamos dos predicados do professor Bulhões e do seu currículo extenso — comentou Zucco.
Ele declarou estar "feliz" com a nomeação e disse que isso é resultado de "várias influências positivas, não de um ou dois parlamentares".
Na chapa de Bulhões, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), além da vice-reitora Patrícia Pranke, tem força o nome de Geraldo Pereira Jotz, professor titular da UFRGS, no Instituto de Ciências Básicas da Saúde, que foi o coordenador de campanha.
Sobre a polêmica de Bulhões ter sido indicado mesmo tendo ficado em terceiro, quebrando a tradição de o mais votado assumir o cargo devido à legitimidade perante os acadêmicos e docentes, os parlamentares afirmam que a escolha se trata de prerrogativa legal do presidente da República.
— Se a universidade tivesse total autonomia, não teria a necessidade de o chefe do Executivo nomear. O presidente é eleito para esse tipo de decisão, ele representa a maioria da população e entendeu que o melhor para a universidade era a terceira via. Bolsonaro é a autoridade maior e está exercendo o papel que o cargo dele permite — diz Irigaray.
Já o senador Heinze disse que "nem sempre se escolheu o primeiro candidato", se referindo ao mais votado, e que a nomeação é "prerrogativa do presidente".
Nos bastidores de Brasília, circulou pelo menos um vídeo apócrifo que procurava vincular a imagem de Rui Oppermann, atual reitor da UFRGS e primeiro colocado na consulta interna deste ano, a partidos de esquerda. O arquivo, que reunia fotos de eventos em que o reitor aparecia ao lado de parlamentares de partidos como PT, PCdoB e PSOL, foi remetido a políticos e militares e, conforme avaliações, ajudou a "fritar" Oppermann.