A cada dia, o tema diversidade se torna mais presente no mundo corporativo. Mas colocar em prática a pluralidade a partir das contratações ainda é um processo em desenvolvimento, segundo especialistas.
Na semana passada, Magazine Luiza (também chamada de Magalu) e Bayer anunciaram seleção exclusiva de candidatos negros nos seus próximos programas de trainee e geraram debate no Brasil. Segundo especialistas, o modelo de contratação das empresas segue a Constituição ao diminuir as desigualdades raciais e sociais. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, a juíza do Trabalho Noemia Aparecida Garcia Porto, presidente da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho), defendeu a iniciativa das empresas e ainda disse que a criação do programa é, além de constitucional, desejável.
Para a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Rio Grande do Sul (ABRH-RS), Crismeri Delfino Correa, quando uma companhia, independentemente do seu tamanho, entende a importância da inclusão, consequentemente começa a praticar o respeito e a valorização das diferenças.
— Quanto mais uma empresa tiver profissionais diferentes, mais ela vai conseguir entender o cliente, que já é diverso. Além de padrões, como cor, idade, sexo, vale também o pensamento diferente — ressalta.
Crismeri aponta duas tendências que provam a importância da pluralidade na formação de uma equipe dentro de uma corporação: numa equipe mais homogênea, com experiências semelhantes, a resposta e a produção são mais rápidas no início do processo. Porém, com o passar do tempo, a equipe se torna estável porque as pessoas são iguais, causando a redução do aprendizado e da inovação. Quando a equipe é formada por pessoas com caminhos diferentes, o início pode ser mais lento porque elas precisam se conhecer e se respeitar. Mas a diversidade desse grupo se complementará, gerando uma produção mais qualificada e com inovação.
— A preocupação com a diversidade é ainda algo novo nas empresas, mas elas estão acordando. Nas minhas aulas, sempre trago essa questão. O tema sempre é o que mais chama atenção durante o curso. Ainda precisamos falar muito sobre isso — afirma Crismeri.
Quanto mais uma empresa tiver profissionais diferentes, mais ela vai conseguir entender o cliente, que já é diverso. Além de padrões, como cor, idade, sexo, vale também o pensamento diferente
CRISMERI DELFINO CORREA
Presidente da ABRH-RS
Referência em transformação digital e inovação em RH, Andressa Paltiano destaca que as empresas estão buscando pessoas com propósito social, com uma causa, por exemplo, mais do que apenas a experiência que elas têm na função.
— As empresas estão olhando um pouco além quando falamos de pessoas. Não é simplesmente atingir um objetivo financeiro. O posicionamento das empresas também gera retorno — completa.
Andressa, assim como Crismeri, é favorável à movimentação realizada por Magazine Luiza e Bayer. Para ela, são importantes todas as ações que vêm para agregar. A diversidade, apontam os especialistas em recursos humanos, colabora para que sejam desenvolvidas habilidades como empatia e resiliência entre os colaboradores.
No ano passado, o Sebrae listou o especialista em diversidade entre as 10 profissões do futuro na área de humanas. Mesmo resultado ocorreu num levantamento realizado pela Robert Half, uma das maiores empresas de recrutamento especializado no mundo. A pesquisa ouviu 2.909 gerentes de operações de companhias em diversos países — destes, 300 no Brasil. O especialista em diversidade é o responsável pela retenção de funcionários e atração de novos talentos, garantindo a existência da diversidade de gênero, raça e cultura na empresa. Entre as especificidades da função, é preciso ser hábil na comunicação com diferentes níveis hierárquicos, carismático, multitarefa e sensível ao clima organizacional. O salário, segundo a Robert Half, pode chegar a R$ 25 mil, dependendo do tamanho da empresa.