A decisão da Magazine Luiza em colocar apenas negros no próximo programa de trainees está entre os assuntos mais comentados do momento no Twitter neste sábado (19). A decisão da empresa abriu uma disputa nas redes sociais entre os que elogiam a medida e aqueles que acusam a Magalu de "racismo reverso" com brancos, usando a hashtag #MagazineLuizaRacista.
Dentre os críticos, estão o vice-líder do governo na Câmara, Carlos Jordy. O deputado federal (PSL-RJ) afirmou que está entrando com representação no Ministério Público contra a empresa para que seja apurado crime de racismo. O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, faz coro às acusações de racismo.
"Magazine Luiza terá que instituir Tribunal Racial no seu RH para evitar que pardos e brancos consigam fraudar o processo seletivo que é exclusivo para pretos. Portanto, terá que fazer a análise do fenótipo dos candidatos, prática identificada com o nazismo."
Já a deputada federal Benedita da Silva (PT) compartilhou matéria sobre o programa de trainee em sua conta na rede social e destacou o trecho em que a companhia diz ter 53% de pretos e pardos em seu quadro de funcionários, mas apenas 16% deles em cargos de liderança.
"O alerta despertado por essa baixa participação fez com que o Magalu decidisse atuar, oferecendo oportunidades para quem ainda está começando a carreira", reforçou a empresa ao anunciar a abertura de inscrições exclusivas para negros.
"O objetivo é trazer mais diversidade racial para os cargos de liderança da companhia, recrutando universitários e recém-formados de todo Brasil, no início da vida profissional", disse a empresa.
Iniciativa em momento de diferenças raciais e sociais escancaradas
Para a consultora e professora de MBA na área de Recursos Humanos, Jorgete Lemos, a iniciativa vem em um momento no qual as diferenças sociais e raciais ficaram escancaradas, tanto em razão da pandemia, quanto em virtude das manifestações antirracistas americanas. Movimentos como o Black Lives Matter voltaram com força em todo o mundo este ano, após o assassinato do americano George Floyd.
Segundo a especialista, além de estar sensível a uma preocupação que é global, a varejista deverá ter ganhos na ponta do lápis.
— As empresas favorecem seu próprio negócio quando reduzem a desigualdade — garante Jorgete.
Vários estudos acadêmicos comprovam os ganhos financeiros quando o quadro de empregados é mais diverso. Além disso, para ela, o desenvolvimento econômico do país só virá quando a população negra for incluída economicamente:
— Estamos falando de cerca de 57% da população.
A professora da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pesquisadora em racismo e seus efeitos no mercado de trabalho, Alessandra Benedito, chama a atenção para o fato de que processos deste tipo ajudam o crescimento profissional dos jovens contratados.
Para ela, ações afirmativas são, por natureza, temporárias, com o sentido de reduzir desigualdades históricas:
— Ações afirmativas não são permanentes. Devem existir enquanto existe o processo de exclusão.
Regras
As inscrições para o programa de trainee do Magalu tiveram início na sexta-feira e podem participar profissionais formados entre dezembro de 2017 e dezembro 2020, em qualquer curso superior. O conhecimento em língua inglesa e experiência profissional anterior não fazem parte dos pré-requisitos para a seleção.
O processo seletivo será dividido em seis etapas. A seleção começará com testes online. Em seguida, os candidatos passarão pela etapa que consiste na gravação de um vídeo de apresentação profissional e por entrevistas com o departamento de recursos humanos.
Aqueles que seguirem no processo serão entrevistados por diretores de área e, depois, pela diretoria executiva. Os finalistas participarão de uma conversa com o presidente da empresa, Frederico Trajano.
O programa de trainees 2021 foi desenvolvido em parceria com as consultorias Indique Uma Preta e Goldenberg, Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), Faculdade Zumbi dos Palmares e Comitê de Igualdade Racial do Mulheres do Brasil.