A decisão do governo do Estado de sugerir um calendário de retomada gradual das aulas no Rio Grande do Sul divide as opiniões de pais e mães de estudantes. Mesmo que a proposta ainda esteja em discussão e, inicialmente, as aulas fossem retomadas somente em regiões com bandeiras amarela e laranja, não há consenso entre os responsáveis pelos alunos.
Pais e mães contra a retomada das aulas citam argumentos semelhantes aos de professores: os protocolos definidos pelas autoridades não seriam suficientes para assegurar a saúde de todos.
O risco de crianças assintomáticas contaminarem colegas, professores e, em última instância, familiares com comorbidades preocupa a advogada Cassiana Lipp João, mãe de Cássio, de 11 anos e matriculado no Ensino Fundamental de uma escola particular de Porto Alegre.
Ela é uma das organizadoras do grupo Direito ao Ensino Não Presencial na Pandemia, que tem mais de 6 mil membros no Facebook e que criou um abaixo-assinado contra a retomada do ensino, subscrito por quase 75 mil pessoas.
— Por mais que a criança tenha menos possibilidade de desenvolver sintomas graves, ela é vetor de infecção. A gente sabe que o ensino remoto não é o ideal agora, mas depois isso pode se recuperar. Mortes, a gente não recupera. Quando uma só criança se contaminar, vão ter que fechar toda a escola porque não vai dar para saber quem mais estiver contaminado, como fizeram no Maranhão. Não é hora de retomar, o foco é proteger as crianças. É uma correria ter filho em casa, mas a gente de adapta, eu vou fazer de tudo para proteger a vida do meu — afirma a advogada.
Por outro lado, há pais que defendem a retomada gradual das aulas, mesmo que seja apenas nas instituições privadas. É o caso da médica patologista Francine Hehn de Oliveira, de Porto Alegre, mãe de Leonardo, de quatro anos. O menino frequenta a Educação Infantil há dois anos, numa escola bilíngue da Capital. Francine afirma ter percebido uma mudança de comportamento no menino que considera ser em função da falta da escola.
— Ele pergunta todos os dias quando o coronavírus vai embora para poder voltar à escolinha. O Leonardo está com mais dificuldades de seguir regras, de brincar com outras crianças, passou a ter pesadelos, sono e dificuldade para dormir. Está sendo um período de perdas importantes para o meu filho — conta Francine.
Antes da pandemia, o menino ficava com a babá no período da manhã e frequentava a escola à tarde. Desde o início do distanciamento social, a babá passou a cuidar de Leonardo nos dois turnos. Nos finais de semana, o menino fica com a família.
Francine afirma compreender as dificuldades enfrentadas pela rede pública, mas ressalta que isso não deveria barrar o retorno das escolas privadas.
— Socialmente, não sei se este meu pensamento é egoísta, porque todos deveriam ter o mesmo acesso, mas isso não é um problema que vou resolver como mãe e cidadã. O meu olhar é que as escolas que tiverem condições de apresentar um programa com um mínimo de segurança em sala de aula deveriam ter a oportunidade de retomar, e os pais decidiriam se mandariam ou não os filhos. Eu já defini: se as aulas retornarem, o meu filho vai voltar para a escolinha — argumenta.
O Ministério Público Estadual é favorável à construção de um calendário para a volta das aulas presenciais. No entanto, condiciona isso à oferta da possibilidade de ensino remoto para famílias e estudantes que não se sintam seguros com a retomada de atividades em escolas e universidades. Segundo a promotora Denise Villela, coordenadora do Centro de Apoio da Infância, Juventude, Educação, Família e Sucessões, é fundamental que seja respeitado o direito de ensino remoto e que sejam cumpridos rigorosamente todos os protocolos de segurança no ensino presencial.
O Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS) também aprova a proposta de retomada das aulas presenciais que foi divulgada pelo governo do Estado e considera seguros os protocolos criados pelas instituições escolares.
Para o infectologista Alexandre Zavascki, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e consultor para assuntos de covid-19 na Sociedade Riograndense de Infectologia (SRGI), a retomada das aulas no Estado, neste momento, será como uma segunda força para a progressão da doença no Estado.
— O retorno das escolas deveria ser o último assunto em pauta após a região ter o controle da epidemia. Enquanto estivermos com nível alto de transmissão, que é a nossa situação atual no Estado, não é seguro enviar o filho para a escola. Se a criança não adoecer, pode ser infectada e vir a transmitir para outros membros da família uma doença potencialmente fatal — alerta o infectologista.
Confira, abaixo, as opiniões de outros pais:
CONTRA
"Ouvi dizer que nós pais teremos o direto de escolher mandar os filhos ou não para a escola, portando eu escolho não. O vírus continua por aí se espalhando mais ainda porque muitos não estão dando bola e continuam com aglomerações em praças, shoppings e lojas. As crianças por mais cuidados que teriam eles não manteriam a distância do coleguinha, um lápis ou uma borracha seria emprestada. As professoras não teriam tempo de ficar em cia de todos em uma sala de aula com cerca de 25 alunos para mais. E a higienização da escola? Teria quantas pessoas para fazer isso? Eu opto por não mandar meus filhos para escola." Gabriela Fagundes
"As escolas públicas não tem estrutura nem sem o vírus, imagina com o vírus. Minha filha não volta esse ano."
Grazi Hassen
"Discordo muito dessa decisão! Sou mãe e professora, e conhecendo a nossa realidade, com salas lotadas não vejo como voltar, selecionando um público diariamente, que assista ou não a aula. Inviável isso! E entendo que o trabalho com os pequenos é muito delicado, pois atua na sala da escola infantil, acho mais arriscado ainda. Principalmente porque eles não dependem de progressão escolar de ano ou serie, deveriam ser os que ficassem protegidos por mais tempo, em suas casas ou com que as famílias podem deixar. Se tivermos que voltar, a partir de uma ordem, faremos. Mas estaremos correndo risco e colocando em risco outras vidas inocentes."
Cris Silva
A FAVOR
"Penso que já está na hora das crianças voltarem as aulas, principalmente na pré-escola e séries iniciais, pois se nós pais podemos voltar ao trabalho, é onde deixaremos nossos filhos com mais segurança. Pois assim como está atualmente, a cada dia deixando os filhos em algum lugar diferente, oferece-se mais riscos às famílias do que se estivessem em um ambiente controlado com as pré escolas."
Rafael Santos
"Está na hora de priorizarmos as crianças que estão em casa a meio ano. Elas devem voltar! Com segurança e protocolos."
Antonela Solé
"Ótimo, devemos retomar as aulas para aqueles pais que precisam trabalhar e não tem salário garantido. Aqueles que não têm certeza devem deixar as crianças em casa, com avós ou cuidadoras. Professores que não estão aptos devem ver no que conseguem se enquadrar e deixar o caminho livre para aqueles que desejam voltar, não deve se obrigar o caminho é livre. O certo é que a escola é apoio as famílias trabalhadoras e o estado deve começar a crescer para inclusive angariar recursos com impostos para pagar o funcionalismo, isso deve ser pensado. Os impostos pagos pelo povo gaúcho servem para termos escolas abertas, hospitais ( funcionários de risco), SAMU, brigada, polícia, prefeitos, funcionários municipais como estaduais. Srs. estes estão trabalhando e porque somente a educação tem medo... (PENSEMOS)."
Angelo Sperb