A diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Claudia Costin, afirma que o distanciamento social causado pela pandemia de coronavírus reformou a necessidade de o governo ampliar a conetividade dos domicílios. Em entrevista ao Estúdio Gaúcha, na noite desta quarta-feira (20), a diretora destacou que essa facilitação do acesso à internet auxilia a educação e outras áreas:
— Ficou muito claro nessa emergência a urgência do poder público oferecer internet ou garantir conectividade, para ser mais precisa, a todos os domicílios mediante alguma taxa. Mas conseguir que todos os domicílios estejam conectados. Não é só por conta da educação. É por conta da telemedicina e de outras coisas — pontuou.
Segundo Claudia, é interessante pensar em um contexto onde a internet também pode ser uma aliada para complementar o ensino presencial.
A diretora disse que a diversidade de ferramentas é importante para garantir maior efetividade no ensino a distância, necessário durante a pandemia de coronavírus. Claudia salientou a boa atuação de professores no Brasil mesmo sem as condições ideais para aulas remotas:
— Essa diversidade de mídias é importante em um contexto que, da mesma maneira em que na saúde, tudo é muito novo a respeito da covid-19. Não era um vírus conhecido pelos profissionais de saúde. Imagine (o impacto na) a educação. Quando as escolas pararam, fecharam, tivemos de organizar aulas remotas sem dominar essas mídias, mas tendo de dar uma resposta efetiva. E é impressionante o que milhares de professores no Brasil estão fazendo em condições, eu diria, mesmo precárias, porque não houve tempo de preparação.
Segundo Claudia, o uso de mídias como a televisão e o rádio, efetivado em alguns Estados, também é importante nesse processo.
Destacando exemplos de boa atuação dos professores no ensino remoto em alguns Estados, como São Paulo, Maranhão, Goiás e Amazonas, a diretora afirmou que essa nova forma de ensinar pode render bons frutos no futuro:
— A criatividade que os professores vêm mostrando nessas mídias mostra que se, na volta às aulas, a gente conseguir fazer cursos bem mais aprofundados nós teremos inaugurado uma nova escola depois desse processo.
Em relação ao futuro da educação pós-pandemia no Brasil, a diretora diz que é otimista, estimando uma melhora no uso da tecnologia no ensino, qualificando o serviço.
— O novo normal vai ser um normal em que, acredito eu, os professores vão poder ter um uso muito melhor de suas competências digitais para poder desenvolvê-las nos alunos.
Claudia Costin salientou que a excelência no ensino tem de ser universal e não registrada apenas em "ilhas".
Em relação à possibilidade de evasão escolar no período pós-pandemia, os governos têm de se articular para manter o vínculo dos alunos com a escola e a recuperação desses jovens para evitar esse problema, segundo a especialista.
Parcerias público-privadas
A diretora afirma que existem inúmeras possibilidades de parcerias público-privadas para qualificar o ensino, mas que o mais importante é o apoio aos professores nesse processo.
— A parceria nesse sentido ao qual eu me refiro é muito importante, mas a parceria mais importante que as redes de ensino têm de ter é com seus próprios professores. Os professores, em um momento de risco de aprofundamento das desigualdades sociais tão grandes, como a gente está vivendo agora, é que são os grandes heróis dessa situação.
Adiamento do Enem
A professora destacou que o adiamento do Enem é acertado em um cenário onde se cria uma desigualdade no ensino entre os alunos que participam do exame.
— Nós sabíamos que a questão do ensino remoto envolve muito empenho dos professores, diretores de escola, mas elas não são ideias. Então, imagina a dificuldade que é para um jovem que não tem acesso à internet ou que tem um acesso muito limitado, não tem livros em casa e mora em uma casa em que o repertório cultural da família tem suas limitações. As chances de competir com os demais era muito desafiadora.