Com 23 mil alunos espalhados por 17 campi no Estado, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) ficou entre as 2 mil instituições de Ensino Superior mais bem avaliadas do mundo — ocupa a posição 1.460 —, no World University Rankings, organizado pelo Centro de Classificações Universitárias Mundiais, dos Emirados Árabes Unidos, divulgado em agosto. Na liderança, está a Universidade de Harvard, dos Estados Unidos.
É a primeira vez que um instituto federal de educação do Brasil aparece nesta lista, lançada em 2012 e que avalia, entre outros quesitos, a qualidade da educação, o emprego de ex-alunos e a produção de pesquisa pelas instituições. Entre as brasileiras, ficou com a 35ª colocação.
Confira versão estendida da reportagem em áudio:
O IFRS oferece Ensino Médio integrado (une Ensino Médio e Técnico), Ensino Técnico Subsequente (para quem já fez o Ensino Médio e quer fazer um curso técnico), Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, o Proeja (para jovens e adultos, com Ensino Médico e Técnico), licenciaturas, cursos superiores de tecnologia, bacharelados, engenharias e mestrados profissionais. O corpo docente é composto por 110 pós-doutores, 450 doutores, 511 mestres e 64 especialistas.
O que dizem os alunos sobre o ensino no instituto
Rafaela Moraes Cardoso, 21 anos, formou-se recentemente em Tecnologia em Processos Gerenciais no campus Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Ela conheceu o IFRGS durante o Ensino Médio. O primeiro projeto de Rafaela, que foi bolsista da instituição, tratava de empresas que prosperaram na crise econômica. O segundo, que a levou para um evento de educação no Canadá, sobre o comportamento de consumo nas redes sociais, em especial, no Instagram. Para Rafaela, o desempenho do IFRS neste ranking é resultado de uma ligação muito forte entre os alunos e os professores.
— Todos os professores ficam na mesma sala. Se tu tens alguma dúvida, chega e fala com ele. Está sempre todo mundo receptivo. Todo mundo te ajuda — destaca a jovem.
Estela Maris dos Santos Arruda, 57 anos, está se formando em seu segundo curso no IFRS. Assim como Rafaela, cursou Tecnologia em Processos Gerenciais no campus Viamão. Ressalta a importância da pesquisa na sua formação e o desejo de fazer mestrado.
— Morei toda a vida na área rural. Quando meu filho resolveu que queria estudar, que não queria a vida do campo, vim com ele para Porto Alegre para ele poder fazer a faculdade. E aí me vi na Capital e comecei a trabalhar. Vi que precisava me atualizar. Acredito que não tem idade para voltar a estudar. Então, o instituto nos abraça e nos acolhe em qualquer idade — destaca Estela.
Integração do ensino
Desde 2010 no IFRS, Maria Augusta Martiarena de Oliveira, 38 anos, é professora da área de História do campus Osório, no Litoral Norte, e do curso de mestrado em Educação Profissional e Tecnológica no campus Porto Alegre. Para ela, o diferencial do Instituto Federal em relação a outras instituições está no corpo qualificado de docentes e de técnicos administrativos. Além disso, ressalta a importância da integração do ensino.
— Toda a preocupação que se tem em vincular e tornar indissociável a pesquisa, o ensino e a extensão — relata a professora ao lamentar os cortes feitos pelo Ministério da Educação (MEC) nos orçamentos das instituições de ensino superior.
O IFRS possui 546 alunos envolvidos como bolsistas e voluntários em 416 projetos de pesquisa. Na área de extensão, são 496 estudantes (346 bolsistas e 150 voluntários) em 512 ações. Anderson Luiz Nunes é professor do ensino básico, técnico e tecnológico do Campus Sertão, no norte do Rio Grande do Sul. Para ele, a boa avaliação do IFRS tem relação direta com o empenho no dia a dia dos pesquisadores.
— A pesquisa dentro da instituição é levada bastante a sério pelo corpo docente qualificado — afirma o professor.
Wagner Luiz Priamo é professor do campus Erechim do IFRS, no norte gaúcho. Diz que o quadro de servidores qualificados é fundamental para o bom desempenho da instituição no ranking. Também faz questão de ressaltar o protagonismo dos estudantes.
— O motor de tudo isso são os nossos alunos, que nos dão a cada ingresso a oportunidade para dividirmos com eles um pouquinho do nosso conhecimento — afirma Priamo, que é doutor em Engenharia de Alimentos e tem pós-doutorado pela Wayne State University, dos Estados Unidos.
O curso em que o professor dá aulas ficou com nota máxima em avaliação do Ministério da Educação. O reitor Júlio Xandro Heck destaca que aparecer neste ranking é uma consequência do trabalho realizado:
— No momento do país, em que a educação pública enfrenta grandes desafios e incertezas, é muito bacana a gente receber a notícia de que temos pela primeira vez a presença de um instituto federal nessa lista.
Heck conta que, apesar dos cortes no orçamento que, nos três institutos federais gaúchos chegou a 40%, houve uma decisão institucional em relação às bolsas de estudo:
— Garantir como uma das nossas prioridades o pagamento das bolsas de projetos de ensino, pesquisa e extensão. A gente tem um quantitativo muito grande no instituto de estudantes bolsistas desses projetos que são pagos com dinheiro institucional. Não é recurso que venha de agência de fomento.
Professor desde a criação dos institutos federais do país, afirma ainda que o bom desempenho é resultado de dedicação em diversas aéreas.
— Nosso estudante tem a oportunidade de ficar muito mais horas por dia dentro da instituição do que aquele horário tradicional de aula — destaca o reitor, ao adiantar que as bolsas serão pagas até o fim do ano, mas que cortes em outras áreas da universidade foram e serão feitos.
Pondera que os projetos, no entanto, tiveram prejuízos pela falta de verba. A publicação de artigos científicos pelos professores também é citada pelo reitor como fundamental para tornar o IFRS bem conceituado. Segundo ele, além de consolidar os campi mais jovens, entre os desafios da instituição, está o de enfrentar a grave crise financeira gerada pelo contingenciamento de recursos pelo Ministério da Educação (MEC).