Em meio à crise que inviabiliza o funcionamento da ciência no Brasil, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é a segunda universidade – dentre públicas e privadas de todo o país – que mais teve pesquisas de doutorado vencedoras do Prêmio Capes de Tese 2019. A premiação, cujo resultado foi anunciado na última sexta-feira (6), reconhece as melhores teses de doutorado em 49 áreas do conhecimento.
A UFRGS foi reconhecida com o trabalho de quatro pesquisas de doutorado – todas as cientistas são mulheres. A instituição ficou atrás apenas da Universidade de São Paulo (USP), que ganhou nove prêmios, e empatada com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que também ganharam quatro reconhecimentos.
Na comunidade acadêmica, o Prêmio Capes de Tese é respeitado porque o júri que avalia as pesquisas é composto por cientistas de cada área. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) é uma das principais agências de fomento à pesquisa científica do país.
A UFRGS venceu com teses de doutorado na área de Engenharias (Cláudia Leites Luchese), História (Cláudia Daiane Garcia Molet), Psicologia (Beatriz Schmidt) e Zootecnia/Recursos Pesqueiro (Ana Carina Nogueira Vasconcelos).
A instituição ainda ganhou os prêmios de Menção Honrosa nas áreas de Arquitetura, Artes Cênicas, Música, Física, Comunicação e Informação, Direito e Geografia, totalizando 11 troféus.
— Esse é um prêmio da Capes, mas quem escolhe os premiados são os pesquisadores das próprias áreas. É, portanto, um reconhecimento da comunidade cientifica ao que a UFRGS faz em cada área. Temos quatro prêmios e outras tantas menções honrosas, em um leque enorme de pesquisas. Essa vitalidade reconhecida pelo prêmio é a vitalidade pela qual a comunidade científica brasileira e a UFRGS, em particular, estão lutando. É uma vitalidade que está ameaçada. Essa colocação da UFRGS no Prêmio Capes é um respiro, uma boa notícia no meio de tantas coisas que não são tão boas — afirmou o pró-reitor de Pós-Graduação da UFRGS, Celso Loureiro Chaves.
Outras universidades gaúchas foram premiadas
A UFRGS não foi a única universidade gaúcha premiada. A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) recebeu dois prêmios: na Biotecnologia (Clóvis Moreira Júnior) e Saúde Coletiva (Fernando Pires Hartwig).
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) recebeu um prêmio, na Administração, com a pesquisadora Katiuscia de Fátima Schiemer Vargas.
O reconhecimento ocorre em um contexto de paralisia na ciência brasileira: universidades estão deixando de contratar novos bolsistas e de comprar materiais para pesquisas, atrasando salários de funcionários terceirizados, desativando elevadores e desligando aparelhos de ar-condicionado. Reitores de universidades federais falam em "desastre" e "atraso" na ciência brasileira.
A Capes, responsável pelo prêmio, não deve financiar nenhum novo cientista no ano que vem. O Rio Grande do Sul é o segundo Estado mais afetado com os cortes na agência de fomento: instituições gaúchas perderam R$ 4,7 milhões para custear 725 bolsas de pesquisa.
Outro órgão de financiamento de pesquisas no país, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) está sem dinheiro para pagar os salários de seus quase 80 mil cientistas em setembro. O governo federal afirma que irá repassar mais verbas se a economia brasileira melhorar.