A Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) tem atividades atualmente em 36 espaços entre as 24 unidades pelo Estado. Destes, 23 são emprestados, cinco são alugados e há apenas oito próprios.
O aluguel para utilizar espaços em Porto Alegre (unidade POA, Biblioteca Central e Reitoria), Cruz Alta e Montenegro, engole, por ano, R$ 3,3 milhões.
— (A unidade de Cruz Alta) É um prédio público, porque o IPE (Instituto de Previdência do Estado) é um órgão público e loca um espaço público para uma universidade que também é do Estado. E a CEEE, embora seja uma empresa que esteja ligada ao mercado de energia elétrica, é uma empresa paraestatal, de maioria acionária do Estado — critica o reitor, Leonardo Beroldt, sobre o fato de o governo pagar aluguel de um órgão do Estado (Uergs) para outros do Estado (CEEE e IPE).
E são esses aluguéis os responsáveis por um passivo de R$ 7,9 milhões, acumulados no período 2014-2019 e referentes às unidades Porto Alegre e Biblioteca Central. Para atender às necessidades da universidade, o reitor destaca que precisou fazer escolhas, como não pagar esses aluguéis.
Já entre os locais com cessão de uso, termo de cooperação ou convênio, a maioria é formada por salas em escolas estaduais.
— Nós temos unidades, inclusive, como a de São Francisco de Paula, com situação precária. É uma unidade de uma universidade, e a primeira a ter mestrado na instituição, que está funcionando no espaço de uma escola estadual. O momento requer, por parte da universidade e também de parte do governo e da sociedade, o entendimento de que é preciso criar as condições adequadas para que a universidade possa se consolidar e se expandir — reclama o reitor.
O presidente da Associação dos Docentes da Uergs (Aduergs), Luciano Andreatta, que atua em Porto Alegre, Guaíba e Osório, também lamenta a falta de estrutura própria, argumentando que "não são unidades que tradicionalmente se esperam de uma universidade".
— Seria interessante, por exemplo, um gabinete ou uma sala para cada professor ou para cada dois professores. A gente tem uma estrutura muito espalhada pelos municípios, atendendo cada comunidade. E a gente não tem essa visibilidade em termos de estrutura física que, em geral, as universidades têm — destaca.
O secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia, Luís da Cunha Lamb, ressalta que a universidade tem autonomia e negocia direto com o setor de patrimônio do Estado, e que essas questões não passam pela secretaria, mesmo que a instituição seja vinculada a ela.
Coordenadora de Pós-Graduação da Uergs, Débora Matos também relata que enfrenta dificuldade em relação à infraestrutura. Cita o caso do prédio onde trabalha, em Guaíba, cedido pelo Daer.
— A gente fica limitado a doações e cedências. Caso conseguíssemos uma verba externa, mesmo assim teríamos limitações para ter nossos laboratórios, melhorar a estrutura e criar um ambiente melhor e de qualidade — diz a professora, que ingressou na universidade em 2002, na primeira turma do curso de Engenharia de Sistemas Digitais.
Mais tarde, o curso de sua atuação veio a ser chamado de Engenharia de Computação, e hoje tem como foco os processos de fabricação de chips, projetos de circuitos eletrônicos gerais, desenvolvimento de hardware e software, entre outros. Segundo ela, também há dificuldade de acesso em muitas unidades.
— Em Guaíba, por exemplo, o transporte tem horários limitados e o campus fica um pouco afastado. A gente tem que se programar dentro dessa realidade de acesso. Para quem mora mais distante, se torna um verdadeiro sacrifício.
A pesquisadora Raiana Schirmer Soares estudou no campus de Novo Hamburgo da Uergs entre 2011 e 2017. As dificuldades atuais da Uergs não são novidade para ela, formada em Engenharia de Energia pela instituição.
— Antes se nossos problemas fossem só de dificuldade em provas, questões de intelectualidade. As questões eram: onde estudar, quando você não tem uma sala de estudos, quando você não tem uma biblioteca? Na ocasião, a gente nem computador tinha. Então, era uma luta diária para sobreviver em um ambiente acadêmico e para criar ele — recorda a pesquisadora, que, depois de formada pela Uergs, passou em segundo lugar na prova de mestrado da Universidade de São Paulo (USP).
Hoje, Raiana é mestranda e pesquisadora no Instituto de Energia e Ambiente da USP. Ao longo da carreira, também desenvolveu projetos de estudo na Escócia.
Para Sérgio Roberto Kieling Franco, coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutor em Educação, esse é outro problema para o aprendizado:
— Elas acarretam em laboratórios sem condições de uso. Porque a aula a gente até improvisa, mas quando a gente precisa usar o laboratório, certos cursos não conseguem funcionar sem laboratórios.
O especialista fala sobre os prejuízos aos estudantes, em razão do sucateamento:
— A qualidade da formação vai ficando comprometida. O aluno precisa ter certas experiências no aprendizado que é o que diferencia um curso superior de qualidade e um curso que seja só passando informações. O não compromisso que se vê para que a Uergs possa funcionar a todo o favor certamente acaba repercutindo na qualidade dos alunos.
Proposta de novo espaço
Liderado pelo Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul (Senge-RS) e bem aceito pela Uergs, existe um movimento para utilizar estruturas de extintas fundações pela universidade. O diretor do Senge-RS, engenheiro civil João Leal Vivian, conta que documentos com a proposta estão sendo entregues ao governo do Estado:
— A gente entende que, dentro dessa linha que o governo prevê de economia de custeio, haveria uma economia de R$ 3 milhões por ano com a ida da Uergs para o Cientec- Fundação de Ciência e Tecnologia. Mas aprofundamos esse estudo e podemos chegar de R$ 6 milhões a R$ 7 milhões por ano de economia.
O Senge-RS chegou a esse valor ao somar o aluguel pago por ano pela Uergs para a CEEE e mais o custeio anual do Cientec. Para Vivian, o parque de laboratórios e a área do Cientec seriam "de enorme utilidade para potencializar a Uergs e fomentar ainda mais a educação no Estado".