A tesoura foi afiada nos repasses para a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) em 2019. No Rio Grande do Sul, o valor destinado para a instituição, que é liberado pelo Estado, foi 34,6% menor do que o pedido, no ano anterior, pelo Conselho Superior da Uergs ao governo de José Ivo Sartori (MDB) – de R$ 154,8 milhões, ficou com R$ 101,1 milhões.
Do montante inicial solicitado, a gestão de Sartori cortou 32,4% (R$ 50,2 milhões). Depois, da verba de custeio — valor necessário para os pagamentos de contas como luz, água, telefone, internet e aluguéis, por exemplo, e que era de R$ 13,5 milhões –, Eduardo Leite (PSDB) tirou mais 25,9%. Com isso, a instituição ficou com R$ 53,7 milhões a menos do que pediu.
— Ou seja, o nosso custeio, que já era pequeno, de R$ 13,5 milhões, foi reduzido para uma cota de R$ 10 milhões — queixa-se o reitor, Leonardo Beroldt.
Para mostrar os reflexos disso na universidade estadual, fundada em julho de 2001 pelo então governador Olívio Dutra (PT) e prestes a completar 18 anos, a reportagem de GaúchaZH voltou à instituição seis anos depois da série de reportagens Sucateamento da Uergs. De lá para cá, problemas como déficit de professores e técnicos, formaturas atrasadas, orçamento insuficiente e instalações longe do ideal persistem.
O principal entrave atual apontado por professores, entidades de classe e própria reitoria é a falta de recursos. O orçamento apertado faz com que até mesmo professores e coordenadores de curso corram atrás de formas de contornar a situação. Na pós-graduação de Engenharia, Ciências e Matemática do campus em Guaíba, a necessidade de uma sala multimídia e de auditório qualificado faz com que docentes busquem ajuda junto a deputados para conseguir a verba extra.
— Eu, que sou coordenador, e os outros professores do curso de pós-graduação de Engenharia, Ciências e Matemática em Guaíba, estamos indo atrás de emenda parlamentar, pensando no curto a médio prazo. Porque sabemos que vai ter limitação orçamentária — relata o doutor e mestre em Engenharia Civil e presidente da Associação dos Docentes da Uergs (Aduergs), Luciano Andreatta, professor da Uergs há 16 anos.
Esse esforço constante do corpo docente também é sentido por outros servidores da instituição, como a presidente da Associação dos Servidores Técnicos e de Apoio Administrativo da universidade (Assuergs), Rubia Cristina Nichele Pereira. A auxiliar-administrativa da Uergs diz que só com muita superação para suprir esse problema orçamentário.
— Porque quem está na Uergs é muito engajado e quer o bem da instituição. Com o orçamento reduzido, só assim para a gente conseguir dar conta de todo o serviço que é prestado para a comunidade — sustenta.
Primeiro reitor eleito da universidade, em 2010 (antes, os reitores eram indicados pelo governo), o doutor em Química Fernando Guaragna manifesta preocupação com o atual cenário.
— Esses cortes vão prejudicar fortemente o desempenho da universidade. A Reitoria está propondo cortar a nossa internet corporativa. Considerando o nosso pequeno orçamento, esses cortes são dramáticos — destaca.
Na série de reportagens de 2013, Guaragna e outros três reitores chegaram a defender o enxugamento da instituição a fim de melhorar as condições de educação. Isso não ocorreu. Ao completar a maioridade neste ano, a Uergs segue com 24 unidades espalhadas pelo Estado. Apesar das dificuldades, a universidade tem conceito 4 no Índice Geral de Cursos (IGC) do Ministério da Educação (MEC), que, numa escala de 1 a 5, classifica as universidades brasileiras segundo a qualidade dos cursos de graduação e pós-graduação.