A falta de professores é problema que persiste na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), prejudicando o ritmo de atividades da instituição. São 270 docentes quando o ideal, segundo a própria Uergs, seriam 600 – mais da metade do que tem hoje. O reitor, Leonardo Beroldt, admite que esse é "um grande gargalo da universidade", mas pondera:
— Ao mesmo tempo, chama a atenção que mais de 70% desse corpo docente é formado por doutores. Isso demonstra também a qualificação da universidade.
O reitor lamenta que o déficit de professores atrase formaturas:
— Eu diria que há um número expressivo de cursos inteiros comprometidos pela falta de professores. São disciplinas comprometidas porque não estão sendo ofertadas por algum tempo pela falta de professores.
A reposição de docentes é um pedido recorrente, feito por diferentes reitores. O atual, no cargo desde novembro do ano passado, também já fez a solicitação, que foi negada pelo governo do Estado. Beroldt destaca que até mesmo a contratação de substitutos para professoras em licença-maternidade foi negada.
Doutor e mestre em Engenharia Civil e presidente da Associação dos Docentes da Uergs (Aduergs), Luciano Andreatta relata que a sobrecarga imposta ao quadro prejudica o próprio funcionamento da instituição.
— Porque os professores estão com uma média de alunos por professor de instituição privada, quando, na verdade, nós temos, além disso, uma grande demanda por pós-graduação, por extensão, por atendimento à comunidade e ao desenvolvimento regional — reclama, ressaltando que nas privadas é de 20 a 25, enquanto nas públicas é de 10 a 15.
Andreatta lembra que, na Uergs, a média é de 22 alunos por professor e que existe ainda uma quantidade de horas dispendidas em extensão e atendimento à comunidade. Em relação ao número de técnicos-administrativos, são 190 para atender as 24 unidades e o prédio da Reitoria. Segundo a universidade, o número representa metade do ideal, conforme a Lei 13.968, de 2012.
Ederson Gustavo Ferreira, 23 anos, é estudante do curso de bacharelado em Gestão Ambiental da Uergs, em Tapes, no sul do Estado. Lamenta que diversas vezes os alunos da unidade ficaram sem professores e com o ensino prejudicado.
— Mas, através de várias lutas e reivindicações, a gente conseguiu que outros professores de outras unidades fossem até a nossa unidade para que a turma pudesse progredir e não ficasse tão prejudicada — afirma.
A falta de servidores compromete o ensino principalmente ao quebrar o ritmo dos cursos, acredita Sérgio Roberto Kieling Franco, coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutor em Educação:
— Normalmente, um curso superior é pensado num certo ritmo. E quando começa a ter esse atraso, essas soluções acabam sendo ajustes que não ajudam o aluno a fazer o link correto com as várias áreas do conhecimento.
Sem prazo para contratar professores
Em relação à falta de servidores, Luis Lamb, secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia –pasta a qual a Uergs está vinculada –, afirma que "também é decorrente da crise financeira do Estado":
— Existe uma dificuldade histórica no Rio Grande do Sul de repor quadros, tanto de professores quanto de funcionários da universidade, porque é uma crise crônica do Estado.
Segundo o secretário, não há prazo para contratação de novos docentes.