A Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) entrou com pedido de recuperação judicial na noite de segunda-feira (6). A instituição de ensino enfrenta uma crise desde 2002, quando o endividamento passou a crescer de forma acelerada.
Confira como a universidade chegou à situação atual:
Década de 1990
As dificuldades financeiras da Ulbra começaram a surgir gradativamente na década de 1990 e se agravaram no final dos anos 2000. A área da saúde seria a principal responsável por acumular prejuízos desde seu início, em 1993.
2002 a 2008
Investimentos superiores a R$ 1 bilhão, focados em outras áreas que não a educação, causam aumento do endividamento a níveis acima da capacidade de pagamento da instituição.
2008 a 2010
A Ulbra tenta renegociar a dívida por meio de um plano de recuperação para tentar reverter a crise. Com a perda da imunidade tributária, o endividamento agrava-se substancialmente: os débitos chegam a R$ 5,8 bilhões, em valores corrigidos.
A crise afeta o atendimento hospitalar e de saúde, fazendo com que quatros hospitais — em Porto Alegre, Canoas e Tramandaí — funcionem precariamente, recusando pacientes, fechando UTIs e suspendendo cirurgias.
Automóveis antigos e de luxo no Museu da Tecnologia da Ulbra são lacrados e penhorados por determinação da Justiça Federal de Canoas. Todas as contas bancárias ligadas à Ulbra são bloqueadas.
Com greve de funcionários, alunos sem aula, hospitais quase fechados, protestos diários e uma persistente crise financeira na Ulbra, o Ministério Público Federal (MPF) cogita uma intervenção, posteriormente descartada.
Depois de 44 anos de trabalho, 36 deles como reitor, Ruben Eugen Becker anuncia que não é mais o reitor da instituição. Marcos Ziemer assume em seu lugar.
2010 a 2014
A Justiça Federal transfere os bens penhorados da Ulbra, incluindo prédios e hospitais, para a União.
Os bens do ex-reitor da Ulbra Ruben Becker também são levados a leilão, incluindo veículos e imóveis em Canoas, Xangri-lá e Porto Alegre.
A Ulbra adere ao Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies) e renegocia sua dívida tributária. Pelo acordo, a dívida deve ser paga ao longo de 15 anos, sendo 90% por meio da concessão de bolsas de estudo integrais.
2014 a 2018
Dívidas trabalhistas voltam a engessar a universidade. Para garantir pagamentos, a Justiça determina bloqueios de contas correntes e passa a realizar leilões de ativos, o que leva à liquidação de duas unidades no Estado de Rondônia.
2018
A 7ª Vara Federal de Porto Alegre condena Ruben Becker, ex-reitor da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), e a filha dele, Ana Lúcia Becker, pelo crime de lavagem de dinheiro.
Marcos Ziemer anuncia sua decisão de afastamento da reitoria. Professor e até então vice-reitor da universidade, Ricardo Willy Rieth assume em seu lugar.
2019
Um desligamento em massa, iniciado em janeiro, atinge mais de 600 funcionários — sendo 285 professores — em todos os campi da universidade, segundo estimativas de sindicatos do Ensino Superior do Estado.