Ricardo Vélez Rodríguez não era a primeira opção para o cargo de ministro da Educação no governo de Jair Bolsonaro. Antes dele, outros nomes chegaram a ser cogitados, mas ficaram pelo caminho. Para evitar prejuízos no Congresso, a saída foi requentar uma indicação feita em outubro pelo pensador de direita OIavo de Carvalho.
Após se tornar público o veto da bancada evangélica a Mozart Ramos, não alinhado com bandeiras conservadoras, a equipe de transição entendeu que seria necessária uma rápida solução. Rodríguez foi chamado às pressas de Juiz de Fora (MG), onde leciona, para conversar com Bolsonaro. O futuro ministro gabaritou um virtual exame de proximidade com as posições do próximo governo. Ele cita a necessidade de "refundação" do Ministério da Educação e é crítico do PT e das ideologias de esquerda. Já se posicionou contra as cotas raciais em universidades e a favor do projeto Escola Sem Partido, afirmando que sua aprovação é uma "providência fundamental". Em uma postagem em seu blog, exalta o golpe militar de 1964, classificado como "uma data para lembrar e comemorar".
Apesar de não ser o nome inicialmente defendido pela bancada evangélica, integrantes do grupo saudaram a escolha de Rodríguez. O deputado Éder Mauro (PSD-PA), de discurso conservador, afirmou que se sentiu representado.
— É uma pessoa que vai varrer do meio estudantil todas as impurezas de comunismo, que só ensina um lado da moeda para nossa juventude — disse.
A presidente-executiva do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, diz acreditar que o futuro ministro atenuará o discurso no comando da pasta. Para ela, será preciso ele compreender sua responsabilidade como referência da área.
— O papel do ministro é mais de implementação de políticas e menos de interferência no conteúdo pedagógico — afirma.
Criador do movimento Escola Sem Partido, Miguel Nagib admite que não conhece Rodríguez, mas gostou da primeira manifestação do filósofo, em carta divulgada na sexta-feira. Destaca os valores tradicionais e a preservação da família.
— Ele fala coisas corretas — opina.
Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação, é incisivo. Para ele, a prioridade deve ser alfabetização na idade certa e formação dos professores. Apesar de também desconhecer a atuação de Rodríguez na área da educação, critica o discurso que considera ideológico em excesso.
— Todas as declarações são contra um fantasma, o da doutrinação. Isso não existe ou é muito pequeno. Existe uma pauta positiva que está sendo deixada de lado — afirma.
QUEM É VÉLEZ RODRÌGUEZ
A FORMAÇÃO
Ricardo Vélez Rodríguez, 75 anos, nasceu em Bogotá (Colômbia). Formado em Teologia e Filosofia, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde fez mestrado (1974) e doutorado (1982) na área da Filosofia. Obteve o título de pós-doutor em Ciências Humanas pelo Centro de Pesquisas Políticas Raymond Aron, de Paris.
A CARREIRA
Entre 1975 e 1978, assumiu uma pró-reitoria na Universidade de Medellín. Retornou ao Brasil em 1979, para lecionar em universidades de Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais. Em 2003, recebeu o título de professor emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército.
A OBRA
É autor ou organizador de quase 60 obras. Em 2015, lançou o livro A Grande Mentira - Lula e o Patrimonialismo Petista, em que criticava o PT por tentar impor uma "revolução cultural gramsciana".
O PENSAMENTO
Golpe de 1964: "Esta é uma data para lembrar e comemorar. A esquerda pretende negá-la. Mas não pode. Porque ela foi incorporada à nossa memória como nação".
Enem: "A perpetuação da atual burocracia gramsciana que elaborou, no Inep, as complicadas provas do Enem, entendidas mais como instrumentos de ideologização do que como meios sensatos para auferir a capacitação dos jovens no sistema de ensino".
Projeto Escola Sem Partido: "Esta é uma providência fundamental. O mundo de hoje está submetido, todos sabemos, à tentação totalitária, decorrente de o Estado ocupar todos os espaços, o que tornaria praticamente impossível o exercício da liberdade por parte dos indivíduos".
Conselho de Ética nas escolas: "Todas as escolas deveriam ter os conselhos de ética, que zelassem pela reta educação moral dos alunos. Não se trata de comitês de moralismo, nem de juntas de censura".