Em um cantinho do Brasil, as eleições já se encerraram, e os cidadãos já sabem quem vai assumir a administração municipal. Nesta segunda-feira (1º), os alunos da Educação Infantil do Colégio Farroupilha, em Porto Alegre, participaram do pleito que definiu a prefeita da Minicidade, uma estrutura que imita uma cidade – com loja, restaurante e até pet shop – e que serve de apoio a diversas atividades pedagógicas da instituição. Com um "projeto de governo" bem divertido, Giovanna Padilla Preto de Oliveira, quatro anos, foi eleita com três votos.
— Prometi que vai ter sorvete, picolé e teatro com música. Estou muito feliz — comemorava a vencedora, depois de acompanhar a apuração, ao lado dos coleguinhas do Jardim.
A ideia da votação surgiu depois que a turminha trabalhou a leitura do livro A Eleição dos Bichos, da Companhia das Letrinhas. Na história, escrita e ilustrada por Larissa Ribeiro, André Rodrigues, Paula Desgualdo e Pedro Markun, o leão resolve desviar água de um rio para construir uma piscina na própria toca. A medida do Rei da Selva desagrada aos outros animais, que exigem, então, uma eleição para definir quem será o novo governante.
Cada bicho faz sua campanha e apresenta suas propostas, tal qual fizeram as crianças do Farroupilha, criando, com o apoio das famílias, cartazes e "projetos de governo".
A iniciativa envolveu cerca de 25 crianças entre quatro e cinco anos do Jardim Nível 4C — a penúltima etapa antes do Ensino Fundamental — que apontaram seus desejos para o futuro da Minicidade, como a instituição do Dia da Fantasia, a distribuição de "sorvetes de verdade" e até um "barco pirata com um papagaio dentro".
— A gente queria que eles vivenciassem essa escolha, percebendo que cada um tem sua opinião e que eles devem respeitar a opinião do outro — diz a coordenadora do ensino da Educação Infantil do Colégio Farroupilha, Cleusa Beckel.
A liberdade para o consumo de guloseimas apareceu em uma parte considerável das propostas, assim como espaços de brincadeiras e diversão. Giácomo Rinaldi Fior, cinco anos, preferiu direcionar a campanha para a segurança: prometeu um posto de bombeiros, um da polícia e um de gasolina.
— É que ainda não tem isso na cidade — justificou.
As propostas partiram dos próprios alunos, e todos eram candidatos, mas não valia votar em si, tampouco nulo ou em branco. Como a turma ainda não está alfabetizada, a cédula de votação contava com fotos de todos os participantes, para melhor identificação na urna, devidamente decorada pelos próprios estudantes. Eles ganharam títulos de eleitores feitos em aula e o compromisso de manterem a premissa de que o voto é secreto. Mas Carlos Eduardo Theisen, o Cadu, quatro anos, após deixar a cabine, não se conteve:
— Votei no João Pedro — bradou.
— Não pode falar. O voto é secreto — repreendeu a colega Victória Cogo, quatro anos.
— Meu eu falei só pra ti — disse o menino, referindo-se à repórter.
— Mas eu trabalho num jornal — respondeu a jornalista.
— Então todo mundo vai saber o meu voto? — indagou o menino, antes de sair em disparada para outra brincadeira.
Lições de cidadania
Antes da eleição em si, houve muito trabalho. A leitura de A Eleição dos Bichos foi conduzida em três partes pela professora Cátia Mata. Primeiro, a problemática da atitude do leão, em querer a água só para a sua toca; depois, a mobilização dos outros animais em buscar um novo representante; e, por fim, a votação. Nessas etapas, as crianças descobriram o que faz um prefeito e a importância de todos na construção da sociedade. Tanto que, além de escolherem seus candidatos, as crianças também definiram o papel de cada uma no local, reunindo esforços dentro de cada profissão escolhida.
— Eles entendem o coletivo, que é preciso pensar em todos, mesmo que nem todos tenham a mesma opinião. Eles sabem que o prefeito não ficará sozinho — conta Cátia.
Esta é a primeira eleição da Minicidade do Farroupilha, espaço inaugurado neste ano e organizado em conjunto com os alunos. A ideia é levar para outras turmas a experiência do pleito e da participação nos rumos do lugar.