Conhecidos como nativos digitais, os integrantes da geração Z — nascidos entre a segunda metade da década de 1990 e 2010 — enfrentam diferentes desafios no momento de definir suas carreiras e ingressar no mercado de trabalho. Especialistas apontam que a peça-chave para lidar com esse processo é o autoconhecimento, mas também destacam a importância de explorar as oportunidades e investir no desenvolvimento de habilidades técnicas e socioemocionais.
De acordo com a psicóloga Thaline da Cunha Moreira, consultora do PUCRS Carreiras e vice-presidente da Associação Brasileira de Orientação Profissional e de Carreira (Abraopc), os jovens dessa geração apresentam características específicas, priorizando seus valores e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. O imediatismo e a dependência dos pais são outros pontos que chamam a atenção e podem atrapalhar o processo de autoconhecimento e desenvolvimento:
— A geração Z tem essa coisa do imediatismo, quer as respostas para ontem. Ao mesmo tempo, zela pela família, por ter tempo em casa, por cuidar da saúde e por seu propósito de vida. São pessoas que cresceram com a geração anterior extremamente focada no trabalho, às vezes, ausente do convívio familiar, então sabem que não querem ser assim. Têm um limite mais estabelecido, vão entregar o que foi pedido.
Graça Costi, diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) concorda que esse grupo é bastante focado em vagas que ofereçam flexibilidade e tenham um propósito claro, nas quais possam se desenvolver e promover um impacto social positivo no mundo. Mas também há uma certa rigidez nesse aspecto: muitos têm clareza sobre seus objetivos, mas desejam alcançá-los em um prazo muito curto. Caso isso não ocorra ou o emprego fuja um pouco do que é esperado, logo decidem buscar outra oportunidade.
— Já no mercado de trabalho, vejo também uma certa insegurança nas tomadas de decisão e uma necessidade de se apoiar muito nas outras pessoas. Acho que tem a ver com esse viés digital, que afasta as pessoas do confronto com a realidade, porque o virtual é mais seguro, a pessoa fica menos exposta. Então, os medos e inseguranças se afloram, e isso precisa ser desenvolvido — comenta Graça.
Para poder refletir sobre suas habilidades e aspectos que precisam ser melhorados, as especialistas reforçam a importância do autoconhecimento. Conforme Thaline, é essencial identificar seus interesses e valores e observar as possibilidades de carreira disponíveis no mercado de trabalho para entender se as vagas são compatíveis com o seu perfil. Mas essa tomada de decisão pode ser difícil, já que muitos jovens têm dificuldade de reconhecer suas características e traçar um plano de carreira.
Coragem para mudar
Nesse cenário, os serviços de orientação profissional podem ser fundamentais. Lucas Espindola da Silveira, 22 anos, passou por uma consultoria no PUCRS Carreiras recentemente e garante que a experiência foi essencial para descobrir o que considera importante e o que busca para seu futuro.
O jovem conta que cursava Gestão de Recursos Humanos e Educação Física quando ganhou uma bolsa de estudos na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e decidiu recomeçar a última graduação do zero. Ele já trabalhava como professor de aulas coletivas em academias havia cerca de dois anos, mas sentia que "faltava alguma coisa". Por isso, buscou ajuda.
— Toda sessão tinha atividades incríveis, em que eu precisava entregar o máximo de mim, com foco no autoconhecimento. Descobri que gosto da Fisioterapia, que era um curso que tinha vontade, mas ignorava, porque não tinha coragem de mudar. Quero ser especialista em traumato-ortopedia, então vou trocar de curso. Pesquisamos muito e fizemos um planejamento incrível — relata o estudante.
Confira dicas das especialistas
- Reflita sobre seus valores, interesses e habilidades. Avalie o que é importante e inegociável para você. Estabeleça metas e objetivos claros
- Alguns testes podem ajudar no processo de autoconhecimento. Graça Costi indica um de perfil de forças de caráter (psicopositiva.org/via) e um de inteligência positiva (companhiadasletras.com.br/testeinteligenciapositiva)
- Pesquise como está o mercado de trabalho, veja as vagas disponíveis e explore as possibilidades de carreira
- Conecte-se com profissionais de sua área de interesse e experimente diferentes oportunidades para se desenvolver
- Evite os chamados testes vocacionais, que costumam indicar uma profissão conforme suas respostas. Especialistas reforçam que o processo de orientação profissional é mais indicado para esse objetivo
- Estude sobre a vaga e a empresa antes da entrevista. Se tiver oportunidade de falar diretamente com os líderes da empresa, não envie mensagens invasivas ou sem contexto
- Seja cordial, se apresente e explique seu objetivo
- Não delegue essas funções a outras pessoas. Todos os movimentos em busca de oportunidades de trabalho _seja contato com a empresa ou entrevista _ devem ser feitos unicamente por você
- Cuide a roupa que utilizará na entrevista, mesmo que seja online. Pondere suas respostas durante a conversa com os recrutadores. Há oficinas que ajudam na preparação para esse processo, inclusive com simulações
- Reflita sobre os feedbacks que receber e veja se há adaptações de comportamento necessárias ou habilidades a serem desenvolvidas
- Esteja aberto para se adaptar às mudanças e explorar novas áreas, mesmo que sejam diferentes do que planejou inicialmente