O ataque a uma creche de Blumenau (SC) que deixou quatro crianças mortas deu novo impulso a propostas para que seguranças armados passem a fazer parte do ambiente escolar no Brasil ao lado de alunos, professores e funcionários sob a justificativa de coibir atentados. Especialistas ouvidos por GZH, porém, alegam que faltam evidências concretas de que medidas neste sentido tenham efeito positivo.
A reportagem reuniu dicas de especialistas que podem aumentar a segurança de alunos e prevenir ataques em escolas. Foram ouvidos o sociólogo associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da Escola de Direito da PUCRS Rodrigo Azevedo, a socióloga Aline Kerber, especialista em Segurança Pública e Prevenção da Violência na Escola, e o doutor em Sociologia, professor universitário e especialista em segurança pública Marcos Rolim.
Ambiente escolar saudável
Um levantamento do Instituto Sou da Paz envolvendo 12 ataques realizados com armas de fogo nas últimas duas décadas mostrou que, em oito ocasiões, o agressor era aluno da instituição atingida, e em outras quatro era ex-aluno. Frequentemente, o autor sofreu alguma forma de bullying no ambiente escolar ou manifestava alguma tendência de ódio. Ambientes que estimulam a convivência harmônica e a capacidade de se colocar no lugar do outro reduzem o risco de radicalização.
Monitoramento de atividades online
Fóruns de internet e redes sociais se transformaram em um dos focos de mobilização e radicalização de jovens, que muitas vezes abraçam discursos de ódio contra mulheres, negros, gays, entre outros perfis, e se tornam adeptos de ideologias extremistas. Marcos Rolim afirma que os mesmos algoritmos usados pelas grandes corporações para rastrear padrões de navegação e oferecer publicidade direcionada, por exemplo, poderia ajudar a identificar potenciais agressores online.
Investigação de grupos radicais
Por vezes, os autores de ataques a escolas se filiam a grupos radicais como células neonazistas. Em massacres como o de Aracruz (ES), no ano passado, o autor ostentava um símbolo nazista. A intensificação do trabalho de inteligência e do monitoramento de grupos radicais por parte das forças de segurança é outra medida capaz de prevenir atos violentos. O Ministério da Justiça anunciou recentemente que a Polícia Federal vai reforçar esse tipo de investigação.
Controle de acesso
Aumentar o controle sobre quem pode ingressar no ambiente escolar é uma forma de elevar a segurança de alunos, professores e funcionários, embora não seja uma solução por si só. Muitas vezes, o autor do atentado é aluno do colégio ou tem ligações com a escola. Outra medida é dificultar o acesso de quem não tem autorização para entrar, o que pode incluir desde o cuidado com a portaria até um projeto arquitetônico adequado, com muros que não sejam facilmente superados, por exemplo.
Cuidado com saúde mental
Muitos dos autores de massacres em escola apresentam problemas envolvendo a saúde mental. Aumentar a percepção sobre esse tipo de ocorrência, seja no ambiente familiar ou escolar, e oferecer encaminhamento a assistência adequada é uma forma de prevenir ações violentas. Para isso, também é importante contar com uma rede capaz de proporcionar o atendimento.