Mulheres, povos tradicionais que formaram o Brasil, como indígenas e quilombolas, e muita crítica social: esse é um resumo da primeira etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizada neste domingo (13), quando os candidatos se debruçaram sobre as provas de Linguagens e Ciências Humanas, totalizando 90 questões, além de encararem a redação.
Para os professores do cursinho preparatório Me Salva!, a primeira fase da maior avaliação educacional do país foi de análise social, sem perder o padrão de exigência. O tema da redação seguiu na mesma linha: os 3,4 milhões de participantes tiveram de escrever um texto sobre os desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais do Brasil. A ideia era que articulassem a respeito da importância dessas populações, apontando uma saída para sua preservação.
Como apoio para fundamentar a argumentação dos candidatos, a redação apresentava textos que falavam sobre pescadores artesanais, as quebradeiras de coco babaçu, apanhadores de flores sempre-vivas, caatingueiros, povos ciganos e de terreiros, ribeirinhos, além dos já mencionados indígenas e quilombolas.
— O tema da redação foi muito pertinente. É para abrirmos os olhos, já que são povos importantes, formadores da nossa identidade — diz o professor Patryk Galvan, de Linguagens.
Reflexões sobre o papel da mulher na sociedade e sobre esteréotipos de gênero estiveram presentes na prova de Linguagens. Segundo o professor Patryk, uma questão mencionando o ditado popular que diz "mulher ao volante, perigo constante" tinha um risco em cima da expressão "perigo constante". Na questão que fazia menção à máxima "homens não choram", era o "não" que estava riscado.
Também estavam lá fragmentos de textos de duas escritoras negras brasileiras, Carolina Maria de Jesus, autora de Quarto de Despejo (1960), e Maria Firmina dos Reis, de Úrsula (1859), sendo que ambas escreveram sobre a condição dos negros no país.
— Numa prova de abrangência tão grande quanto o Enem, romper com padrões estabelecidos, principalmente no âmbito literário, é muito importante. Nosso cânone literário é formado por homens. Quando vemos escritoras na prova do Enem, principalmente negras, é uma forma de sairmos do óbvio, da repetição de valores. Também é um incentivo para que os professores das escolas trabalhem essas artistas em sala de aula — avalia Galvan.
A prova de Ciência Humanas seguiu a mesma toada. Segundo o professor de história Vicente Schneider, tinha muitas questões de geografia e sociologia e menos de história propriamente dita. As perguntas abordavam temas da atualidade, como exclusão social, os movimentos sociais, a questão indígena e a desigualdade racial. No entanto, ficaram de foram grandes momentos da humanidade, como as revoluções e a importância do século 20.
Embora tenha sentido falta de datas e eventos importantes, o professor entende que foi uma boa prova.
— Me preocupa um pouco que temas da história tenham ficado de fora, como a Revolução Francesa e a Guerra Fria. Mas o ponto positivo é que teve a presença da temática indígena e as desigualdades sociais — pondera.
Segundo Schneider, o Enem foge cada vez mais da "decoreba".
— O Enem não se importa com datas. Se importa mais com contradições sociais e problemas sociais — resume.
No próximo domingo (20), os candidatos vão encarar as provas de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e de Matemática e suas Tecnologias, com mais 90 questões para serem destrinchadas.