Pelas salas de aula e corredores da Escola Municipal de Ensino Fundamental São Pedro, no bairro Lomba do Pinheiro, uma professora forjada na Educação de Jovens e Adultos (EJA) demonstra orgulho pela profissão escolhida há quase 15 anos. Aos 57 anos, a ex-serviços gerais de escola, Ana Amélia da Silva, é um exemplo de perseverança.
Dona de casa por mais de 20 anos, Ana Amélia voltou a ter contato com uma escola em 1997, aos 36 anos, ao ser contratada por uma empresa terceirizada para trabalhar na limpeza da instituição onde os filhos estudavam, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint Hilaire, no bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. E por ajudar voluntariamente os professores na lida com os pequenos durante o intervalo, ouviu a sugestão de voltar a estudar e se tornar professora. Mas o medo de recomeçar a fazia negar os convites.
Foram longos quatro anos até ela tomar coragem de retornar aos bancos escolares no mesmo educandário onde trabalhava como serviços gerais. E isso foi possível com a criação da EJA na instituição, onde ela, então, concluiu o Ensino Fundamental. Na sequência, aprovada como agente educacional II - limpeza - num concurso do Estado, ela passou a trabalhar no Centro de Ensino Médio Tiradentes e a cursar o Ensino Médio também pela EJA.
— A EJA é fundamental para pessoas que, como eu, não tiveram a oportunidade de estudar na idade certa. Ela consegue resgatar sonhos e muitas conquistas. Eu sou um exemplo disso — comenta Ana Amélia.
Disposta a levar adiante a ideia de ser professora, ela cursou ainda dois anos de Magistério no Instituto Estadual de Educação Paulo da Gama, antes de ingressar na faculdade de História. Logo no início da graduação, foi aprovada num concurso para lecionar nas séries iniciais em Alvorada.
Mas um momento especial na carreira da professora ocorreria oito anos depois, em 2017, ao retornar à escola Saint Hillaire como professora volante do primeiro, do segundo e do terceiro anos, depois de ser aprovada num concurso municipal da Capital. GZH contou esta história em reportagem, na época. Era como se um ciclo da vida profissional de Ana Amélia se completasse. Ela permaneceu na instituição por mais dois anos até se transferir em definitivo para a EMEF São Pedro, no mesmo bairro.
— Gosto muito do que faço e acredito na minha profissão. Acredito que nós, enquanto educadores, somos fundamentais na construção de um mundo melhor, de formar cidadãos conscientes e responsáveis. Apesar do sucateamento da educação e de toda a falta de amparo que temos, continuo acreditando no nosso trabalho junto às crianças e aos adolescentes — declara Ana Amélia, que diz sentir uma falta de valorização dos professores:
— Hoje em dia, há uma parte da sociedade contra nós. Somos chamados de vagabundos, de aqueles que não querem trabalhar e só querem "ganhar bem". Mas estas pessoas não percebem o quanto estudamos para estar aqui. São anos de graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado.
Pós-graduada em alfabetização e letramento, Ana Amélia hoje atende sete turmas do quarto e quinto anos na EMEF São Pedro e garante que o amor pela licenciatura só aumentou. E ela explica o motivo:
— Cada vez que vejo um aluno superando as dificuldades é uma vitória. Quando passo por um ex-aluno que foi meu há mais tempo, e nem reconheço, mas ele me reconhece e diz que ensinei algo a ele, é gratificante.