Proporcionar mais conforto aos pés dos clientes foi o principal objetivo por trás da criação da empresa, que em seu nome já destaca a intenção: No Bad Shoes (sem sapatos ruins, em português). Na época do lançamento, em janeiro de 2019, o negócio tinha como único produto uma palmilha que torna o uso do salto alto mais confortável. Desde então, foi preciso ampliar o catálogo de itens ofertados para se manter no mercado, mas sem deixar de lado a premissa de promover o bem-estar dos usuários.
Chamada de NOBS, a empresa foi fundada por quatro mulheres, mãe e filhas, no município de Caxias do Sul, na serra gaúcha. A ideia de abrir um empreendimento focado na venda dessas palmilhas surgiu a partir de uma necessidade pessoal, conta Fernanda Sperb Moraes, 31 anos, uma das sócias. Isso porque ela tinha um evento para ir e queria comprar algo que solucionasse o problema do desconforto causado pelo uso de salto por um longo período, mas não encontrou nenhum acessório semelhante no Brasil.
Assim, em 2018, durante um jantar de família, a engenheira ambiental comentou com as irmãs, Daniela e Marcela, e com a mãe, Marilaine Sperb Moraes, 61 anos, sobre esse mercado até então inexplorado no país.
— Elas gostaram bastante da ideia de lançarmos esse produto, que inicialmente seria uma coisa simples. Então, batemos muito na tecla, no início da empresa, das palmilhas de conforto para salto alto mesmo, porque não se via nada parecido por aqui — relembra Fernanda, destacando que, naquele momento, não estavam procurando uma ideia de negócio, mas aproveitaram a oportunidade encontrada.
A palmilha desenvolvida pelas empreendedoras pode ser usada com qualquer tipo de sapato e ajuda a redistribuir os pontos de pressão nos pés, aumentando o conforto. Com um investimento inicial de R$ 200 mil, elas passaram cerca de um ano desenvolvendo a marca e fazendo testes no Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos (IBTeC), até lançar o site da NOBS, em 2019 – sem imaginar que, no ano seguinte, uma pandemia mudaria a rotina de grande da população mundial.
O teletrabalho e a suspensão de eventos sociais tiveram impacto direto no faturamento da empresa, já que, em casa, as mulheres não estavam usando salto alto e davam preferência ao conforto de outros tipos de sapatos. De acordo com Daniela, 36 anos, no início da pandemia, houve meses em que a NOBS faturou em torno de R$ 2 mil.
Atenção ao mercado para vencer as dificuldades
Neste momento, as sócias perceberam que o negócio não iria sobreviver se dependesse apenas das vendas das palmilhas. Para driblar essa primeira grande dificuldade, foi preciso mudar a estratégia e o rumo da empresa, relatam as irmãs, que possuem outros empreendimentos em paralelo à NOBS.
— A empresa era um produto, o próprio nome da marca, toda a abordagem de marketing, foi tudo voltado para a palmilha. Então, esse foi um ponto bem crucial. Lembro que estávamos no escritório da casa do pai e da mãe, reunidas, meio desanimadas, pensando: “Desse jeito não dá, esse custo não vamos conseguir manter. E se a gente tentasse alguma outra coisa, só para não desistir e entregar as cartas na primeira dificuldade?” — conta Daniela, que é designer de interiores.
Apesar de cogitarem o encerramento da empresa diante do problema, as sócias utilizaram a experiência de outros empreendimentos para buscar uma saída. Atentas ao mercado, elas perceberam que ainda havia uma chance e apostaram nisso. Assim, o segundo produto lançado foi uma palmilha de conforto térmico, feita de lã natural, que teve boas vendas e deu ânimo às empreendedoras. Em seguida, a empresa passou a vender pantufas, que, além de confortáveis, eram bonitas.
— Era um produto bem mais simples, mas as pessoas estavam buscando esse conforto em sapatos mais baixos. Foi muito uma questão de observar o novo estilo de vida das pessoas, das mulheres que estavam trabalhando em casa e querendo conforto, mas também queriam estar bonitas. Isso fez com que a gente nunca parasse de pensar em novas possibilidades, tanto que, depois, lançamos os chinelos slides — acrescenta Daniela.
Mas o ponto de virada veio com o lançamento de uma sapatilha térmica usada para intensificar a ação dos cremes hidratantes nos pés, em outubro de 2020. Segundo Marcela, 38 anos, a ideia da mãe, Marilaine, foi o que fez com que a empresa ficasse conhecida e ganhasse destaque nas redes sociais, sendo, inclusive, divulgada por influenciadoras digitais no Instagram, onde conta com mais de 17 mil seguidores. O produto também deu origem a outros itens – cremes para pés e mãos, touca, faixa de cabelo e luvas – que integram a mesma linha voltada aos momentos de autocuidado, como um “spa em casa”.
Marcela explica que os passos da empresa foram guiados por pesquisas sobre as tendências do “novo normal” e as alterações no comportamento dos consumidores, tópicos que foram muito abordados durante a pandemia.
— A gente se atentou muito às pesquisas, a procurar quais produtos estavam sendo mais vendidos. Tivemos acesso a pesquisas que mostravam que fabricantes famosos por salto alto estavam vendendo mais tênis, então começamos a perceber esse movimento e entendemos que isso viria para ficar, não era só uma onda do momento pandemia — afirma a administradora e engenheira eletricista, acrescentando que tendências internacionais também foram observadas nesse processo.
Dicas para avançar no setor
Para o desenvolvimento dos produtos, que têm tecnologias patenteadas, a empresa conta com o apoio de profissionais terceirizados nas áreas de calçados, marketing, cremes e design. A maioria deles é da região da serra gaúcha. Também contrata o serviço de costureiras, que produzem os itens de tecido da linha Hidra Therm.
Hoje, além das quatro sócias, a NOBS tem três funcionárias: a assistente comercial Maiara Müller, a consultora comercial Maria Carolina Angonese e a consultora administrativa Thaís Paravisi Martinotto. O faturamento mensal de aproximadamente R$ 100 mil se dá por meio de vendas para consumidores finais e revendedores de todo o Brasil. A partir do e-commerce, também recebe pedidos de outros países.
As irmãs destacam que, para conseguir avançar neste setor, é preciso estar atento às novidades, buscar diferenciais e entender as necessidades das mulheres – que representam grande parte dos seus clientes. Já para empreender, de forma geral, é fundamental não se acomodar e sempre buscar uma saída diante das dificuldades.
— Um empreendedor nunca deve se estagnar, se conformar. Nós temos esse perfil de sermos muito ativas e de estarmos sempre olhando novas possibilidades. E penso que essa é a grande dica para um negócio: estar aberto e atento às oportunidades, às possibilidades e ter flexibilidade para mudar caso os ventos mudem — opina Daniela.
Marcela acrescenta que um empreendedor deve ter em mente que toda crise é uma oportunidade, que pode trazer visões e alternativas que antes não pareciam existir. A administradora comenta que, antes de ampliar a linha de produtos Hidra Therm e oferecer as luvas, por exemplo, esperaram que esse fosse um desejo de várias pessoas, pois foram resistentes no início, já que a marca era destinada aos pés e um produto para as mãos nem combinaria com o nome da empresa.
Mas, ao ouvir profissionais da área sobre a necessidade – porque muita gente ficou com as mãos mais ressecadas devido ao uso de álcool gel –, decidiram arriscar e tiveram um bom resultado.
— Em primeiro lugar, é preciso estar sempre atento ao mercado, às tendências. Mas, claro, é fundamental que qualquer empreendedor ouça o seu cliente, porque ele sempre vai ter uma contribuição significativa e, se não for o cliente, a gente não tem vendas. Então, tem que ouvir e, se ouvir de mais de uma pessoa a mesma coisa, é porque tem alguma atenção a ser dada naquele ponto — aponta Marcela.
Portanto, o trio acredita que mudar o rumo do negócio também faz parte do percurso e, para que isso ocorra, o empreendedor não pode focar em um único objetivo ou ser resistente às mudanças. De acordo com Daniela, diferentes pontos de vista entre os sócios podem ajudar nesse tipo de situação.
Em relação às novidades e tendências do Exterior, Fernanda salienta que é importante avaliar se os novos produtos estão de acordo com o propósito da marca, que, no caso da NOBS, é conforto, bem-estar e beleza:
— Estamos sempre muito abertas a ouvir o que tem de diferente entre os fornecedores, mas tem que ter um diferencial. Já passaram por nós oportunidades de desenvolver tênis, por exemplo. Mas pensamos: como vamos fazer um tênis que se diferencia de todas as opções que já existem no mercado? Então, não fomos para esse caminho porque vimos que não conseguiríamos seguir a nossa linha.
Impacto digital e futuro da empresa
Empreendedorismo no RS
Com o objetivo de apresentar histórias inspiradoras, a série contará semanalmente as trajetórias de empreendedores que transformaram uma ideia ou um sonho em realidade. Fundadores e sócios de 10 empresas de diferentes cidades gaúchas compartilharão os desafios superados e darão dicas para quem deseja abrir seu próprio negócio nos ramos de tecnologia no campo, saúde, moda, cuidados com o corpo, entre outros.
Como as redes sociais são canais que dão bons retornos para a empresa, as sócias investem na produção de conteúdos e também em parcerias com influenciadoras. Inicialmente, as fotos dos produtos eram produzidas por elas mesmas, em casa, mas também contavam com a ajuda de uma agência. Hoje, uma profissional que trabalha com marketing de moda auxilia nas ações digitais, conforme a necessidade da NOBS.
— Sempre valorizamos muito a imagem da empresa de modo geral, não só nas redes sociais. Tanto que quisemos investir em identidade visual e embalagem, por exemplo, desde o início. Hoje, vendemos bastante por atacado, mas principalmente pelas redes sociais, então precisamos constantemente ter material novo para postar — comenta Fernanda.
A engenheira ambiental acredita que muito do crescimento das redes sociais da empresa se deve à divulgação espontânea das clientes. Mas, quando influenciadoras postam algo sobre os produtos da NOBS, ocorrem aumentos significativos nas vendas – como 500 pedidos em dois dias, quando a influenciadora Marcella Tranchesi fez stories com as sapatilhas.
Esse tipo de ação ajuda a tornar a marca mais conhecida no Brasil, que é um dos maiores desejos das sócias. Marcela aponta que, no último ano, a NOBS teve um bom crescimento, mas, por ser uma empresa jovem, ainda tem muito para avançar. Entre os planos futuros, estão trabalhar com outros grandes e-commerces e internacionalizar a marca.
— Temos esse plano um pouco mais ousado de tornar a marca internacional. Sabemos que ainda tem um caminho bem longo a percorrer para tornar a marca mais conhecida primeiro no Brasil, para depois começar a expandir para fora, mas já fizemos alguns ensaios, temos um plano de exportação pronto, que fizemos com a ajuda do Sebrae, estudos e mapas de países por onde começaríamos. São coisas que estamos planejando aos poucos — finaliza Marcela.