Ter acesso à educação superior ainda é privilégio no Brasil, sendo que a graduação já deixou de ser um diferencial no mercado de trabalho. Para se destacar, profissionais apostam em especializações e MBA (ou pós-graduações lato sensu, academicamente falando). De 2016 a 2019, houve crescimento de 74% no número de alunos que frequentam cursos dessa modalidade, de acordo com estudo do Instituto Semesp, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2019 (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nesse contexto, existem setores em crescimento que já são vistos como tendências para os próximos anos: comunicação, gestão, saúde e Tecnologia da Informação (TI).
A comunicação no âmbito dos negócios é fundamental – e isso já é evidente. Mas, conforme o coordenador regional de pós-graduação da UniRitter, Fabio Lara, o diferencial é conseguir se comunicar de forma alinhada com o perfil da própria audiência, acompanhando a linguagem dos diferentes meios de comunicação que utiliza.
Os problemas complexos que estão surgindo – e a necessidade de descobrir como lidar com eles – tornaram a área da gestão uma tendência. Como gerir o próprio negócio e ser um bom líder em tempos de crise são dilemas do momento. A área da saúde recebeu ampla visibilidade com a pandemia, e funções ligadas às saúdes física e psicológica têm potencial para crescer.
— Acredito que este período restritivo gerou diversas reflexões para as pessoas, dentre elas, a importância de termos um corpo e uma mente saudáveis. Neste cenário, programas de ensino são importantes para capacitar profissionais a lidar com um ambiente pós-pandêmico — afirma Fabio.
Já a TI está presente em todos os espaços: é um mercado em crescimento contínuo. Somente na pandemia, 58% dos negócios brasileiros passaram a investir na presença digital, de acordo com estudo da HostGator (empresa de hospedagem de sites). E o e-commerce cresceu 41% no Brasil em 2020, segundo relatório da consultoria Ebit Nielsen.
A demanda por profissionais do setor cresce igualmente. Aliás, é uma área em que sobram vagas, pois faltam trabalhadores qualificados: nos primeiros quatro meses de 2021, foram abertos 69 mil postos de trabalho, 10 mil a mais do que em todo o 2020, conforme a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom). Big Data, e-commerce, mídias sociais e segurança de dados são alguns dos temas com grande visibilidade e expectativa de empregabilidade atualmente.
Apesar de áreas como comunicação, gestão, saúde e tecnologia da informação serem tendências, não quer dizer que você não possa apostar em outro setor. O importante é ter um propósito.
— Entender “o que quero com esta nova habilidade e/ou conhecimento?” é fundamental para o processo decisório. Acredito que vale investir em qualquer especialização que venha atender a um objetivo pessoal ou profissional — explica Fabio Lara.
Além disso, explorar habilidades interpessoais é cada vez mais indispensável no mercado de trabalho. São as chamadas soft skills: habilidades comportamentais relacionadas à maneira como o profissional lida com o outro e consigo em diferentes situações.
— Elas precisam ser trabalhadas amplamente em qualquer programa de especialização. É crucial que sejam potencializadas e adaptadas para termos uma melhor convivência em grupo, seja em círculos pessoais ou profissionais — enfatiza.
Para a coordenadora do Grupo de Estudos sobre Desenvolvimento de Carreira da PUCRS e presidente da Associação Brasileira de Orientação Profissional, Manoela Ziebell, são tendências as resoluções de problemas ou dificuldades que estamos enfrentando e que persistirão daqui para frente. Por exemplo: bem-estar, saúde mental e promoção de felicidade.
Mercado exige adaptações
Com um mercado de trabalho cada vez mais dinâmico e competitivo, profissionais capacitados abrem mais possibilidades de crescimento em suas carreiras. A adaptação é uma necessidade: a crise, presente desde 2015, pode ser vista como um motivo para o aumento na busca por formação contínua, afinal, são 14,4 milhões de brasileiros desempregados (dado do IBGE referente ao 2º trimestre de 2021). Além disso, 40% dos graduados não conseguem emprego na sua área de formação, segundo a consultoria IDados.
A pandemia também é responsável pelo aumento na procura por pós-graduações lato sensu, conforme Manoela Ziebell:
— Como toda a educação acabou sendo remota, o preconceito com a Educação a Distância (EaD) diminuiu. Um pouco tem a ver com a possibilidade de as pessoas realizarem os cursos, já que antes não tinham tempo. Muitos viram a oportunidade de se atualizar para concorrer a outras posições. E algumas empresas incentivaram seus colaboradores a buscar novas formações.
Tal realidade leva os profissionais a complementarem o conhecimento que têm. Ou, ainda, a aprenderem uma nova função para mudar de área ou emprego. O objetivo é se adaptar à nova realidade do mercado que, constantemente, exige aperfeiçoamento. Além de tendências, novas técnicas e repertório, especializações e MBAs trazem benefícios como networking.
— Talvez seja o ponto mais importante de uma pós-graduação: partilhar vivências e experiências, ter contato com outras pessoas e encontrar referências — sustenta Manoela Ziebell.
Portanto, ficar atento às vagas e tendências do mercado e aos próprios desejos e objetivos profissionais e pessoais são fatores imprescindíveis para escolher um curso de pós lato sensu, quando começar e onde fazer.
Na hora da matrícula, devem ser levadas em conta a qualidade acadêmica e a atualização dos programas de ensino em conformidade com as necessidades do mercado. As possibilidades de escolha são diversas, afinal, o país conta com cerca de 2 mil instituições de Ensino Superior, sendo 91% particulares. Na modalidade presencial, são aproximadamente 53 mil cursos, e na EaD, mais de 15 mil. Os dados são do Instituto Semesp, com base na Pnad Contínua 2019.
* Igor Morandi/Especial