A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) avalia dar início às aulas do primeiro semestre do ano letivo de 2021 em 23 de agosto – e há uma discussão interna sobre a possibilidade de uma data anterior como forma de reduzir o prejuízo à comunidade acadêmica, apurou GZH com fontes da instituição.
A universidade também analisa a possibilidade de as aulas do primeiro semestre terminarem em 23 de dezembro e de que as do segundo período comecem em 31 de janeiro de 2022. As datas para as seleções dos dois semestres letivos ainda estão indefinidas. Neste momento, os alunos da universidade estão cursando o segundo semestre de 2020.
O vestibular precisa ser realizado ao menos 45 dias após a publicação do edital. Já o início das aulas costuma ocorrer entre cinco e sete meses após a liberação do documento, mas o prazo deve cair para dois meses e meio neste ano, segundo a reitoria da universidade.
A UFRGS mudou o processo seletivo para o primeiro semestre do ano letivo de 2021, que usará notas dos últimos quatro anos do vestibular e/ou do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para o segundo semestre do ano letivo, com início em 2022, o vestibular será presencial se houver recuo na pandemia. Se isso não ocorrer, seguirá usando concursos passados, com a inclusão do Enem deste ano, caso o cenário se mantenha de risco.
A indefinição deixa alunos da universidade e vestibulandos sem saber como devem conduzir os estudos.
— Por que o semestre começaria só em agosto? Normalmente, as aulas terminavam no início de dezembro e voltavam em março. Não estamos em ano normal, nosso dezembro será em junho, então devemos voltar em agosto. Mas não vamos ficar parados — afirmou o vice-pró-reitor de Pós-Graduação, Júlio Otávio Jardim Barcello.
A sugestão de datas foi feita pela reitoria em documento encaminhado ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), órgão com dezenas de integrantes que é responsável por decidir, em votação, o calendário acadêmico. Neste momento, um comitê do Cepe analisa a proposta da reitoria para produzir um relatório que será votado no plenário do conselho.
A administração da UFRGS refuta as críticas de integrantes do Conselho Universitário (Consun), órgão máximo de tomada de decisões da instituição, de que o atraso na definição do vestibular ocorreu por causa da reforma administrativa – uma série de mudanças internas com fusões de secretarias que foi iniciada em novembro do ano passado, quando assumiu o reitor Carlos André Bulhões e a vice-reitora, Patricia Pranke.
Em entrevista a GZH, a pró-reitora de Ensino, Cíntia Inês Boll, o vice-pró-reitor de Graduação, Leandro Raizer, e o vice-pró-reitor de Pós-Graduação, Júlio Otávio Jardim Barcellos, afirmam que o vestibular havia sido discutido de setembro a dezembro e que faltava, em fevereiro, apenas o aval do Cepe para a proposta de realizar o processo em maio.
No entanto, dizem, com a piora da pandemia no Rio Grande do Sul e o advento da bandeira preta, o Cepe reprovou a aplicação das provas devido à indefinição do cenário.
— Entre a publicação do edital e o vestibular, normalmente se leva entre cinco e sete meses. O que aconteceu foi que estava tudo pronto, mas houve indefinição para a data. Se houve algum atraso, foi pela alta circulação do vírus. Temos prazos legais a serem atendidos. Não foi em função de troca de servidores ou de sobretrabalho, mas da impossibilidade de se realizar o processo tradicional — declarou Raizer.
Com a suspensão das provas presenciais, afirma Cíntia, a reitoria entregou, em 9 de março, uma proposta para que o vestibular fosse realizado com o uso das notas do Enem – um plano B cogitado caso as provas presenciais fossem canceladas. A proposta foi modificada pelo Consun e passou a incluir, também, as notas de vestibulares dos últimos quatro anos.
— Em fevereiro, o vestibular estava aprovado, só faltava a definição de data. Em 24 de fevereiro, o Cepe não aprovou as datas pela piora da pandemia. O uso do Enem era um plano B, uma possibilidade, mas apostamos que o calendário aprovado pelo Cepe para a prova em fevereiro daria certo. Não queríamos acreditar que não poderíamos realizar o vestibular — diz Cíntia.
Entre as ideias ventiladas, a UFRGS discutiu aplicar uma prova mais enxuta, com dois dias e menos questões, ou uma prova online – esta opção foi refutada após o cancelamento do vestibular da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) nesse modelo pela Justiça.
Cíntia afirma que as mudanças da reforma administrativa não respingaram na organização do processo seletivo, mas aproximaram áreas que, antes, estavam distantes e enfrentavam burocracia desnecessária. A Pró-Reitora de Ensino cita ainda que o número de reclamações na reitoria da UFRGS caiu em comparação ao registrado nos meses anteriores.
— Não houve realocamento de servidores na comissão de ingresso, vinculada ao reitor, que coordena, planeja e acompanha o processo de ingresso de novos estudantes. Não se mudaram fluxos. A única coisa que houve foi uma divisão que estava na Pró-Reitoria de Graduação e foi para a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis para dar celeridade ao processo, mas o trabalho segue acontecendo — diz Cíntia.
— Causa uma estranheza quando alguém entende que um fluxo foi prejudicado. Pelo contrário. Existe um propósito institucional de responder às demandas da sociedade de forma efetiva, com celeridade e cuidado. Quando surge esse momento remoto, surgem novos desafios. Se havia contratos que precisavam de assinaturas e carimbos, agora é com assinatura digital — acrescenta.