Após suspenderem as aulas presenciais em março por causa da pandemia de coronavírus, parte das escolas privadas de Ensino Médio do Rio Grande do Sul retomaram as aulas presenciais nesta segunda-feira (21). A abertura foi puxada pelas instituições mais tradicionais. A adesão ficou baixa, em torno de 50%, mas diretores esperam que a presença aumente ao longo das próximas semanas, conforme os pais ganhem confiança.
Conforme regramento do governo do Estado, a abertura das escolas privadas ocorre apenas nas cidades que permanecem em bandeira laranja há duas semanas – para além do Ensino Médio, estão liberadas as atividades do Técnico. As instituições estaduais voltam em 13 de outubro.
Com o modelo de distanciamento controlado, o Piratini permitiu a volta do Ensino Médio em 13 regiões: Uruguaiana, Capão da Canoa, Taquara, Canoas, Ijuí, Santa Rosa, Pelotas, Bagé, Caxias do Sul, Cachoeira do Sul, Santa Cruz do Sul, Guaíba e Lajeado.
A volta depende de aval das prefeituras e nem todas as cidades liberaram as aulas presenciais – em Pelotas, por exemplo, os alunos só voltam em outubro, e começando pela Educação Infantil.
A baixa adesão de alunos nas escolas ao longo desta segunda-feira pode ser explicada pelo medo dos pais, mas também pela longa burocracia até a reabertura. Não basta a bandeira laranja em 14 dias e a autorização da prefeitura: escolas precisam elaborar medidas sanitárias, comprar equipamentos e treinar funcionários.
Certos rituais são praxe: máscara, aferição da temperatura, divisão das turmas pela metade, frequência em dias intercalados, mesas com 1,5 metro de distância e entrada e saída em portas distintas.
Em Santa Cruz do Sul, apenas o Colégio Mauá voltou, segundo a prefeitura. A adesão foi de 55% dos alunos, e a entrada foi escalonada: a cada 10 minutos, entrava um aluno. Presidente do grêmio estudantil e aluna do terceirão, Camyla Piel, 17 anos, ficou animada e insegura quando confrontada com a chance de voltar à escola. Os rituais de higiene a tranquilizaram.
— No intervalo, todo mundo desceu para o pátio, que é bem grandão, e cada um sentou distanciado para comer e tomar sua água. Quando terminava de comer, a gente botava a máscara e conversava normalmente ao ar livre — conta a jovem.
As aulas presenciais de educação física estão suspensas, os banheiros são higienizados com maior frequência e a compra de lanches na cantina deve ser feita com antecedência pelo WhatsApp, explica o diretor, Nestor Raschen.
— A gente quer evitar tudo que possa ser motivo (de contaminação), como manipulação de dinheiro ou de máquina. Eu diria que foi um dia de emoção, de ver a alegria dos professores e dos alunos — diz Raschen.
Em Caxias do Sul, ao menos três colégios retornaram, um deles somente na Educação Infantil. No São João Batista, apenas 20% dos estudantes do Médio estavam presentes. O coordenador administrativo, Marino Menegat, cita que “com o tempo, os pais irão começar a adquirir confiança”.
No São Carlos, a adesão foi de 53%, e um professor recebeu os estudantes cantando Dias Melhores, da banda Jota Quest. Atender às exigências sanitárias pode parecer cansativo, mas o esforço vale a pena, conforme Bruna Gutierrez, 17.
— É estranho voltar depois de tanto tempo, mas é uma sensação muito boa porque gosto muito de estar no colégio e ver meus colegas e os professores. Estou bem ansiosa e otimista — disse a estudante.
Em uma das salas do 3º ano, o professor Matheus Formehl, 27, ensinava física aos 16 alunos presentes e outros cerca de 16 conectados.
— Vimos que o fato de a educação ter demorado tanto para voltar é reflexo de que não é prioridade no Brasil. Sempre digo que quem vai no supermercado corre mais riscos de contaminação do que aqui. Era mais do que necessário — opina.
Em Lajeado, quatro dos cinco colégios particulares retornaram com o Ensino Médio. Um deles foi o Madre Bárbara, no qual 85 dos 133 estudantes dessa etapa se dividiram em duas turmas. Com um microfone na lapela e uma câmera, o professor de geografia Lucas Schneider deu aula, simultaneamente, para quem estava na sala e em casa.
— É um novo normal: permanecem algumas coisas, como a convivência e as aulas com diálogo mais intenso, mas as condições não permitem um normal total. Mesmo com tudo isso, os estudantes estão muito felizes — afirma Schneider.
Os pais também se entusiasmaram: a volta da filha Manuela, de 16 anos, emocionou a empresária Nicole Heinrichs:
— Os adolescentes ficam perdidos em casa, não têm rotina e ficam de pijama o dia inteiro. Para nós, foi um retorno muito esperado. Ela disse: “Mãe, em casa eu me distraio fácil, mas aqui a gente se concentra” — conta Nicole.
A diretora do Madre Bárbara, Maria Elena Jacques, cita pequenas adaptações, como passar as aulas de artes para uma sala maior e suspender atividades no laboratório de ciências para evitar riscos no manuseio de pipetas. Ela diz que a grande preocupação, em um primeiro momento, é acolher e trabalhar a questão emocional dos jovens.
Em Teutônia, só o Colégio Teutônia optou pelo retorno – e foi na Educação Infantil. A adesão foi de metade dos cem alunos – houve menor anuência por pais de crianças de até três anos. Dentre as medidas de proteção, alunos deixam os calçados na porta de entrada da sala e os brinquedos são higienizados após o uso.
— Esse trabalho de sensibilização da comunidade vem acontecendo há um bom tempo. Voltaremos na quarta-feira (23) com o Médio para termos mais tempo de treinar os colaboradores — afirma o diretor da instituição, Jonas Ruckert.
A prefeitura de Teutônia seguiu a recomendação de especialistas internacionais de ampliar a testagem antes do retorno das aulas para averiguar a saúde da comunidade escolar. O Executivo municipal comprou 6 mil testes rápidos.
— É um projeto pioneiro aqui na região. A ideia é fazer por adesão a todos que retornarão na modalidade presencial — diz Diego Berti Bagestan, técnico-administrativo da Secretaria Municipal da Educação.
Como está o calendário de volta às aulas*
- Educação Infantil: ocorreu em 8 de setembro
- Ensino Médio privado e Ensino Superior: 21 de setembro
- Ensino Médio em escolas estaduais: 13 de outubro
- Ensino Fundamental (anos finais), incluindo rede estadual: 28 de outubro
- Ensino Fundamental (anos iniciais), incluindo rede estadual: 12 de novembro
*Região precisa estar em bandeira laranja há duas semanas e prefeitura deve autorizar a retomada
Colaborou: Eduardo Matos