O governo do Estado apresentou nesta terça-feira (11), a prefeitos, um cronograma de volta às aulas presenciais a partir de 31 de agosto. Tratado como uma sugestão pelo Piratini, o plano causou uma onda de críticas entre sindicatos ligados à educação e infectologistas, além de ter surpreendido gestores municipais — em Porto Alegre, por exemplo, a Secretaria Municipal da Educação já adiantou que não trabalha com nenhuma data de retorno das aulas.
Sindicatos que representam profissionais das redes estadual e privada de ensino consideraram a proposta "irresponsável" e "prematura" — entidades como o Cpers-Sindicato e o Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro-RS) prometem articulação contra o projeto. Já o Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS) vê com bons olhos o plano apresentado pelo Piratini.
A proposta do governo gaúcho é que a Educação Infantil seja a primeira a retomar as aulas. O retorno gradual e escalonado das aulas presenciais ocorrerá somente nas regiões que estiverem em bandeiras amarela ou laranja.
Na tentativa de garantir a segurança contra o coronavírus, está previsto um investimento de cerca de R$ 15,3 milhões em equipamentos de proteção individual para alunos e professores da rede estadual. Seriam mais de 9,8 mil termômetros de testa e 3,5 milhões de máscaras, sendo 328 mil de uso infantil, 1,9 milhão de tamanho infanto-juvenil e 1,3 milhão para adultos (alunos e funcionários).
Representante dos municípios, o presidente da Famurs, Maneco Hassen, disse estar surpreso com a data apresentada pelo Piratini e preocupado com a proposta de retorno daqui a 20 dias.
— Nós ainda nem encerramos o debate das bandeiras (do distanciamento controlado). Hoje (terça-feira, 11), foi publicado o decreto. Ou seja, acabamos de sair de uma polêmica e estamos entrando em outra. Não enxergo a segurança necessária para o retorno das aulas, justamente, neste momento em que os números da pandemia continuam elevados no Estado. Não temos garantia nenhuma de que em 31 de agosto a situação estará melhor — afirma Hassen, que é prefeito de Taquari.
Uma preocupação é com o início das aulas pela Educação Infantil, devido à possibilidade de contaminação no ambiente escolar, considerando que a maioria das crianças é assintomática.
— As crianças menores serão as primeiras a voltar, elas serão com certeza transmissoras da covid-19. Como as crianças normalmente são assintomáticas, esses vírus nelas é invisível, e temos muita preocupação de que os professores sejam bem atingidos com isso — avalia a diretora do Sinpro-RS, Cecília Farias.
Infectologistas também receberam a sugestão com surpresa e preocupação. Segundo Alexandre Zavascki, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e consultor para assuntos de covid-19 na Sociedade Riograndense de Infectologia (SRGI), a sugestão do governo do Estado ocorre no pior momento da pandemia de coronavírus no RS:
— Sinceramente, este tipo de conduta me dá a impressão de que o governo do Estado não entendeu o problema da pandemia ou não está mais com a prioridade à vida. São outros interesses no comando das decisões. Ou, realmente, nunca foi verdadeira a posição do Estado ou agora não são mais as mesmas pessoas que estão tomando as decisões.
Cronograma proposto pelo governo do Estado
- 31/8 – Educação Infantil (público e privado)
- 14/9 – Ensino Superior (público e privado)
- 21/9 – Ensinos Médio e Técnico (público e privado)
- 28/9 – Ensino Fundamental – anos finais (público e privado)
- 8/10 – Ensino Fundamental – anos iniciais (público e privado)